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Vacinação pública de líderes "pode alimentar teorias da conspiração", diz especialista francês

A exemplo do presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, vacinado contra a Covid-19 na segunda-feira (21), vários outros líderes mundiais estão sendo imunizados em transmissões ao vivo de televisão para aumentar a confiança da população no produto. Em entrevista à RFI, o pesquisador francês Dominique Wolton, especialista em comunicação, diz que essa estratégia pode ser contraproducente e alimentar teorias da conspiração.

Joe Biden, o presidente eleito dos Estados Unidos, de 78 anos, foi vacinado com o imunizante da Pfizer-BioNTech no Hospital Christiana em Newark, Delaware, nessa segunda-feira 21 de dezembro de 2020.
Joe Biden, o presidente eleito dos Estados Unidos, de 78 anos, foi vacinado com o imunizante da Pfizer-BioNTech no Hospital Christiana em Newark, Delaware, nessa segunda-feira 21 de dezembro de 2020. Alex Edelman AFP
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O presidente eleito dos Estados Unidos, de 78 anos, foi vacinado com o imunizante da Pfizer/BioNTech no Hospital Christiana em Newark, Delaware. A mulher de Joe Biden, Jill, tomou a vacina antes, informou a equipe de transição presidencial. Biden disse aos americanos que "não há nada com que se preocupar" quando eles tomarem a vacina e que, enquanto isso, devem continuar usando máscaras e "ouvir os especialistas".

Antes do democrata, o presidente israelense Benjamin Netanyahu organizou no sábado (19) um grande show midiático, com transmissão ao vivo de sua vacinação, para lançar a campanha de imunização em Israel. O vice-presidente americano, Mike Pence, também tomou a vacina em público na quinta-feira (17).

Um dos objetivos dessa estratégia de divulgação da vacinação dos líderes políticos é tranquilizar sobre a segurança do imunizante e incitar a população a se vacinar. No entanto, Dominique Wolton, fundador do Instituto de Ciências da Comunicação do Centro Nacional de Pesquisa Científica francês (ISCC) e diretor da Revista Internacional Hermès, garante que esse recurso pode ser totalmente ineficaz.

"Tomar vacina em público não é prova de civismo"

"Tomar vacina em público não é uma prova de civismo. Não é isso que irá fazer os cidadãos como você e eu mudar de ideia. O que os fará mudar de ideia são pesquisas sobre a saúde pública capazes de tranquilizar a população. Não é um ministro ou um presidente que vai assegurar isso. Ao contrário, essa estratégia pode ter um efeito contraproducente. Ela pode alimentar o 'conspiracionismo'", insiste o pesquisador.

"As teorias da conspiração deturpam tudo e dizem que a verdade é o contrário das afirmações públicas. Então, ao invés de ter alguma virtude educativa, o fato de mostrar uma personalidade política sendo vacinada pode confortar os negacionistas", reitera.

Para Wolton, a comunicação dos poderes públicos deve se focalizar em elementos mais factuais sobre as vacinas e sua distribuição. "É muito mais interessante que o mundo saiba quais foram as negociações entre os diferentes laboratórios, o papel dos governos, as decisões sobre a saúde pública, do que ver um chefe de Estado sendo vacinado diante das câmeras de televisão. A questão da confiança hoje não se resume apenas à questão de ver. Não é mostrando um chefe de Estado na TV que conseguimos a adesão do público, principalmente agora que vivemos o tempo todo rodeados de imagens", salienta.

Pressão midiática

Muito mais do que uma estratégia, Dominique Wolton vê no fenômeno de divulgação da vacinação de personalidade públicas uma pressão midiática. "A 'peopolização' da vida política leva à crença de que temos que ver e saber tudo e que tudo tem que ser mostrado. Há três pressões. Os políticos acreditam que ao aparecerem o tempo todo as pessoas vão acreditar mais neles. Tem ainda a pressão infernal da mídia que também sofre a pressão das redes sociais. A lógica de base das redes sociais é: 'ver e saber tudo é a democracia'. Há uma desproporção no fato de ter que mostrar tudo", conclui Wolton.

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