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França/Resenha da imprensa

Para jornais, atentado no trem foi evitado mais por sorte do que por preparo

Passados os relatos do heroísmo de três jovens americanos que evitaram um ataque terrorista em um trem entre Bruxelas e Paris na última sexta-feira (21), as perguntas ganham as capas dos jornais franceses nesta segunda-feira. As mais comuns delas estão na ordem do "e se?": "E se os três americanos não estivessem no trem?"; "E se o terrorista soubesse manejar as armas que carregava?"; Se um atentado de proporções graves foi evitado, não foi por preparo, mas por sorte. Essa tese é mais ou menos unânime na imprensa francesa.

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Le Figaro começa seu editorial elogiando a ação dos jovens americanos, mas lembra, já na primeira frase, que "eles não estarão sempre lá". O diário conservador observa que a trajetória de Ayub el-Khazzani está longe de fugir à regra: "um lobo solitário que se radicaliza e é fichado pelos serviços de inteligência, mas circula livremente pela Europa, assim como Ahmed Ghlam, estudante suspeito de planejar atentados contra igrejas no Val-de-Marne, ou Yassin Salhi", o homem que decapitou seu patrão em Isère no final de junho.

Conservadores...

"De que adianta fichar milhares de pessoas, se os terroristas em potencial continuam livres para ir e vir como bem entendem em nossa casa?", pergunta Le Figaro. Ao fim do texto, o jornal ainda alfineta o ministério do Interior, cuja principal resposta ao atentado foi anunciar a criação de um novo telefone de emergência para receber denúncias de atividades suspeitas.

"Nem todos os números especiais do mundo podem mudar o que quer que seja". Para o jornal, é preciso uma nova abordagem, que o jornal não sugere diretamente, mas coloca na boca de seus entrevistados, como o ex-comandante da guarda nacional Frederic Gallois, que sugere a criação de postos de controle nas fronteiras. Ou o secretário geral adjunto do partido dos Republicanos (antiga UMP), Eric Ciotti, que propõe o estabelecimento de centros de detenção para os suspeitos. A extremista Marine Le Pen propõe a expulsão de todos os estrangeiros que têm supostas ligações com o islamismo radical.

...e progressistas

O Libération faz uma descrição detalhada do incidente, a partir das declarações de testemunhas: o momento em que o jovem marroquino saiu de um banheiro armado de uma AK-47 e foi interceptado por um primeiro passageiro; o pânico, que se espalhou por diversos vagões depois de um disparo; a ação heroica dos três fuzileiros navais, que conseguiram desarmar o atirador; a chegada dos serviços de segurança e a evacuação do trem.

E, claro, o jornal relembra as grandes questões que voltaram à tona com o caso. Os trens são seguros, enquanto não houver um controle da identidade dos passageiros, enquanto nem eles nem suas bagagens passarem por um detector de metal? Por outro lado, esse controle exigiria mais funcionários e geraria filas de espera. Afinal, são 15 mil trens em circulação entre mais de 3 mil estações francesas.

A livre-circulação dentro da União Europeia é outro ponto que gera polêmica a cada atentado, mas o Libération observa que o espaço Shengen não significa falta de controle, mas exatamente o contrário: "a Europa criou uma cooperação policial que funciona cada vez melhor. O terrorista do Thalys foi detectado na França e na Bélgica, mas não havia cometido nenhuma infração". Talvez os trens pudessem fazer uma coleta de dados massiva, a exemplo da que fazem as companhias aéreas.

Mas um um deputado alemão ouvido pelo jornal observa que "isso não é necessário nem adequado à luta contra o terrorismo", porque gera uma quantidade imensa de dossiês quando o problema é justamente especificar e seguir os suspeitos.

Para o Aujourd'hui en France, a única saída é aumentar a vigilância - não só por parte do Estado, mas de todos os cidadãos, adotando a política americana do "if you see something, say something" (se você vir alguma coisa, diga alguma coisa).
 

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