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Iraque/Estado Islâmico

Perseguidas pelo grupo Estado Islâmico, minorias se concentram no Curdistão iraquiano

O grupo Estado Islâmico, reconhecido mundialmente por espalhar o terror, com decapitações, estupros e outras atrocidades, tenta manter os territórios que conquistou e ainda possui a capacidade de executar ataques de alcance limitado. Richard Furst, correspondente da RFI Brasil, está em Irbil, no Iraque, e relata como está a situação dos refugiados cristãos nessa área.  

Crianças brincam em campo de refugiados nos arredores de Irbil, no Curdistão iraquiano.
Crianças brincam em campo de refugiados nos arredores de Irbil, no Curdistão iraquiano. REUTERS/ Azad Lashkari
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RFI: O que é mais preocupante nessa região onde você está, em Irbil?

Richard Furst, correspondente da RFI: A área dentro do Iraque que mais concentra os refugiados deste caos é o nordeste do país, onde fica o estado autônomo do Curdistão iraquiano. O local está a meia hora do território sob controle de jihadistas. A proximidade física com os radicais, que estão a meia hora daqui, e a situação de quem viu a morte de frente são assustadoras. O que os especialistas chamam de o maior pesadelo neste momento para a humanidade é para os iraquianos uma realidade cotidiana. As histórias são de pessoas perseguidas e em crise constante por perder tudo, inclusive a esperança. As milhares de pessoas que fugiram dos territórios controlados pelos radicais no Iraque e na Síria, áreas nas quais extremistas islâmicos proclamaram um 'califado', não têm forças nem para montar uma árvore de natal ou ao menos celebrar o fato de ter sobrevivido frente ao caos. Seja em tendas montadas em diversos pontos do Curdistão iraquiano, nos contêineres usados para transportar carga - aqui chamados de caravanas -, ou em apartamentos onde milhares refugiados estão alojados.

RFI: É uma situação que se arrasta desde junho; qual é a reação dos sobreviventes?

RF: O desespero agora é somado à tristeza e a vontade de se mobilizar de alguma forma. Uma senhora de 65 anos, por exemplo, deu aulas de inglês durante 40 anos na cidade de Qarakosh, onde morou até junho deste ano. Hoje o lugar está tomado pelos extremistas. A iraquiana afirma estar pronta para voltar ao trabalho para ajudar nas condições da família. Ela conta que tinha uma casa de dois andares e com três lojas embaixo. A senhora chegou a voltar pra casa num intervalo durante os conflitos, mas ao ver a morte de frente, foi obrigada a fugir da cidade natal. Quando eu pergunto sobre suas expectativas, ela fica sem resposta.

RFI: Para os cristãos é justamente a crença que os faz ser perseguidos. O sofrimento deles se soma ao dos yazidis, alauítas e xiitas que também são alvos do Estado Islâmico. Como tem sido o apoio de grupos de ajuda humanitária?

RF: Há melhoras nas estruturas que abrigam os milhares de refugiados. A maioria das tendas feitas de lona foram trocadas por material mais resistente devido à chuva e ao frio. Porém, as dificuldades ainda são grandes porque as temperaturas chegam abaixo de zero nesta época de inverno local. O grupo Ajuda à Igreja que Sofre, que tem trabalhado na região com as diferentes etnias, aponta que entre os grande problemas estão o desemprego e o pagamento abaixo do normal aos refugiados. O responsável pelos projetos da associação no Oriente Médio, o padre polonês Andrzej Halemba, afirma que há muitos desafios. Ele me contou que a vida está um pouco melhor, as casas são melhores, mas ainda há crianças sem possibilidades de ir à escola e os pais estão procurando trabalho em meio a uma multidão de perdidos.

RFI: Quais são as medidas de segurança tomadas no dia a dia?

RF: Há uma suspeita por parte dos moradores com qualquer desconhecido. Comigo, eu percebi logo ao entrar no território iraquiano. No aeroporto, fui quase deportado  ao apresentar uma carta emitida pela autoridade local. Fiquei detido no terminal aéreo por 24 horas sem água e comida, dormi por poucos minutos no chão de uma mesquita. Apesar de ter um acesso limitado à internet, pude reverter a situação e provar que eu não estava ilegal. No país, as chances de explosões de carros-bomba, ainda obrigam construções em toda a parte a se proteger com altas paredes de concreto. Eu fui parado duas vezes para apresentar o passaporte e carimbo com data de chegada ao país. É porque, nas ruas, o trânsito é regulado por uma série de controles militares, com verificação de documentos e busca por explosivos em carros. Esta é a situação no país, invadido pelos Estados Unidos, em 2003, e hoje castigado pela guerra com o grupo Estado Islâmico, que em junho tomou parte do território.

RFI: Qual é a reação local com os combates que parecem longe de um final?

RF: A população ficou otimista com a notícia de Irã, Síria e Iraque reafirmaram a cooperação contra Estado Islâmico, grupo conhecido aqui como Da'esh. Os três países não fazem parte da coalizão liderada pelos Estados Unidos contra os jihadistas. Durante uma visita surpresa aqui ao Iraque esta semana, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Chuck Hagel, apelou aos políticos iraquianos, divididos entre muçulmanos xiitas e sunitas, que formem um governo de união, capaz de conquistar a confiança das diferentes comunidades étnicas e religiosas do Iraque. O responsável americano afirmou que os Estados Unidos e os aliados podem ajudar os iraquianos, mas destacou que o sucesso definitivo da campanha contra os jihadistas depende do governo daqui. O primeiro-ministro iraquiano, Haidar al-Abadi, respondeu pedindo aos americanos novas armas e reforço nos ataques aéreos contra o EI. O ponto é que Bagdá e Washington discordam a respeito da estratégia militar: os americanos defendem uma campanha de ataques-aéreos-limitados, à espera do momento em que as forças iraquianas estejam mais preparadas para iniciar uma ofensiva extrema. O dirigente do Comando Multinacional Interarmas, integrado por militares de mais de 30 países, afirmou que as forças iraquianas estão melhorando, mas ainda faltam alguns meses para que possam iniciar uma ofensiva em grande escala.

 

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