Jornal francês Le Figaro descarta catástrofe econômica no Brasil
A edição impressa do diário Le Figaro desta terça-feira (22) traz uma longa análise sobre a crise no Brasil. O respeitado jornal conservador questiona se o Brasil está à beira da "catástrofe econômica" e conclui que, apesar dos desequilíbrios atuais, o mercado brasileiro continua atraente para o investimento estrangeiro.
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Segundo Le Figaro, o Brasil não sairá rapidamente da crise atual. O jornal calcula que serão necessários três anos para um bom ajuste das contas públicas. Analistas ouvidos para a reportagem avaliam que o crescimento acelerado da economia brasileira durante a década de ouro das matérias-primas criou uma ilusão de que esse ciclo seria de longa duração. Para piorar, o governo brasileiro acreditou na "facilidade", lamenta Pierre Salama, professor da Universidade Paris XIII.
O texto, assinado pela jornalista Anne Cheyvialle, critica a crônica falta de investimentos na indústria brasileira, um problema que deveria ter sido tratado paralelamente ao "boom" das matérias-primas. "Todos os analistas estão de acordo que o problema mais grave da economia brasileira é a falta de investimento produtivo." De dois anos para cá, as exportações de commodities caíram, com a desaceleração da economia da China, e o Brasil se viu em uma armadilha de dependência exagerada das exportações, afirma o artigo.
O diário aponta vários erros de política econômica dos governos petistas. Os brasileiros, "acreditando na ilusão do ciclo Lula, se endividaram acima da capacidade de pagamento". Em dez anos, a taxa de crédito passou de 20% para 60% do PIB. O governo Dilma "subsidiou as tarifas de combustível, gás e energia, e depois retirou os incentivos bruscamente, alimentando a inflação". Com o retorno da inflação, veio a crise de desconfiança e a queda do consumo.
Um analista do banco BNP Paribas afirma que o maior erro de Dilma foi deixar as despesas do governo aumentarem sem controle, abrindo um rombo nas contas públicas. Para complicar o cenário econômico, o escândalo de corrupção na Petrobras minou a confiança no governo e nas instituições.
Tom otimista
Depois de descrever esse panorama sombrio, Le Figaro encerra sua análise lembrando o enorme potencial do Brasil. "O Brasil não vai recuar para uma tutela do FMI, isso é uma página virada da história", escreve o diário. O risco de um calote da dívida também está descartado, devido ao elevado nível de reservas, cerca de US$ 370 bilhões. Agora, arrumar a casa vai demorar uns três anos, prevê Le Figaro.
A análise termina com tom otimista: o Brasil possui muitas riquezas naturais - é o 4° exportador agrícola mundial e o 6° produtor de petróleo. Mesmo com um baixo nível de investimentos, a indústria brasileira é diversificada e o país continua sendo o 4° destino dos investimentos estrangeiros no mundo. "A curto prazo, a desvalorização do real poderá dar um impulso à competitividade do país", conclui a reportagem.
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