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Aplicativo falso de 'leilão de muçulmanas' revela alto grau da islamofobia e misoginia na Índia

A Índia foi abalada esta semana por uma escandalosa campanha islamofóbica na internet: criminosos criaram um aplicativo no qual postavam fotos de mulheres muçulmanas famosas para, segundo eles, leiloá-las. A polícia prendeu os primeiros suspeitos, mas não foi a primeira vez que este tipo de situação acontece nada Índia, reflexo do vertiginoso crescimento da islamofobia no país. O aplicativo oferecia em leilão mulheres muçulmanas famosas como advogadas, ativistas, jornalistas e pilotos de avião.

Um homem suspeito de estar envolvido na criação do aplicativo que pretendia leiloar mulheres muçulmanas no momento em que foi preso em 7 de janeiro de 2022, em Bombaim.
Um homem suspeito de estar envolvido na criação do aplicativo que pretendia leiloar mulheres muçulmanas no momento em que foi preso em 7 de janeiro de 2022, em Bombaim. REUTERS - NIHARIKA KULKARNI
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Sébastien Farcis, correspondente da RFI em Nova Délhi

O aplicativo Bulli Bai apresentava fotos, às vezes editadas e em posições degradantes, de cerca de 100 mulheres muçulmanas, oferecendo-se para leiloá-las. Nenhuma transação ocorreu antes da aplicação ser retirada da internet. A ferramenta tinha como objetivo principal humilhar mulheres muçulmanas famosas e independentes: os perfis incluíam ativistas, advogadas, uma piloto de avião, assim como muitas jornalistas.

O jornalista de rádio Sayema ​​Rahman foi uma das profissionais de imprensa. “Fomos alvo porque somos mulheres, somos muçulmanas, temos um espírito livre e temos sucesso na vida”, disse ela. Falamos pelos oprimidos, tentamos combater as injustiças e esta é uma campanha organizada para nos silenciar."

Impunidade 

E não é a primeira vez que isso acontece. De fato, em julho passado, quase o mesmo sistema foi usado contra 80 outras mulheres, com um aplicativo chamado Sulli Deals.

Muitas queixas foram prestadas na polícia, mas os inventores do aplicativo sexista e islamofóbico não foram identificados, e ninguém foi preso na época. Isso apesar do fato de um internauta indiano ter sido preso dias depois por simplesmente insultar a filha de um famoso jogador de críquete indiano.

O episódio demonstra o quão pouco a islamofobia e misoginia foram combatidas, ou mesmo são toleradas pela polícia e autoridades indianas, lideradas por nacionalistas hindus. Essa impunidade teria levado os criminosos a reincidir na ofensa, ou outros a seguirem seus passos.

Prisões

Desta vez, no entanto, uma ação mais rápida foi tomada. No estado de Maharashtra, onde está localizada Bombaim, uma parlamentar da oposição federal pediu à polícia que aceitasse o caso e tomasse medidas com base nas muitas queixas apresentadas desde 1º de janeiro de 2022. Em poucos dias, quatro pessoas já foram presas: eles são hindus, têm entre 18 e 21 anos, alguns estudantes de engenharia. O mais difícil de acreditar é que haja uma mulher indiana entre os suspeitos de terem participado dessa campanha misógina.

Enquanto aguardam o julgamento, outra luta tem início na Índia: trata-se do comabte que as mulheres agredidas, "vendidas" em leilão pelo falso aplicativo, lideram atualmente, com suas equipes de trabalho, para manterem a cabeça erguida.

É a mensagem que a jornalista indiana Sayema ​​Rahman tenta passar ao público:  “Famílias e entes queridos não devem dizer a essas mulheres para calarem a boca para evitar serem alvos. Não devemos restringir sua liberdade", insiste. "Pelo contrário, elas são visadas ​​porque têm impacto na sociedade, e, por isso mesmo, temos que apoiá-las", concluiu.

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