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Pesquisadora franco-iraniana é condenada a seis anos de prisão em Teerã

A antropóloga franco-iraniana Fariba Adelkhah foi condenada neste sábado (16) a duas penas de prisão pela justiça iraniana: um ano de detenção por “propaganda contra o regime” e cinco anos por “colusão visando a segurança nacional”. O processo começou com uma acusação de espionagem, que foi retirada. A pesquisadora nega todas as acusações e as autoridades francesas afirmam que trata-se de uma condenação de cunho político.

A antropóloga Fariba Adelkhah durante uma passagem pelos estúdios da RFI, anos antes de sua prisão.
A antropóloga Fariba Adelkhah durante uma passagem pelos estúdios da RFI, anos antes de sua prisão. © RFI
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Com informações de Siavosh Ghazi, correspondente da RFI em Teerã

De acordo com Saïd Dehghan, advogado da pesquisadora, sua cliente deverá cumprir somente a pena mais longa. Ainda segundo a defesa, que conta recorrer da decisão, a condenação por “propaganda” se refere às opiniões da antropóloga sobre o uso obrigatório do véu islâmico no Irã.

Segundo o diplomata François Nicoullaud, entrevistado pela RFI, a principal razão dessas condenações é o trabalho de pesquisa de Fariba Adelkhah, que é especialista do xiismo e publicou livros como Les Paradoxes de l'Iran (Os paradoxos do Irã), em 2016, ou ainda Être moderne en Iran (Ser moderno no Irã), em 2006.

“Ela irritava muito o regime por causa de sua independência. Ela dizia o que pensava. Aliás, ela nem sempre criticava e até aceitava alguns aspectos do regime iraniano”, comenta.

Universitária de renome, parte do quadro de diretores do Centro de pesquisas internacional (CERI) do Instituto de Ciências Políticas de Paris (Sciences Po), a antropóloga de 61 anos foi presa em junho de 2019 junto com seu companheiro, o também pesquisador Roland Marchal. Ele foi liberado no mês de março, ao mesmo tempo que Jalal Rohollahnejad, engenheiro iraniano detido em Paris e que corria o risco de ser extraditado para os Estados Unidos.

Mas Fariba Adelkhah continuou na cadeia, já que Teerã não reconhece sua dupla nacionalidade, o que faz como que ela seja julgada como uma cidadã iraniana.

Estrangeiros acusados de espionagem

As prisões de estrangeiros, quase sempre acusados de espionagem, têm se multiplicado no Irã desde 2018, quando os Estados Unidos se retiraram unilateralmente do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano e reestabeleceram duras sanções contra o regime da República Islâmica. Cidadãos que possuem dupla nacionalidade são os principais alvos dessas prisões, consideradas arbitrárias pela comunidade internacional.

 “É sempre prático ter um refém em suas mãos”, pontua François Nicoullaud. “Ninguém sabe o que pode acontecer no futuro e talvez um dia [o Irã] precise de algo do lado francês”, analisa.

Greve de fome e hospitalização

A França criticou com veemência a decisão da justiça iraniana. “Essa condenação não é fundada em nenhum elemento sério ou fato real e possui um caráter político”, declarou o ministro francês da Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, por meio de um comunicado. “Eu condeno com a firmeza esse veredicto”, martelou o representante de Paris, que pede a libertação imediata da pesquisadora.  

Fariba Adelkhah está hospitalizada desde 25 de fevereiro, após ter iniciado uma greve de fome. A justiça iraniana abandonou a acusação de espionagem no início do processo diante do tribunal revolucionário de Teerã, em 3 de março. Seu comitê de apoio teme por sua saúde, principalmente diante da pandemia de Covid-19 no Irã, um dos países mais atingidos pelo vírus no mundo, com cerca de 7 mil mortos vítimas do coronavírus.

 

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