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O Mundo Agora

Coronavírus terá impacto no PIB chinês e na economia global

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A nova epidemia de coronavírus é um balde de água fria na cabeça do mundo. A começar pelos chineses. Em 2003, o último vírus mortal que se propagou pelo mundo – o da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) – também partiu da China.

Funcionários do departamento de controle e proteção da província de Jiangxi, na China. 25/01/2020
Funcionários do departamento de controle e proteção da província de Jiangxi, na China. 25/01/2020 ©cnsphoto via REUTERS.
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Na época, o governo de Pequim tentou esconder as informações, não só para a Organização Mundial da Saúde (OMS) e os médicos de outros países, mas também para a sua própria população. As medidas de combate à epidemia foram tomadas tarde demais e de maneira ineficiente. Resultado: houve 8.000 pessoas contaminadas, 800 mortes por pneumonia, e 26 países atingidos.

O mundo inteiro saiu criticando a irresponsabilidade das autoridades chinesas. Desta vez, o governo de Xi Jinping não tinha condições de perder a face novamente e ser acusado de provocar um cataclismo sanitário mundial. As medidas foram drásticas: confinamento de 56 milhões de pessoas em torno da cidade de Wuhan, proibição de viagens de avião domésticas e dos mercados de animais silvestres, onde homens e bichos vivem na maior promiscuidade.

Mais importante porém: funcionários e políticos que tentassem abafar o fato cometeriam crimes inafiançáveis e seriam severamente punidos. Desde o início, a população chinesa e as autoridades de saúde estrangeiras estão sendo informadas dos problemas praticamente hora por hora. Muita gente acha que é até demais e que pode ser uma manobra de Xi Jinping: exagerar o perigo para depois colher os frutos políticos de ter resolvido a pendenga.

Só que a ameaça é claríssima. Parece até com os filmes de antecipação catastróficos. A pior pandemia da história, em 1918, também começou na China: a famosa “gripe espanhola” matou quase 100 milhões de pessoas no planeta (3 a 5% da população mundial).

Desafio global de saúde pública

Hoje, a medicina epidêmica está bem mais aparelhada para evitar uma hecatombe deste porte, mas nada garante que não aconteça de novo. Sobretudo tratando-se de um vírus que ninguém ainda conhece. Além do mais, o desafio não atinge só a saúde pública mundial. No nosso mundo globalizado, esse tipo de contágio acelerado pode ter consequências econômicas pavorosas se não for bloqueado rapidamente.

A epidemia de SARS, em 2003, impactou profundamente a indústria do turismo – hoje uma das maiores do mundo. Populações inteiras usando máscaras de proteção não são o melhor incentivo para encher lojas e andar de avião, trem ou metrô. Nas cidades submetidas a uma quarentena rigorosa, a produção e o comércio podem diminuir drasticamente.

Nos últimos dias, as bolsas mundiais têm vivido no ritmo das notícias sobre o coronavírus. Sem contar que a China em si é um dos principais motores da economia mundial e já se sabe que a epidemia vai tirar alguns pontinhos do PIB chinês. Ninguém vai sair incólume desta explosão viral, mesmo se conseguir escapar do contágio.

A lição para os governos nacionais é pesada. Não adianta proclamar que as soberanias estão de volta e que cada um deve resolver seus problemas em casa. Vírus não respeita fronteiras, e o trabalho de encontrar uma vacina ou de inventar medidas de contenção depende da colaboração de todo mundo. O coronavírus não será – claro – a última ameaça deste tipo. E as próximas podem ser ainda mais perigosas.

A única solução é desenvolver a cooperação internacional, passando por cima do orgulho dos soberanistas e dos interesses politiqueiros locais que só pensam em salvar a face e seus empregos e vantagens. A transparência das informações é vital e a colaboração com boa fé também.

A ameaça da mudança climática já havia confirmado que o mundo é cada vez mais um só e que, por enquanto, não há outra solução senão tentar resolver os problemas juntos. A nova pandemia requer que os Estados nacionais comecem a tratar prioritariamente da saúde do planeta. Continuar brigando para manter suas fronteiras é a receita para acabarmos todos no abismo.

* Alfredo Valladão é professor do Instituto de Ciências Políticas de Paris e publica uma coluna de geopolíticas às segundas-feiras na RFI 

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