Regime iraniano convoca manifestação para conter oposição
O regime iraniano convocou a população para tomar as ruas de Teerã nesta sexta-feira para mostrar "aversão, indignação e revolta em relação aos líderes do movimento de oposição” no país. Na segunda-feira, milhares de pessoas foram às ruas de Teerã pedir reformas no país, inspiradas nos protestos que ocorrem nos países árabes. Houve confrontos violentos com a polícia e duas pessoas morreram.
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Com colaboração de Cris Vieira,
A grande manifestação pró-regime convocada para esta sexta-feira é uma resposta ao protesto anti-governo, o primeiro a ser realizado em um ano, que reuniu milhares de pessoas na capital Teerã, apesar da proibição imposta pelas autoridades e do aparato policial enviado ao local.
Nas véspera da manifestação oficial de apoio ao regime, o chefe da autoridade judiciária do Irã acusou os líderes da oposição de traidores. Crescem no país as pressões para um "castigo severo" e um julgamento rápido contra o ex-primeiro ministro Mir Hossein Moussavi e o ex-chefe do parlamento Mehdi Karoubi, que assumiram a liderança do movimento de oposição desde a reeleição contestada de Mahmoud Ahmadinejad, em junho de 2009.
Os sites internet de Moussavi e Karoubi publicaram um comunicado anunciando novas manifestações no domingo em memória aos dois jovens mortos durante os protestos de segunda-feira. Os ataques contra os líderes do movimento de oposição ganharam nova dimensão e a televisão estatal divulga imagens e entrevistas de deputados exigindo que Moussavi e Karoubi sejam "enforcados".
Para o professor de Relações Internacionais e especialista em Oriente Médio, Reginaldo Nasser, a contradição interna que dividiu a população iraniana é antiga e a pressão para reformas envolve uma parcela bem definida da população.
"O Irã tem uma classe média, média alta que se conecta com o mundo, seja por meio econômico ou intelectual. E esse extrato da população pede democracia há um bom tempo", explica.
Se por um lado o acesso do povo iraniano à educação aumentou, por outro a pressão e o controle da liberdade de expressão também se intensificaram. "É uma ditadura que apela constantemente para a mobilização", explica Nasser, lembrando que o regime sempre aponta Israel e os Estados Unidos como os grandes inimigos da nação.
"Com isso, ele (o regime) acaba tentando se colocar como o defensor do Irã. E é essa a visão que ele tenta passar para uma parte da sociedade. E passa. Então, essa parte da sociedade está vendo esses manifestantes contrárias ao governo, como traidores, como opositores ao país", afirma.
O especialista, no entanto, descarta que os protestos sejam capazes de levar o presidente iraniano a uma renúncia, como aconteceu na Tunísia e no Egito. “O que é mais provável, olhando um cenário otimista, é haver alguma reforma no governo. Mas não deposição”, conclui.
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