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Talibã espera transição pacífica do poder, diz equipe de negociação do grupo

O Talibã espera assumir o controle do Afeganistão "nos próximos dias", declarou neste domingo (15) à BBC um porta-voz do grupo insurgente, enquanto seus combatentes cercam a capital Cabul. O presidente afegão, Ashraf Ghani, deixou o país

Talibãs patrulham ruas de Herat (14/08/21).
Talibãs patrulham ruas de Herat (14/08/21). - AFP
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"Queremos uma transferência pacífica" do poder, disse Suhail Shaheen, que está no Catar como parte da equipe de negociação do grupo.

A OTAN estima que é "mais urgente do que nunca" encontrar uma solução política para o conflito no Afeganistão.

Shaheen expôs os objetivos do Talibã antes de uma transferência de poder: "Queremos um governo islâmico inclusivo, e isso significa que todos os afegãos farão parte desse governo".

"Veremos isso no futuro, à medida que a transferência pacífica estiver ocorrendo", acrescentou.

Ele também garantiu que as embaixadas e trabalhadores estrangeiros não serão alvos dos combatentes do grupo e podem permanecer no país.

"Não haverá risco para diplomatas, ONGs, ninguém. Todos devem continuar seu trabalho como faziam no passado", declarou.

As forças extremistas tomaram rapidamente as principais capitais de províncias nos últimos dias. A ofensiva teve início em maio, quando o presidente norte-americano, Joe Biden, anunciou a retirada das tropas internacionais do Afeganistão até final de agosto. 

Talibã quer “novo capítulo” de tolerância

Rejeitando os temores de que o país mergulhe nos dias sombrios de seu primeiro governo ultraconservador islâmico, Shaheen afirmou que o Talibã buscará um "novo capítulo" de tolerância.

"Queremos trabalhar com qualquer afegão, queremos abrir um novo capítulo de paz, tolerância, coexistência pacífica e unidade nacional para o país e para o povo do Afeganistão", disse.

Muitos oficiais, soldados e policiais se renderam ou abandonaram seus postos, temendo represálias contra qualquer pessoa suspeita de trabalhar com o governo apoiado pelo ocidente ou forças ocidentais.

O porta-voz acrescentou ainda que o grupo revisará sua relação com o Washington, contra o qual trava há décadas uma revolta mortal.

"Essa relação ficou no passado", disse ele. "No futuro, se não interferirem na nossa agenda, será um novo capítulo de cooperação".

Retirada com reforço militar  

Diante do colapso do exército afegão, o presidente americano, Joe Biden, aumentou para 5 mil o número de militares nobilizados no aeroporto de Cabul para retirar diplomatas americanos e civis afegãos que cooperaram com os Estados Unidos e que temem por suas vidas.

O Pentágono estima o número total de pessoas a serem retiradas em cerca de 30 mil.

Como na véspera, os helicópteros americanos continuavam, neste domingo, seus voos entre a embaixada americana, um gigantesco complexo localizado na fortificada "zona verde", no centro da capital, e o aeroporto, agora único caminho para deixar o país.

A embaixada americana ordenou que seu pessoal destruísse documentos e símbolos americanos que poderiam ser usados pelo Talibã "para fins de propaganda".

Londres, por sua vez, anunciou a redistribuição de 600 soldados para ajudar os britânicos a partir. Vários países ocidentais reduzirão sua presença ao mínimo, ou mesmo fecharão temporariamente suas embaixadas.

Mas a Rússia declarou que não planeja esvaziar sua embaixada e disse que trabalha para organizar uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU.

O presidente Biden ameaçou o Talibã com uma resposta "rápida e forte" no caso de um ataque contra os cidadãos americanos durante a operação de evacuação. Mas defendeu sua decisão de encerrar 20 anos de guerra, a mais longa dos Estados Unidos, apesar das críticas da oposição republicana.

Pânico na capital

Em Cabul, o pânico toma conta. Lojas fecharam, engarrafamentos se formaram, policiais foram vistos trocando seus uniformes por roupas civis.

Os bancos estavam lotados de pessoas querendo sacar dinheiro. As ruas também ficaram cheias de veículos com pessoas tentando sair da cidade ou se refugiar em uma área considerada mais segura.

No bairro de Taimani, no centro da capital, o medo, a incerteza e a incompreensão podiam ser lidos nos rostos das pessoas.

“Apreciamos o retorno do Talibã ao Afeganistão, mas esperamos que sua chegada traga paz e não um banho de sangue. Ainda me lembro, de quando era criança, muito jovem, das atrocidades cometidas pelos talibãs", disse à AFP Tariq Nezami, um comerciante de 30 anos.

Muitos afegãos, especialmente na capital, e as mulheres em particular, acostumados com a liberdade de que desfrutaram nos últimos 20 anos, temem um retorno ao poder do Talibã.

Quando governaram o país, entre 1996 e 2001, os Talibãs impuseram sua versão ultra rigorosa da lei islâmica. As mulheres eram proibidas de sair sem um acompanhante masculino e de trabalhar, e as meninas de ir à escola. Mulheres acusadas de crimes como adultério eram açoitadas e apedrejadas.

Ladrões tinham as mãos cortadas, assassinos eram executados em público e homossexuais, mortos.

O Talibã, que tenta transmitir uma imagem mais moderada hoje, tem prometido repetidamente que, se voltar ao poder, respeitará os direitos humanos, especialmente os das mulheres, de acordo com os "valores islâmicos".

Mas nas áreas recém-conquistadas, já foram acusados de muitas atrocidades: assassinato de civis, decapitações, sequestro de adolescentes para casá-las à força.

Papa pede diálogo

O papa Francisco expressou sua "preocupação" com a situação no Afeganistão e pediu um "diálogo" para resolver o conflito em curso.

“Eu me associo à preocupação unânime sobre a situação no Afeganistão”, disse o papa durante sua tradicional oração do Angelus em público na Praça de São Pedro, pedindo orações “para que o choque de armas cesse e por soluções podem ser encontradas no diálogo tabela ".

“Só assim a população martirizada desse país - homens, mulheres, crianças e idosos - poderão regressar às suas casas, para viver em paz e segurança, no pleno respeito mútuo”, afirmou.

(com informações da AFP)

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