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“Shimon Peres não foi o apóstolo da paz como julgam”, diz historiadora

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Muita comoção em Israel e homenagens de líderes mundiais desde a confirmação da morte do ex-presidente e ex-primeiro-ministro Shimon Peres, aos 93 anos de idade, na madrugada desta quarta-feira. Peres foi um dos fundadores do estado de Israel, e em 1994 ganhou o prêmio Nobel da Paz, juntamente com o então presidente israelense Yatzhak Rabin e o líder palestino Yasser Arafat pelos acordos de Oslo, uma das principais tentativas de paz entre israelenses e palestinos.

A historiadora orientalista Dejanirah Silva Couto, professora da Escola Prática de Altos Estudos.
A historiadora orientalista Dejanirah Silva Couto, professora da Escola Prática de Altos Estudos.
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Em seis décadas de carreira política, alternando cargos de alto comando do país como primeiro-ministro, presidente, chanceler e ministro da Defesa, Peres foi uma das personalidades políticas mais marcantes da história de Israel, mas o “eterno otimista” sobre as chances de paz com os palestinos, como ficou conhecido, não obteve consenso em seu próprio país.

“Em Israel, retrospectivamente, sua herança não é a de apóstolo da paz tal como se quer julgá-lo ou como parece. Ultimamente, em sua cronologia, houve uma tendência de realçar o aspecto determinante, que foi a criação da defesa do Estado de Israel e também das negociações de paz com os Acordos de Oslo. Mas tem a tendência de focalizar-se menos nas posições mais rígidas e à direita dos últimos anos de sua carreira”, afirma a historiadora Dejanirah Couto, professora na Escola Prática de Altos Estudos de Paris. Especialista em Oriente Médio, Dejanirah destaca alguns aspectos críticos de sua ação, como o apoio às primeira instalações de colônias judaicas nos territórios palestinos.

“Ele foi um grande vencedor, a pessoa que permitiu e foi protagonista da aquisição de armas e a construção do aparelho de defesa do próprio Estado”, afirmou. “Mas nos últimos anos, começou a adotar posições consideradas contraditórias e que foram mal recebidas, sobretudo em relação à criação das colônias, que de algum modo, vieram envenenar as relações entre os partidários de uma paz franca e os partidários de uma paz militarizada, que passava principalmente pela aceitação por parte dos palestinos dessas colônias”, explicou

Negociações israelo-palestinas

Segundo a historiadora, a morte de Shimon Peres não terá impacto nas negociações de paz entre israelense e palestinos que se encontram em ponto morto. “No contexto atual israelo-palestino e da comunidade internacional, Peres ficará com uma figura histórica, mas o período de sua ação já passou. Na engrenagem atual política há outros fatores que pesam na balança que a herança de Shimon Peres. Não creio que venha a repercutir nem na política israelense e nem nas negociações de paz com os palestinos”, comenta.

O ex-líder será enterrado com honras de Estrado nesta sexta-feira, em Jerusalém, na presença de vários líderes mundiais, mas sua lembrança permanecerá viva na memória dos israelense, segundo Dejanirah Couto: “A História vai reservar a Shimon Peres um lugar extremamente importante, como reserva igualmente a Yatzhak Rabin, por razões diferentes. Mas o que eles têm em comum é que foram pais fundadores da potência de Israel. É com esse título que ele terá um lugar reservado na História”.

 

 

 

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