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Líbano e Israel iniciam negociações inéditas para discutir fronteiras marítimas

Líbano e Israel, dois países vizinhos oficialmente ainda em guerra, realizaram nesta quarta-feira (14) a primeira rodada de negociações, apoiadas pelos Estados Unidos, para discutir os limites de suas fronteiras marítimas, com o objetivo facilitar a prospecção de hidrocarbonetos, como o gás

Soldados da ONU posicionados perto da base de Naqoura, na fronteira entre Líbano e Israel. Em 14 de outubro de 2020.
Soldados da ONU posicionados perto da base de Naqoura, na fronteira entre Líbano e Israel. Em 14 de outubro de 2020. REUTERS - ISSAM ABDALLAH
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O encontro, que Washington classifica com uma iniciativa "histórica", ocorreu nas instalações da Organização das Nações Unidas (ONU) em Naqoura, cidade fronteiriça no sul do Líbano.  

O exército libanês e soldados da UNIFIL - uma força da ONU enviada para monitorar a zona tampão entre os dois países - bloquearam as estradas que conduzem à base, enquanto helicópteros sobrevoavam a área.

Poucas semanas após a celebração do restabelecimento de relações diplomáticas de Israel com os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, mas também com a aproximação da eleição presidencial americana, observadores se perguntam sobre o simbolismo desses desdobramentos para o presidente Donald Trump.

Para além desta disputa bilateral, as tratativas acontecem num contexto regional de fortes tensões no Mediterrâneo Oriental em torno dos hidrocarbonetos e da delimitação de fronteiras marítimas envolvendo Turquia, Grécia e Chipre.

Negociações técnicas e não políticas

A mediação ficou a cargo do secretário de Estado assistente dos EUA para o Oriente Médio, David Schenker. O diplomata John Deschent assumiu a palavra pelo lado americano.

Dois militares e dois civis - um funcionário da Autoridade do Petróleo e um especialista em direito do mar - representaram o Líbano, que insiste no caráter "técnico" - e não político - das negociações.

"Nossa reunião de hoje marca o início de negociações técnicas indiretas", disse o general Bassam Yassine em seu discurso inaugural, tornado público por um comunicado do Exército. “Esperamos que as negociações ocorram em um ritmo que nos permita encerrar este processo em um prazo razoável”, acrescentou.

Destacando o papel da ONU, o General Yassine também agradeceu "aos amistosos Estados Unidos" por seu papel como mediador e por sua disposição "em ajudar a criar uma atmosfera positiva e construtiva". “Esperamos que as outras partes cumpram com as suas obrigações perante o direito internacional e preservem a confidencialidade das deliberações”, acrescentou.

Os partidos xiitas Hezbollah e Amal, que integram o governo libanês, no entanto, criticaram a presença de civis na delegação libanesa, afirmando que apenas militares deveriam participar. “Isso prejudica a posição do Líbano e seus interesses (...) e representa uma capitulação à lógica israelense que quer alguma forma de normalização”, denunciaram, em nota.

A representação israelense era composta por seis membros, incluindo o diretor-geral do Ministério da Energia, um assessor diplomático do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o chefe da diretoria de assuntos estratégicos do Exército.

O que está em jogo

As negociações são cruciais para um Líbano falido, que embarcou na exploração de hidrocarbonetos offshore. Em 2018, o país assinou o primeiro contrato de exploração de dois blocos com um consórcio internacional. O problema é que parte do bloco número 9 se espalha em uma área de 860 km² disputada, também, por Israel.

Uma fonte do Ministério de Energia israelense garante que a delimitação marítima pode ser resolvida "em alguns meses" se o processo correr bem do lado libanês. “Não temos ilusões. Nosso objetivo não é criar qualquer normalização ou processo de paz”, acrescentou a fonte.

O último grande confronto entre o Hezbollah e Israel ocorreu no verão de 2006. Uma guerra devastadora que durou pouco mais de um mês e deixou mais de 1.200 mortos do lado libanês, a maioria civis, e 160 do lado israelense, essencialmente militares. Desde então, reuniões foram organizadas pela UNIFIL com altos funcionários de ambos os Exércitos.

Novo encontro em 28 de outubro

A reunião desta quarta-feira durou pouco mais de uma hora. A segunda rodada de negociações entre o Líbano e Israel está marcada para o dia 28 de outubro.

Para Hilal Khashan, cientista político da Universidade Americana de Beirute (AUB), um grande obstáculo precisará ser abordado futuramente: “no caso de um acordo sobre a fronteira terrestre, a questão das armas do Hezbollah surgirá”, destaca.

O movimento xiita é a única facção libanesa que não abandonou seu arsenal após a guerra civil (1975-1990), usando como justificativa o seu papel de "resistência" ao Estado hebraico. De acordo com Khashan, "o Hezbollah não concordará em abrir mão de seu arsenal".

 

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