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A Semana na Imprensa

Prefeita de “capital do Estado Islâmico” na Síria lança livro com jornalista francesa

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A revista francesa Le Point desta semana traz uma longa reportagem sobre o lançamento do livro de Leïla Mustapha. A atual prefeita de Raqqa, que ficou conhecida como “a capital do grupo Estado Islâmico” na Síria conta como foi reconstruir a cidade após a retirada dos extremistas, há dois anos.

Leïla Mustapha, que se tornou prefeita de Raqqa, ajuda a reconstruir.
Leïla Mustapha, que se tornou prefeita de Raqqa, ajuda a reconstruir. Reprodução / Le Point
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O livro, intitulado La femme, la vie, la liberté (A mulher, a vida, a liberdade), foi escrito com Marine de Tilly, jornalista da Le Point, que visitou várias vezes a cidade síria durante um ano. A revista lembra que Raqqa foi palco das primeiras manifestações contra o regime de Bashar al-Assad, em 2012, até que o grupo Estado Islâmico se instalou e a proclamou, em 2014, a capital de seu califado. Foi também a partir dessa cidade que teriam sido planejados os atentados de novembro de 2015 em Paris.

Le Point traz vários trechos do livro, nos quais a jornalista e a prefeita contam como o grupo Estado Islâmico tomou a região. “Os lobos estavam em Raqqa, e com eles, o terror”, escreve metaforicamente Leïla Mustapha. Ela relata como o hijab, traje típico que deixa apenas o rosto aparente, passou a ser imposto às mulheres, e que manuais de boa conduta diziam que meninas podiam se casar a partir dos 9 anos de idade. Ou ainda como um pelotão de censura, formado por mulheres, controlava os gestos das moradoras. “Alguém que usasse maquiagem era punida com cinco chicotadas. Já as que ousassem um traje muito justo, mostrando as formas, corriam o risco de levar 20 chibatadas”, enumera a prefeita no livro.

A reportagem conta que Raqqa foi liberada em outubro de 2017, após meses de ofensiva curda, com a ajuda da coalizão internacional. Foi nesse momento que Leïla Mustapha, que é de origem curda, decidiu se engajar na política, participando de conselhos civis. “Eu era jovem, tinha qualidades profissionais e podia ajudar a servir meu povo e meu país”, relembra.

Local de crucificações virou “Praça da Liberdade”

Aos poucos ela conseguiu, graças a repetidos discursos, conquistar a confiança dos chefes das tribos que ditavam as ordens na Síria. Convencidos pela sinceridade e tenacidade da jovem, muitos desses líderes começaram a apoiá-la. Em 2017, aos 36 anos, ela se tornou prefeita. A engenheira agrônoma encabeçou a reconstrução do que a revista qualifica de “cidade-cemitério”. Raqqa foi alvo de 20 mil bombardeios durante a guerra e teve mais de 90% de seu território destruído.

“Nossa primeira decisão foi restaurar a praça central, local que ficou conhecido, no auge da presença do califado, como ‘o cruzamento da morte’”, conta a prefeita. “Era ali que aconteciam as decapitações, crucificações, lapidações, amputações, exposição e venda de escravos”, relata. “Primeiro quebramos tudo para apagar qualquer vestígio físico do sangue dos 1.200 civis que sofreram ali”, continua Leïla Mustapha.

O local, que foi rebatizado de “praça da Liberdade”, hoje vê crianças brincando, meninas fazendo selfies e até música tocando nas ruas durante a noite. “Atualmente, o lugar não tem mais nada de um cruzamento da morte”, conclui a prefeita nas páginas da revista francesa Le Point.

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