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Autoimolação de jornalista revela pressões sofridas pela imprensa independente na Rússia

No dia seguinte de uma busca da polícia russa em sua casa, Irina Slavina colocou fogo no próprio corpo na sexta-feira (2) em frente ao prédio das forças de segurança de sua cidade. Um ato extremo que a família da jornalista independente atribui às pressões que ela sofria há anos.

Irina Slavina em Nijni Novogorod, em 1° de outubro de 2019.
Irina Slavina em Nijni Novogorod, em 1° de outubro de 2019. (AP Photo)
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Por Daniel Vallot, da RFI

Pouco horas antes de se suicidar, Irina Slavina postou nas redes sociais uma mensagem lacônica, mas explícita, para explicar seu ato. “Peço que vocês responsabilizem a Federação Russa por minha morte” escreveu a jornalista. Ela tinha 47 anos e morava em Nijni Novogorod, 400 km a leste de Moscou e uma das maiores cidades russas.

Na véspera de seu suicídio, a polícia fez uma busca em sua casa às 6h da manhã e confiscou seu material de trabalho: computador, celular e cadernos de notas. Para seus colegas, familiares e amigos, essa perquisição, realizada na frente da filha e do marido da jornalista, foi a gota que fez transbordar o vaso. Irina Slavina era pressionada há anos pelas autoridades locais.

Indignação

A indignação na Rússia é ainda maior porque nada justificava uma ação policial tão ostensiva. Irina Slavina era considerada apenas como testemunha no caso que levou a polícia a fazer a busca em seu domicílio. Na origem do drama, uma reunião organizada para abordar as eleições municipais de setembro. Os participantes do encontro tinham ligação com a ONG Rússia Aberta do ex-oligarca Mikhaïl Khodorkovsky, considerada indesejável na Rússia e alvo de várias detenções e perquisições.

Nessa investigação, seis buscas e apreensão foram realizadas simultaneamente. Além da casa da jornalista, foram visados domicílios de militantes da oposição, seja do Partido Liberal Labloko ou do movimento de Alexeï Navalny. “Vejam o que acontece todos os meses e todas as semanas na Rússia” denunciou o jornal Novaya Gazeta. “Os serviços de segurança têm o direito de desrespeitar a vida de qualquer um, independentemente da pessoa ser acusada, suspeita ou simples testemunha e até mesmo se errou de endereço”, escreve o diário.

Pressões, processos e intimidação

Irina Slavina era pouco conhecida em todo o país, mas ela era uma jornalista regional que se recusava a ceder às pressões políticas, da polícia ou da justiça local. Ela exercia um jornalismo investigativo que ia contra tudo e contra todos. Esses profissionais têm uma situação precária e são muito ameaçados na Rússia.

Irina Slavina trabalhou cerca de dez anos na imprensa local de Nijni Novogorod. Mas após ser demitida três vezes por ter investigado escândalos considerados sensíveis, ela decidiu criar o seu próprio site internet, onde era a única colaboradora e editora.

Rapidamente, KozaPress passou a figurar como uma das mídias mais citadas na internet na região de Nijni Novogorod. Slavina escrevia sobre a oposição, a corrupção, os crimes contra o meio ambiente. Com o passar do tempo, ela acumulou processos e atos de intimidação.

Condenações

A jornalista foi condenada duas vezes por publicações no Facebook e, recentemente, por disseminação de “fake News” sobre o novo coronavírus. As pesadas multas que teve que pagar por essas condenações complicavam o orçamento de seu site de informação, financiado apenas por doações.

Um de seus amigos publicou uma mensagem nas redes sociais, compartilhada pelo site Meduza, que resume a vida dela: “Irina era simplesmente uma pessoa livre e apaixonada pelo que fazia. E ser assim na Rússia, hoje, pode ser perigosamente mortal”.

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