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A ofensiva do governo de Putin para silenciar a mídia independente na Rússia

O status de "agente estrangeiro" é cada vez mais usado na Rússia para silenciar e censurar a imprensa independente no país. Trata-se de uma classificação muito restritiva, uma espécie de índex que não se aplica apenas às pessoas jurídicas dos meios de comunicação, mas também aos jornalistas a título pessoal.

Para sobreviver, Meduza pediu a seus leitores que ajudassem a financiá-lo. Por enquanto, o site russo continua funcionando.
Para sobreviver, Meduza pediu a seus leitores que ajudassem a financiá-lo. Por enquanto, o site russo continua funcionando. © Meduza/Capture d'écran
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Daniel Vallot, correspondente da RFI em Moscou

Na Rússia, uma mídia independente classificada pelo governo russo como "agente estrangeira" decidiu encerrar suas atividades: trata-se do site Vtimes, que considera que essa "etiqueta" o priva de receitas de publicidade, e o coloca em um risco jurídico muito grande.

Fundado por ex-jornalistas do Vedomosti, o Vtimes foi o primeiro meio de comunicação russo a fechar as portas devido ao status de "agente estrangeiro", cada vez mais utilizado no país para silenciar a imprensa independente.

O caso Meduza, um escândalo no panorama da mídia russa

“Esta mensagem foi criada por um meio de comunicação que atua como agente estrangeiro”: este é o anúncio que os ouvintes recebem do podcast divulgado pelo site Meduza, classificado como “agente estrangeiro” pelo Kremlin no mês de abril.

Uma frase que o site deve agora anexar a cada uma de suas postagens. “Esta frase é interminável e no Twitter ocupa quase todo o espaço”, reclama Alexei Kovalov, chefe do Departamento de Pesquisa do Meduza. “A consequência foi imediata: perdemos quase todos os nossos anunciantes. Com isso, cortamos salários e fechamos nossos escritórios em Moscou e em Riga”, continua Kovalov.

A inclusão de Meduza na lista de "agentes estrangeiros" não passou despercebida no panorama da mídia russa. Fundada em 2014 e com sede na Letônia, o Meduza é uma referência entre os poucos veículos de comunicação que ainda ousam se distanciar do poder russo.

Isso tudo faz parte de uma tendência geral. Antes, o Kremlin aceitava que houvesse uma imprensa independente, desde que esta fosse sigilosa e não revelasse suas fontes! Agora é claro que mesmo isso não é mais tolerado”, lamenta Alexei Kovalov.

"A cada três meses, tenho que enviar um relatório de 86 páginas"

As autoridades russas não classificam os meios de comunicação apenas como empresas. Desde dezembro passado, elas também podem atacar jornalistas individualmente. Ludmila Savitskaya é jornalista freelance em Pskov, oeste da Rússia. Sua vida deu uma guinada em 28 de dezembro, quando foi declarada uma "agente do exterior".

“Agora, a cada três meses, tenho que enviar um relatório de 86 páginas ao Ministério da Justiça, no qual tenho que mencionar cada uma das minhas despesas. Quando vou à loja, guardo os recibos e escrevo que comprei papel higiênico, comida de gato ou roupa íntima!”, explica a jornalista.

Além desse trabalho administrativo, intrusivo e coercitivo, Ludmila Savistkaïa deve mencionar o status de “agente estrangeiro” em cada uma de suas postagens, inclusive nas redes sociais. Isso complica seriamente seu trabalho como jornalista.

“É difícil fazer as pessoas falarem comigo, me darem entrevistas. Por causa desse status, elas temem ser demitidas, perder o pagamento mensal ou até mesmo serem presas. Mas continuarei fazendo meu trabalho de jornalista, com objetividade e dignidade”, diz Savistkaya.

Para sobreviver, o Meduza pediu a seus leitores que ajudassem a financiá-lo. No momento, o site ainda está funcionando. Mas o VTimes desistiu de lutar, não tendo orçamento e temendo ações judiciais.

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