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Imprensa

Jornais franceses explicam por que não publicaram foto do menino sírio

Os jornais franceses desta sexta-feira (4) repercutem a comoção mundial provocada pela publicação da foto do menino Aylan, um refugiado sírio encontrado morto no litoral da Turquia. Em reportagens e editoriais, os diários franceses também explicam a seus leitores a decisão de não ter publicado, em sua maioria, a imagem nas capas do dia anterior, como fizeram muitos jornais da Europa.

O Le Monde foi um dos únicos jornais a estampar a foto sem hesitação.
O Le Monde foi um dos únicos jornais a estampar a foto sem hesitação. Reprodução
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Na França, a publicação da foto do corpo inerte do menino Aylan apenas em sites na manhã de quinta-feira (3), a não nos impressos. Mesmo assim, a publicação nas plataformas digitais só aconteceu depois da ampla repercussão nas capas em jornais europeus e espanhois, que estamparam a imagem em suas manchetes. Muitos veículos de comunicação avaliaram a pertinência de divulgar a imagem, levando em conta o respeito à dignidade humana.

Le Monde

O jornal vespertino Le Monde foi um dos únicos da França a publicar as fotos já no primeiro dia, em sua edição que chegou às bancas na tarde de quinta-feira. Deu amplo destaque à foto e justificou, em editorial, a vontade de deixar registrada "uma parte da realidade atual". “Não se trata de voyeurismo nem de sensacionalismo”, escreveu.

Libération

Já a direção do Libération explicou aos leitores que a foto não foi publicada no dia anterior porque a redação "simplesmente não a viu". No texto, o diretor responsável pelas edições, Johan Hufnagel, tentou relativizar a responsabilidade do jornal ao comentar que as agências de fotografia deveriam ter alertado sobre a importância da imagem, o que não aconteceu.

Outra possibilidade evocada pelo diretor foi a de que os responsáveis pela editoria de fotografia do Libération, muito ocupados com o fechamento do jornal, julgaram a foto dura demais para ser publicada. De qualquer forma, o jornal se defende dizendo que há várias semanas dedica suas manchetes ao drama dos migrantes e para denunciar a inação dos governos.

Libération dedicou uma reportagem só para explicar os bastidores de uma foto histórica, que chocou parte de uma opinião pública que até então se mostrava indiferente ao drama dos migrantes. Ao contar a história de Aylan, Libération diz ainda que o menino só conheceu, durante sua curta existência, cenários de guerra e de fugas.

Aujourd'hui en France

Em editorial, Aujourd"hui en France afirma que publicar a foto é uma violência que, no espaço de um dia, se tornou necessária. Isso, defende o editorialista Frédéric Vezard, porque ela deve ficar impressa na páginas do jornal e na memória coletiva como aquela que mudou a percepção dos europeus sobre a tragédia dos migrantes.

Sem fazer mea-culpa por não ter dado destaque no dia anterior, Aujourd'hui en France diz que a imagem tem a força de um soco no estômago e mexe com nossos corações. É preciso mostrar o horror para fazer com que os dirigentes percebam que a situação não pode mais continuar, diz o texto. As imagens do corpo do menino provocaram um verdadeiro choque em todo o mundo e despertaram muitas consciências, segundo o jornal.

Na manchete, Aujourd' hui en France publica a foto de Aylan sorrindo, mas nas páginas internas, há a imagem de seu corpo na areia sendo observado por um membro da guarda costeira turca.

Le Fígaro

Le Figaro publica a foto do corpo de Aylan sendo levado nos braços do membro da guarda costeira e afirma que as imagens emocionaram o mundo inteiro, principalmente graças à imprensa e as redes sociais. O diário conservador francês explicou que as agências de fotografias divulgaram o famoso clichê por volta das 18h30 e muitos jornais europeus, especialmente os ingleses, optaram por publicar ontem com destaque em suas edições.

Sem dar espaço para uma autocrítica, Le Figaro disse que a foto do menino Aylan, assim como a descoberta dos cadáveres em um caminhão frigorífico na Áustria, desencadeia uma tomada de consciência e expõe a ineficácia das políticas europeias. No entanto, as decisões tomadas sob o impacto da emoção ou do pânico só agravam a situação ao invés de melhorá-la.

O jornal critica assim o anúncio, ontem, da proposta de Paris e Berlim que querem impor cotas aos países para acolher os refugiados. “Como manter em Portugal um refugado que quer ir à Alemanha?”, questiona Le Figaro. O jornal defende a criação de estruturas em países fora da União Europeia para identificar os verdadeiros candidatos a asilo.
 

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