Rússia quer promover conferência de paz entre Israel e Palestina

O avanço da Rússia no Oriente Médio vem sendo observado com cautela e certa apreensão pelo Ocidente. Moscou já assume um papel crucial nas negociações para o fim do conflito na Síria e em breve nas negociações de paz no conflito entre Israel e Palestina.

Soldados do exército israelense em campo de refugiados palestinos de Al-Fawwar, Cisjordânia, sul de Hebron. 16 de agosto de 2016 REUTERS/Mussa Qawasma

Sandro Fernandes, correspondente da RFI em Moscou

O presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, afirmou em entrevista à imprensa egípcia que Putin está preparado para mediar as negociações de paz do Oriente Médio, sediando na Rússia uma cúpula palestino-israelense.

Sisi tem boas relações com Israel e com a Autoridade Palestina e declarou que Putin teria falado com ele sobre a intenção de receber, em Moscou, Mahmud Abbas, o presidente palestino, e Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelense, para a realização de negociações diretas. O objetivo seria encontrar uma solução para o conflito na região.

As últimas negociações entre Israel e Palestina foram organizadas pelos Estados Unidos, em 2014, duraram nove meses, mas não conseguiram chegar a um acordo para acabar com o conflito entre os dois países. Desde então, as negociações estão suspensas.Essas declarações de Sisi acontecem depois de uma viagem do chanceler egípcio a Israel, a primeira em nove anos. Em 1979, o Egito foi o primeiro país árabe a assinar um tratado de paz com Israel, depois de quatro guerras.

Primeiro-ministro russo quer visitar região em novembro

O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, vai à Palestina em novembro, provavelmente no dia 11, em visita oficial, informou o embaixador palestino em Moscou, Abdel Hafiz, à imprensa estatal russa. O diplomata palestino disse que Medvedev vai se reunir com o presidente da Autoridade Nacional Palestina "para discutir assuntos sobre o Oriente Médio e a agenda bilateral". Medvedev também visitará Israel.

Em abril desse ano, Abbas visitou Moscou e expressou a sua intenção de que fosse convocada uma conferência internacional sobre o Oriente Médio com a mediação do Kremlin. Abbas enfatizou aqui na Rússia que sua ideia é criar um Estado nas fronteiras de 1967 com capital em Jerusalém Oriental, ideia que sempre foi apoiada também pelo governo russo. Dois meses depois, em junho, Putin recebeu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. A questão palestina também foi a pauta do encontro.

Rússia reforça influência no Oriente Médio

A Rússia tem tido um papel cada vez mais importante no Oriente Médio. Um exemplo éo conflito sírio. A Síria é o único país árabe que mantém uma relação amigável e estável com a Rússia desde 1950. E Moscou apóia a permanência no poder do presidente sírio Bashar al Assad na luta contra o Estado Islâmico. A Rússia tem uma base naval na cidade síria de Tartus e uma base aérea na cidade síria de Latakia. O apoio irrestrito a Assad é a principal desavença da Rússia com o Ocidente no conflito sírio.

Além da Síria, a Rússia também mantém boas relações com o Irã, o Iraque e com o movimento Hezbollah no Líbano. Um jornal alemão afirmou essa semana que a Rússia pode se transformar no "parceiro oficial do eixo xiita" do Oriente Médio. E se não fosse suficiente, a Rússia é ainda aliada do Egito e acaba de retomar as relações com a Turquia, colocando Moscou em uma posição ainda mais confortável no estratégico e importante Oriente Médio.