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Linha Direta

Hamas faz apelo por "dia de sangue" na Palestina

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A expectativa é grande nesta sexta-feira (22) em Israel e nos territórios palestinos depois da votação da quinta-feira (21) nas Nações Unidas na qual foi aprovada uma resolução condenando o reconhecimento pelos Estados Unidos de Jerusalém como capital de Israel.

Forças israelenses atacam com gás lacrimogêneo  protesto contra a decisão do reconhecimento de Jerusalém por Donald Trump como capital de Israel, em 21 de dezembro de 2017.
Forças israelenses atacam com gás lacrimogêneo protesto contra a decisão do reconhecimento de Jerusalém por Donald Trump como capital de Israel, em 21 de dezembro de 2017. REUTERS/Goran Tomasevic
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Daniela Kresh, correspondente da RFI em Israel

A expectativa é de que esta seja uma sexta-feira (22) de protestos de palestinos na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental e na Faixa de Gaza. O líder do grupo islâmico Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, declarou, em rara aparição na televisão palestina, que será um “Dia de sangue”, ou seja, um dia no qual todos os palestinos devem sair às ruas e pegar em armas contra Israel.

As sextas-feiras são feriados entre os palestinos, como se fossem domingos no Brasil. Escolas e repartições públicas não abrem, por exemplo. Então, é o dia da semana quando há mais protestos, sempre depois das orações da hora do almoço ou um pouco depois.

Há duas semanas, depois do reconhecimento norte-americano de Jerusalém como capital de Israel, houve uma sexta-feira de protestos e alguns confrontos entre manifestantes palestinos e forças de segurança israelenses. Na semana passada, o clima foi bem mais calmo. Mas, ao que parece, os ânimos podem voltar a ferver nesta sexta-feira.

Estopim

O estopim da violência foi a votação desta quinta-feira (21) nas Nações Unidas, em Nova York, na qual 128 países, incluindo o Brasil, condenaram o reconhecimento de Jerusalém pelo governo Donald Trump, que prometeu transferir a embaixada norte-americana de Tel Aviv para a cidade. 35 países se abstiveram e só 9 votaram contra a moção, entre eles, claro, os Estados Unidos e Israel. 21 países não estiveram presentes.

A embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Hailey, afirmou que “os Estados Unidos vão lembrar deste dia em que foram discriminados pela Assembleia Geral pelo simples ato de exercer o direito de escolher onde quer colocar sua embaixada”. E garantiu que a embaixada vai ser transferida, não importa o que diga a ONU.

Nos últimos dias, o presidente Trump e a própria embaixadora tentaram pressionar certos países-membros da ONU a rejeitar a moção, afirmando que os Estados Unidos cortaria a ajuda financeira a eles e também à própria ONU. Mas não deu certo. A resolução foi aprovada por dois terços dos países-membros.

Reação de palestinos e de Israel

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que seu país “rejeita completamente” o que chamou de “resolução absurda”. Ele afirmou que Jerusalém é, sempre foi e sempre será a capital de Israel.

Netanyahu tentou ver o lado bom, afirmando que, pela primeira vez, um grande número de países, 35, não vou contra Israel e sim se absteve. Entre eles, alguns países europeus, a Austrália, o Canadá e países latinoamericanos como México e Argentina, que costumavam sempre votar com o bloco de países árabes contra qualquer resolução anti-Israel.

Para Netanyahu, isso foi uma vitória – fruto de esforços diplomáticos intensos. O governo dele até se alegrou porque 21 países não foram à votação, então, na verdade, 65 membros não compactuaram com a moção.

Mas a verdade é que quem ganhou mesmo foram os palestinos, que novamente tiveram sua posição corroborada pela ONU – apesar de que, se Jerusalém não é capital de Israel, também não deveria ser da Palestina, como querem os palestinos.

Pelo plano de Partilha da Palestina aprovado pela ONU há 70 anos, Jerusalém deveria ser uma cidade internacionalizada. Quer dizer: não deveria ser capital nem do Estado dos judeus, nem do Estado dos árabes na região. O porta-voz do presidente palestina Mahmoud Abbás, Nabil Abu Rudeina, no entanto, disse que seu povo continuará seus esforços em fóruns internacionais até estabelecer um Estado palestino com Jerusalém Oriental como sua capital.

Detalhes à parte, trata-se de uma clara vitória diplomática palestina, mesmo que, na realidade, não mude nada, na prática, no dia a dia de Jerusalém.

Vésperas de Natal na "Terra Santa"

Tudo isso acontece dias antes do Natal na Terra Santa, quando centenas de milhares de turistas visitam em massa as cidades bíblicas de Jerusalém e Belém. Neste dezembro, há 20% a mais de turistas em Israel na comparação com o ano passado, segundo dados do Ministério do Turismo local.

O turismo na "Terra Santa" sempre sofre em momentos de tensão por aqui. No Natal de 2014, houve um grande percentual de cancelamentos de grupos por causa do conflito que aconteceu entre Israel e o Hamas alguns meses antes.

No ano seguinte, em 2015, também houve certa queda por causa de uma onda de ataques terroristas contra israelenses pelo país. Mas, em 2016, o turismo voltou com força total e, este ano, bateu todos os recordes históricos.

Ao que tudo indica, a tensão gerada pelo anúncio de Trump quanto a Jerusalém não conseguiu murchar este Natal na "Terra Santa".
 

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