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Sob influência dos EUA, Guatemala e Paraguai transferem embaixadas a Jerusalém

A Guatemala inaugurou nesta quarta-feira (16) sua embaixada em Jerusalém, tornando-se a primeira nação da América Latina a seguir os passos do presidente dos Estados Unidos Donald Trump. De acordo com os especialistas, as razões para a mudança, a despeito dos protestos da comunidade internacional, são principalmente diplomáticas e econômicas: o país precisa permanecer sob a proteção dos EUA.

O presidente da Gutemala Jimmy Morales e o primeiro-ministro de Israel, Benjamín Netanyahu
O presidente da Gutemala Jimmy Morales e o primeiro-ministro de Israel, Benjamín Netanyahu REUTERS/Abir Sultan
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Após a série de violências que causou a morte de mais de 50 pessoas na Faixa de Gaza em decorrência da transferência da embaixada americana a Jerusalém, a decisão do presidente da Guatemala Jimmy Morales gera interrogações. A RFI conversou com Gaspar Estrada, diretor do Observatório da América Latina do Instituto de Estudos Políticos de Paris, que reitera o teor diplomático da decisão guatemalteca com relação aos Estados Unidos.

“As razões mais complexas e práticas estão vinculadas à debilidade e à necessidade do governo guatemalteco, que tem muita dificuldade para completar seu orçamento, é muito frágil do ponto de vista das instituições e tem extrema dependência da assistência americana”, afirma o pesquisador. “A mudança de sede da embaixada tem o objetivo de manter boas relações com os EUA, que oferecem muitos recursos ao governo da Guatemala.”

Isso explicaria, também, os motivos que levaram o Paraguai a anunciar recentemente que seguiria os passos dos EUA e do vizinho latino-americano até o fim do mês. Para Patricio Navia, conselheiro acadêmico do Centro para a Abertura e Desenvolvimento da América Latina, “quanto mais os países são frágeis, mas eles estão sob pressão [do governo americano]”, afirmou em entrevista à AFP. 

Política segundo a Bíblia

Mas existe, ainda, uma outra razão para a decisão do chefe de Estado da Guatemala, que se declara evangélico: abrir caminho para que os judeus possam reconstruir seu templo na região, o que facilitaria o “retorno de Cristo”.

“A comunidade evangélica é muito poderosa na Guatemala. Os evangélicos, de modo geral, têm uma posição de defesa do povo israelense e, em particular, eles querem que Jerusalém seja a capital de Israel e não uma capital compartilhada com a Palestina”, declara Gaspar Estrada. 

Apesar da decisão conflituosa, a Guatemala não deve sofrer consequências diretas da transferência da embaixada à Jerusalém, com exceção de um isolamento de seus vizinhos. Para Gaspar Estrada, não há risco de manifestações na nação. “Se fosse um país onde a população muçulmana existe, por exemplo o Brasil, a convivência [entre as etnias] poderia ser afetada.”

Respeito ao direito internacional

Seguindo a lógica de quanto menor o valor diplomático e econômico, maior a obediência a Donald Trump, a possibilidade de transferência de embaixadas à Jerusalém de nações de grande porte da América Latina, como o Brasil ou a Argentina, é baixa.

“Acho difícil, porque realmente é uma coisa contrária ao direito internacional e a América Latina é uma região onde o multiculturalismo tem tradicionalmente um peso forte na diplomacia. Isso seria uma quebra evidente do diálogo político e do respeito do direito público internacional, por isso acho difícil que outros países assumam esse tipo de compromisso”, reflete Gaspar Estrada. “A tradição diplomática da América Latina, para mim, faz com que seja difícil, a curto prazo, que haja mudanças importantes.”

O presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas realizou recentemente uma turnê pela Venezuela, Chile e Cuba. “Nós esperamos que certos países do continente americano não transfiram suas embaixadas a Jerusalém porque isso vai contra o direito internacional.”

No fim de 2017, a maior parte dos países da América Latina condenaram a decisão americana e reafirmaram que manteriam suas embaixadas em Tel Aviv. As nações latino-americanas também declararam-se próximas às resoluções da ONU, segundo as quais cabe aos israelenses e aos palestinos as negociações com relação a Jerusalém.

Com informações da AFP.

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