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Linha Direta

Acordo não vai beneficiar imediatamente os iranianos

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O acordo preliminar entre as grandes potências e o Irã concluído no final de semana é uma espécie de primeiro passo para restaurar a confiança. Na prática, as mudanças tão esperadas pelos iranianos só acontecerão quando as potências ocidentais decidirem levantar sanções bancárias e petroleiras.Clique acima para ouvir Samy Adghirni, correspondente em Teerã do jornal "Folha de S.Paulo" em participação especial para a RFI

Conslusão do acordo levou euforia às ruas da capital iraniana Teerã.
Conslusão do acordo levou euforia às ruas da capital iraniana Teerã. IRAN-SETAD/PROPERTIES REUTERS/Stringer/Files
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O Irã se comprometeu a desacelerar drasticamente seu programa nuclear e a aceitar inspeções muito mais intrusivas de suas instalações atômicas. Em troca, as potências deverão aliviar parte das sanções.

O entendimento foi recebido com uma grande alegria no país. O acordo era o assunto principal nas conversas em táxis, lojas e cafés na noite deste domingo. Centenas de pessoas foram ao aeroporto de Teerã para receber a comitiva dos negociadores que voltavam de Genebra. Parecia torcida de futebol recebendo time campeão.

Conversando com iranianos, fica clara a esperança de que esta promessa de alívio das sanções, mesmo que seja um alívio modesto, pode melhorar a vida da população. As sanções causam inflação, desemprego e esvaziam os cofres públicos. Além disso, afugentam investidores. Entre os mais afetados estão os empresários, que sofrem com as oscilações do câmbio e com a queda das vendas.

Algumas transações comerciais do Irã com o exterior serão novamente autorizadas e o governo poderá recuperar parte dos fundos congelados em bancos no exterior. Isso pode ajudar a aliviar a inflação que está em 40%.

Porém, na prática, as mudanças tão esperadas pelos iranianos só acontecerão quando as potências ocidentais decidirem levantar sanções bancárias e petroleiras. Isso só deve acontecer, se acontecer, na segunda metade do ano que vem. Quando o Irã puder arrecadar lucros com grandes exportações de petróleo aí sim as pessoas sentirão um impacto maior no dia a dia.

O acordo inicial já gerou uma primeira reação positiva do mercado. A moeda iraniana, o rial, já recuperou 3% do seu valor em relação ao dólar.

Por que o Irã aceitou um acordo agora?

As sanções prejudicaram muito a economia e o governo iraniano sabe que as pessoas estão insatisfeitas. O presidente Hasan Rohani foi eleito em junho em grande parte graças à promessa de melhorar a relação com o Ocidente para conseguir o fim das sanções. Mas existe outra razão que é simplesmente o fato de o Irã já ter conseguido o que queria em matéria nuclear.

Teerã domina todas as etapas do ciclo nuclear e tem capacidade técnica para gerar energia, fazer pesquisa médica e até mesmo fabricar a bomba, se quisesse. O líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que tem a palavra final no país, sinaliza que é hora de melhorar a relação com o mundo.

Ainda é cedo para saber o impacto desse acordo no xadrez político do Oriente Médio. Primeiro é preciso esperar para ver se o acordo será cumprido pelas partes. Vale lembrar que o acordo só saiu porque americanos e iranianos voltaram a conversar diretamente, olho no olho, com muita facilidade, e isso já representa um terremoto geopolítico.

É curioso notar que os Estados Unidos ignoraram a rejeição de seus dois maiores aliados na região, que são Israel e a Arábia Sauditas, que têm pavor do Irã. O ensaio de reaproximação entre americanos e iranianos incomoda até mesmo alguns governos europeus, como a França. O que está por trás disso é o bom e velho pragmatismo.

Os Estados Unidos querem se distanciar do Oriente Médio e parecem apostar que o apoio do Irã é fundamental para estabilizar tanto a Síria como o Iraque e até mesmo Afeganistão. Já os iranianos querem ser considerados uma potência regional, um país sério e frequentável, e para chegar lá Teerã aceita se reaproximar aos poucos de Washington.

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