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China e Rússia apoiam carnificina em Mianmar, denuncia representante birmanês na ONU

Desde o golpe militar de 1º de fevereiro, mais de 550 pessoas foram mortas a bala em Mianmar, segundo a associação de assistência a presos políticos. Apesar da repressão sangrenta, a mobilização contrária aos militares não perde força. Novo rosto da resistência birmanesa, membro da Liga Nacional para a Democracia e enviado especial às Nações Unidas, Dr. Sasa apela à comunidade internacional para interromper o massacre. Em entrevista exclusiva à RFI, ele diz que Rússia e China têm interesse em manter os militares birmaneses no poder.

Manifestantes contrários ao golpe militar em Mianmar se reúnem nos Estados Unidos, em 27 de março de 2021.
Manifestantes contrários ao golpe militar em Mianmar se reúnem nos Estados Unidos, em 27 de março de 2021. AFP - KEREM YUCEL
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Até o momento, cerca de 2.700 pessoas foram presas, mas o saldo pode ser maior. Há uma grande lista de desaparecidos no país. Apesar disso, a mobilização pró-democracia persiste, com dezenas de milhares de trabalhadores em greve, e setores inteiros da economia, paralisados.

"A comunidade internacional tem o poder de fazer os generais pararem de matar o nosso povo todos os dias. A razão pela qual estamos pedindo por sanções é que quanto mais dinheiro for parar nas mãos dos generais birmaneses, mais eles vão comprar armas e usá-las para matar o povo de Mianmar", disse Dr. Sasa à RFI

"Estamos pedindo que cortem o financiamento destes generais da Junta Militar e que cortem o acesso deles ao mercado internacional de armas", afirmou ele, que clama por sanções econômicas e diplomáticas. 

"Pedimos à comunidade internacional que se junte a nós e passe uma mensagem forte e unificada para os militares, para que eles devolvam o poder aos membros eleitos do Parlamento, parem de matar o povo de Mianmar e liberem nossa líder Aung San Suu Kyi e os demais presos políticos", completou o médico, que gostaria de ver coalizões internacionais de emergência organizadas para ajudar seu país. 

Dr. Sasa elogia a união do povo birmanês de diferentes gerações contra o golpe: "A geração Z, professores universitários, médicos, funcionários públicos do país inteiro estão unidos pela delocracia e contra o golpe". "Esses movimentos nos dão a esperança de que vamos vencer esta luta", diz, afirmando que as pessoas não vão recuar nem desistir até que a democracia seja reestabelecida. 

Ele denuncia a China e a Rússia por terem interesses em manter os militares no poder em Mianmar. "É muito triste ver russos e chineses celebrando o dia Das Forças Armadas com a Junta Militar. Com isso, estão apoiando esta carnificina que está acontecendo em meu país. Nós nunca vamos esquecer isso. Eles não deviam estar apoiando os militares; eles têm o poder de fazer parar este golpe". 

"Estamos nos tornando os Estados Unidos de Mianmar, com o povo unido de Mianmar", finaliza, conclamando a ONU a tomar providências concretas. 

Horas depois desta entrevista, o Conselho de Segurança da ONU "condenou energicamente" mortes de civis em Mianmar. 

Novas formas de protestos

Para evitar as represálias, os manifestantes passaram a criar novas formas de protesto a cada dia. Nesta segunda-feira, os resistentes convidaram o povo birmanês a aplaudir os grupos étnicos rebeldes que os apoiam.

Nas ruas de Sagaing (centro), um grupo de mulheres, de saia típica, saiu às ruas para aplaudi-los por cinco minutos, segundo imagens divulgadas nas redes sociais. Outras ações semelhantes se repetiram em várias partes do país.

No domingo, dez das principais facções armadas, que haviam assinado um acordo de cessar-fogo com o Exército em 2015, expressaram seu apoio ao movimento antigolpe.

"Os militares violaram o processo de paz", disse hoje à AFP o general Yawd Serk, à frente de um desses grupos, o Conselho de Restauração do Estado Shan.

"Não estamos dizendo que o acordo nacional de cessar-fogo foi quebrado, ele está suspenso", acrescentou. Os manifestantes voltaram às ruas nesta segunda-feira em várias áreas, como Mandalay (centro), segunda cidade do país.

(Com AFP)

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