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Em texto no Le Monde, cientista política questiona existência do bolsonarismo

O Le Monde publicou nesta sexta-feira (26) um artigo de opinião assinado pela cientista política Mélanie Albaret, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, sobre a situação política no Brasil. Segundo ela, o bolsonarismo, que "talvez nem exista por si só", se aproxima de outros regimes populistas ou antiliberal, apesar de conservar suas especificidades.

Tribuna do jornal Le Monde destaca o Brasil com o seguinte artigo: Brasil: Brasil: "Durante a crise sanitária, Jair Bolsonaro continua sua luta frente aos contra-poderes".
Tribuna do jornal Le Monde destaca o Brasil com o seguinte artigo: Brasil: Brasil: "Durante a crise sanitária, Jair Bolsonaro continua sua luta frente aos contra-poderes". © Fotomontagem RFI/ Fotos Publicas/ Marcos Corrêa/PR
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A gestão controversa do presidente brasileiro da crise ligada ao coronavírus, ao minimizar o risco sanitário e recusar medidas de proteção, como o distanciamento físico, é o que mais chama atenção da imprensa internacional, pelo menos neste momento. Preservar a economia, em detrimento da segurança da população, é sua prioridade. Sua política tem as mesmas características de uma grande parte dos líderes populistas mundiais, ressalta a cientista política francesa. 

De acordo com ela, a atitude diante da pandemia é a continuidade de uma lógica presente no Brasil desde antes da crise sanitária, que conduziu à militarização do poder e à instauração de um regime autoritário e repressivo. Contrariamente ao que sugere o termo "bolsonarismo", a análise da situação no Brasil não pode se ater somente ao que acontece atualmente no país, e está relacionada a um contexto mundial.

"As dinâmicas políticas brasileiras devem ser analisadas dentro de uma configuração histórica que fez com que, em todas as partes do mundo, líderes populistas ou antiliberais chegassem ao poder", diz Albaret. 

Isso inclui problemáticas mais amplas, como a fragilização dos regimes democráticos de um modo geral, a fragilização das classes políticas "tradicionais" ou ainda o desenvolvimento de redes ultraconservadoras, além da contestação do multilateralismo em nível internacional.

"Nós e eles"

Assim como outros líderes populistas no poder, escreve a pesquisadora, e sendo fiel a seu discurso de campanha em 2018, Jair Bolsonaro divide a sociedade em dois segmentos: "nós" e "eles". Segundo a cientista política francesa, a partir dessa dicotomia ele denuncia o inimigo "comunista",  adjetivo usado para qualificar a esquerda brasileira, particularmente o PT e até a China. "Ele exalta o povo, as forças armadas e Deus para mobilizar seus principais partidários, e consegue, dessa forma, manter uma base de apoio sólida", ressalta no texto.

No caso da pandemia, destaca a pesquisadora, o presidente segue na batalha contra os eventuais contrapoderes: instituições políticas, sociais, jurídicas, a imprensa, especialistas ou as organizações internacionais. Ele enfrenta governadores, o Congresso ou as instituições judiciárias. Além disso, diz Albaret, Bolsonaro colocou amigos leais em cargos importantes, caso de Alexandre Sousa, braço direito de Alexandre Ramagem, amigo do presidente, que se tornou diretor da Polícia Federal.  

Negação científica 

As práticas autoritárias são similares a outros líderes populistas, como Viktor Orban, na Hungria, Narendra Modi, na Índia, Donald Trump, nos Estados Unidos ou Rodrigo Duterte, nas Filipinas. A diferença entre Bolsonaro e outros líderes é que as instituições democráticas já estão enfraquecidas no Brasil, desde a destituição de Dilma Rousseff, e também diante da ausência de uma alternativa política. Neste contexto, na opinião da cientista política, o chamado "bolsonarismo" não existe.

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