Oscar 2020: brasileira conta como foi trabalhar nos efeitos especiais do "Rei Leão"
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O filme "Rei Leão", lançado em 2019, é um espetáculo animado fotorrealista, com status de obra de arte, com uma riqueza ímpar em detalhes e efeitos. O longa foi indicado ao Oscar deste ano na categoria de 'Melhores Efeitos Especiais'.
Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles
A equipe que trabalhou para repaginar o clássico de 1994, conta com uma brasileira: Tati Leite, uma engenheira paulista, de Santo André, que se tornou artista de efeitos especiais. "A cena mais especial que eu trabalhei foi a final, que é quando Simba está subindo a pedra do reino depois de ter vencido o Scar e de ter passado por tudo. É aquele momento de vitória, que ele retorna ao posto que deveria ter sido sempre dele, o de rei. Guardo essa cena com bastante carinho, foi bem legal ter feito parte dela."
Cerca de 1500 artistas trabalharam na produção de "Rei Leão", conta a brasileira. No set de filmagens, 50 pessoas integravam a equipe de efeitos, comandada por Robert Legado, que já coleciona três estatuetas na categoria, por "Titanic", "A Invenção de Hugo Cabret" e "Mogli, O Menino Lobo". Tati era a única brasileira. Segundo a artista, tudo em torno do filme é inovador: a técnica e a tecnologia nunca foram usadas antes e o desenvolvimento do sistema aconteceu durante as filmagens. A animação foi rodada em um set virtual e o filme feito como se fosse um live-action, com atores reais.
"O objetivo era trazer essa realidade ao mundo da animação", diz ela.
O filme do leãozinho Simba e sua alcateia tem como concorrentes na categoria os pesos-pesados: "Vingadores: Ultimato", "O Irlandês", "1917" e "Star Wars: A Ascensão Skywalker". Tati admite a concorrência forte, mas destaca que a animação pode sair na frente por reunir duas características.
"Têm duas vertentes bem fortes esse ano. Uma, que a gente chama de efeitos especiais invisíveis, na qual estão "1917" e "O Irlandês". Esses são efeitos que não foram feitos para chamar a atenção, não é algo irreal que está sendo criado", diz. "A outra grande vertente é a dos efeitos que a gente sabe que existem, como de "Avengers" e "Star Wars". Acho que "Rei Leão" está com um pé em cada lado, porque queria passar esse sentimento de realidade de que o filme estava sendo criado na Savana e funciona como se fosse um live-action, ao mesmo tempo todos os leões e outros animais foram animados, os animais falam."
Sonho de criança em um mundo masculino
Tati conta que o "Rei Leão" sempre foi um de seus filmes favoritos, desde a infância. Lembra de ter pedido de aniversário uma fita VHS para poder ver e rever a animação. Destaca que a assistiu inúmeras vezes e até sabia os diálogos de cor. Quando soube ao assinar o contrato de confidencialidade que faria parte do remake do clássico, foi tomada pela surpresa e a alegria.
A brasileira já tem no currículo outros trabalhos em Hollywood. Fez parte da equipe de efeitos visuais de "Christopher Robin - Um Reencontro Inesquecível", "Missão Impossível - Efeito Fallout", além dos blockbusters da Marvel, "Capitã Marvel" e "Homem-Formiga e a Vespa".
Mestre em Engenharia de Computação pela Unicamp, mora há oito anos nos Estados Unidos, onde se especializou para entrar no mercado do entretenimento. Um mundo competitivo e masculino, que para uma mulher latina se inserir, precisa provar muito mais e não ter medo das portas fechadas. Tati, que achava que os homens dominavam a engenharia, se deparou com mais disparidade de gênero também em Hollywood.
"A gente vê algumas produtoras, coordenadoras de efeitos especiais se destacando, aumentando o número de mulheres na área, mas ainda assim na parte técnica são muito poucas. Venho de um ambiente de engenharia e estou acostumada a essa grande disparidade de gênero", diz. "Só para você ter uma ideia, na categoria de efeitos especiais já foram indicados mais de 700 homens, enquanto o número de mulheres se resume a 3."
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