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Clubhouse faz sucesso entre intelectuais na Arábia Saudita, apesar do medo da repressão

Questões delicadas na Arábia Saudita, como reformas políticas ou direitos dos transgêneros, circulam livremente na nova rede social de áudio Clubhouse. Mas seus usuários temem o risco que isso poderia implicar neste país autoritário, que controla a internet com mão de ferro. O Clubhouse se tornou a nova “Ágora” dos sauditas, mas o preço a pagar talvez seja caro demais para a segurança dos debatedores, que vêm tendo sua identidade revelada pelas milícias digitais do governo saudita.

O aplicativo norte-americano de bate-papo com áudio Clubhouse foi proibido na China em 8 de fevereiro de 2021.
O aplicativo norte-americano de bate-papo com áudio Clubhouse foi proibido na China em 8 de fevereiro de 2021. AP - Mark Schiefelbein
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Banida na China, onde também existe forte repressão dos que contestam o regime de Pequim, esta plataforma se tornou muito famosa no mundo desde seu lançamento em abril de 2020, graças a seus fóruns de discussão em áudio. E está ganhando terreno nos países do Golfo, com um público de jovens e livre pensadores ultraconectados, num sistema contrário à liberdade de expressão.

Na Arábia Saudita, os "trolls" nacionalistas e a repressão do governo a possíveis críticas na Internet silenciaram todos os debates no Twitter ou no Facebook. "O Clubhouse é popular porque há uma infinidade de intelectuais sauditas que querem debater várias questões que poderiam ser consideradas tabu ou censuradas no espaço público", disse Amani Al Ahmadi, ativista saudita exilada nos Estados Unidos.

Esta militante recentemente liderou uma conversa no Clubhouse sobre "racismo na Arábia Saudita". A reação dos trolls foi imediata e rapidamente o Twitter foi inundado com imagens e vídeos revelando a identidade e as opiniões dos participantes. A operação revelou um problema com o aplicativo Clubhouse, que normalmente proíbe a gravação de conversas.

Um fórum de discussão dedicado à recente libertação da ativista feminista Loujain Al Hathloul teve que ser fechado no aplicativo depois que várias pessoas ameaçaram denunciar publicamente as participantes. “É uma nova plataforma e ainda há muita preocupação com a segurança”, observa Al Ahmadi. Clubhouse não respondeu às perguntas da agência AFP sobre essas questões na Arábia Saudita.

"Pensar livremente custa caro"

Na Arábia Saudita, a autocensura já começou no aplicativo. Muitos participantes especificam em conversas que estão "dentro" do reino ou "em um lugar sensível", explica um usuário. Mas, apesar do risco, essas conversas estão se multiplicando.

Em uma delas, uma saudita lamenta a falta de liberdades civis na monarquia absoluta: “Pensar com liberdade custa caro, pode custar a vida ou anos de prisão”, declarou ela, segundo outros participantes. Em outra discussão, uma saudita se parabeniza pela entrada das mulheres no mercado de trabalho, embora reclame que "muitos homens" não gostam.

Um dos fóruns da plataforma permitia que uma pessoa transgênero que vivia no reino ultraconservador explicasse as agressões e o assédio sexual de que foi vítima, segundo diversos usuários.

"Clubhouse preenche um enorme vazio"

Esses debates livres despertam a ira de apoiadores do governo, que exigem que o Estado aja de acordo, no sentido da repressão. “A aspereza que essas discussões podem gerar pode prejudicar a sociedade como um todo, sem nenhum limite organizacional ou ético”, criticou o jornalista Salmán Al Dosari em artigo intitulado “O dilema moral do Clubhouse”, publicado no jornal saudi Asharq Al Awsat.

Em um vídeo postado online, o professor universitário saudita Fahad Al Otaibi chegou a falar de "perigo para a segurança nacional". No momento, as autoridades do reino, onde dissidentes são presos por tweets, não reagiram publicamente ao pedido.

Os usuários do Clubhouse temem que aconteça o que ocorreu com o Twitter, que foi infiltrado por exércitos cibernéticos pró-governo para intimidar vozes críticas ao poder e espalhar propaganda estatal. Para Ahmed Gatnash, cofundador da Fundação Kawaakibi, uma ONG de direitos humanos no Oriente Médio, o Clubhouse "preenche um grande vazio". Mas “temo que o governo saudita reprima, banindo o aplicativo, ou monitore as conversas e prenda pessoas por exercerem sua liberdade de expressão, como fez com o Twitter nos últimos anos”, afirmou.

(Com informações da AFP)

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