Faixa de Gaza: tensões se agravam e Netanyahu adverte que conflito está longe do fim
Os confrontos entre Israel e o Hamas continuam. Bombardeios na Faixa de Gaza, lançamento de foguetes contra o território israelense ... Quatro dias após o início da escalada de violência, o número de mortos é alto: oito em Israel, mais de 120 em Gaza, onde a situação é dramática. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no entanto, advertiu nesta sexta-feira (14) que os ataques estariam longe do fim.
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Pelos correspondentes da RFI nos Territórios Palestinos e em Tel Aviv, e enviado especial a Lod
"Eu disse que infligiríamos sérios reveses ao Hamas e a outros grupos terroristas (...). Eles estão pagando e continuarão a pagar caro. Ainda não acabou", alertou Netanyahu após uma reunião no Ministério da Defesa, de acordo com um comunicado.
O ministro da Defesa israelense, Benny Ganz, ordenou um "reforço maciço" das forças de segurança para reprimir os ataques. Duas divisões de infantaria, tanques e veículos blindados se instalaram nesta quinta-feira ao longo do território palestino. O exército também recebeu luz verde para mobilizar cerca de 7 mil reservistas, se necessário.
Pouco depois da meia-noite desta quinta-feira (13), grupos armados palestinos dispararam novamente foguetes da Faixa de Gaza, enquanto a força aérea israelense continuava a bombardear os locais do Hamas.
O exército israelense realizou um bombardeio de intensidade sem precedentes durante a noite. Um dilúvio de ferro e fogo desceu sobre a Faixa de Gaza. No intervalo de meia hora, nada menos que 160 aviões israelenses dispararam 450 mísseis contra 150 alvos, relata o correspondente da RFI em Tel Aviv, Christian Brunel.
Destruir o "Metrô de Gaza"
A operação visava especificamente destruir completamente uma grande rede de túneis apelidada de "Metrô de Gaza", cavada pelo Hamas para entregar armas e mover combatentes sem os expor a ataques ao ar livre.
De acordo com o porta-voz do Exército, a operação foi um "sucesso". Diversos terroristas também foram mortos durante esses bombardeios massivos, ele celebra, acrescentando que “danos muito significativos” foram causados ao que ele descreveu como “um ativo estratégico” do Hamas. Além disso, para o porta-voz, foram milhões de dólares que os islâmicos no poder em Gaza investiram na construção desses túneis, que foram totalmente engolidos.
Vale lembra que estes túneis de Gaza, escavados pelo Hamas e pela Jihad Islâmica, que chegavam ao território israelense para infiltrar comandos, foram ou destruídos ou neutralizados nos últimos anos por uma cerca eletrônica instalada por Israel a muitos metros abaixo do solo ao longo da fronteira.
Centenas de residentes palestinos tiveram que fugir rapidamente de suas casas e buscar abrigos para escapar dos ataques. Maalak Mattar, 21, é uma jovem artista de Gaza. “Eu sinto que quanto mais o tempo passa, menos chance há de sobrevivência”, ela diz. Todas as noites pensamos que será a noite, a pior noite. Não há mais esperança e o sentimento dominante é o medo. E tudo isso é extremamente prejudicial à nossa saúde."
Maalak explica que demorou "sete anos para curar suas feridas desde a guerra de 2014". "E então tudo volta de novo, só que pior", ela exclama. E nós, palestinos em Gaza, temos medo de nós mesmos. Porque me pergunto: se eu for morta lá, o que acontece? Nada! Israel será considerado responsável? Nunca será. Não tenho mais esperança para a situação. Pensando em como é fácil matar pessoas ... e nada acontece. É o que está acontecendo."
Na noite desta quinta-feira, a Faixa de Gaza estava à beira de um ataque do exército israelense, de acordo com um anúncio oficial. Mas duas horas depois, um retrocesso: o Estado-Maior alega um erro de "comunicação interna" e afirma que o combate contra o Hamas se dará fora de Gaza.
Violência intercomunitária em cidades mistas
Também na noite desta quinta-feira, a violência eclodiu em diversas cidades mistas. Cerca de mil policiais de fronteira foram chamados para interceder. Nos últimos três dias, mais de 400 pessoas, entre árabes e judeus, foram presas.
Essa violência intercomunitária mergulha o país no caos. O estado de emergência foi declarado em Lod. Um toque de recolher noturno também está em vigor nesta cidade localizada no meio do caminho entre Tel Aviv e Jerusalém.
Ainda nesta quinta-feira, em torno das 20h, um helicóptero da polícia israelense sobrevoava a cidade de Lod a baixa altitude. É o início do toque de recolher. No entanto, jovens árabes, muçulmanos e cristãos, ainda estão reunidos próximos de sua mesquita e da igreja, logo ao lado, relata o enviado especial da RFI Sami Boukhelifa. Encapuzados, eles afirmam estar em guarda.
“Todos os dias, judeus supremacistas clamam: 'Morte aos árabes!' Eles nos atacam. E nos ameaçam também. Dizem: ‘Vamos incendiar suas mesquitas e locais de culto’, conta um deles.
Esses judeus supremacistas são colonos vindos em massa da Cisjordânia ocupada. Esta semana, um deles matou um árabe israelense. No entanto, um deles garante: ele e seus amigos estão lá apenas para defender sua comunidade dos "agressores árabes".
“Mostre-me um único judeu que faria mal a um árabe. Um judeu nunca atacaria um árabe. Eu tenho um amigo que mora aqui, ele morre de medo. Ele está apavorado com esses acontecimentos. Estou aqui para protegê-lo. Quero paz, mas os árabes estão criando problemas”, afirma.
Na cidade, rajadas de fogo ecoam. Alguns colonos estão armados. "Nós também estamos [armados]", afirma um árabe israelense. A polícia está fortemente presente, mas não parece ser capaz de identificar a origem dos tiroteios.
Macron: “urgência de um retorno à paz"
O presidente francês, Emmanuel Macron, "lembrou o compromisso inabalável da França com a segurança de Israel" e sublinhou "a urgência de um retorno à paz" no Oriente Médio, nesta sexta-feira, durante uma conversa por telefone com o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, de acordo com o Palácio do Eliseu.
O presidente francês "apresentou suas condolências pelas vítimas de disparos reivindicados pelo Hamas e por outros grupos terroristas, que ele mais uma vez condenou veementemente" e também expressa a Netanyahu "sua preocupação com as populações civis em Gaza", continua o comunicado de imprensa da presidência.
Emmanuel Macron já havia conversado quinta-feira com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, quando declarou estar preocupado com a escalada atual de violência entre Israel e o Hamas.
(Com informações de agências)
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