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Linha Direta

Como Cristina Kirchner pretende deixar o governo sem deixar o poder

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Contagem regressiva na Argentina para a corrida presidencial. Os partidos políticos tem até este sábado (20) para apresentar as listas de candidatos a presidente, ao Legislativo e ao governo da província de Buenos Aires, que tem 40% dos eleitores. São horas de definições para o futuro político do principal parceiro do Brasil que vai às urnas em outubro. Mesmo sem poder concorrer a um terceiro mandato, a presidente Cristina Kirchner é o centro do cenário eleitoral e já encontrou uma forma de deixar o governo, mas não o poder.

A presidente da Argentina Cristina Kirchner.
A presidente da Argentina Cristina Kirchner. REUTERS/Marcos BrindicciCristina Kirchner de dar calote na dívid
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires.

Cristina Kirchner está impedida pela Constituição de disputar um terceiro mandato consecutivo. Sem herdeiros políticos, a oposição imaginava uma presidente enfraquecida. Gigantesco engano. As últimas pesquisas indicam que nos últimos três meses, Cristina Kirchner recuperou mais de 10 pontos de popularidade. Tem agora cerca de 40% de imagem positiva.

É uma recuperação surpreendente depois da morte do promotor Alberto Nisman em janeiro, de sucessivas denúncias de corrupção e da degradação econômica que significam uma recessão combinada com uma inflação em torno de 30%. Mas o governo conseguiu abafar as denúncias de corrupção, que não se falasse mais do caso Nisman e conseguiu, com manobras financeiras, empurrar o problema econômico para depois das eleições.

É um plano perverso de deixar uma pesada herança para o próximo governo, que terá o desafio de desativar a bomba. Imaginava-se que esse desafio seria da oposição, mas a recuperação de Cristina Kirchner pode permitir que o candidato do governo ganhe as eleições e até que ganhe no primeiro turno.

Quem são os candidatos

Estão definidos quais serão os principais candidatos a presidente: pela oposição, Sergio Massa, ex- chefe do gabinete de ministros de Cristina Kirchner e atual deputado mais votado nas eleições de 2013. Outro opositor é Mauricio Macri, atual governador do distrito federal de Buenos Aires. Pelo lado do oficialismo, Daniel Scioli, atual governador da província de Buenos Aires.

As pesquisas indicam que Daniel Scioli, candidato do governo, e Mauricio Macri, da oposição, estão tecnicamente empatados em torno de 30% com leve vantagem para o candidato oficialista. Mas aqui aconteceu a maior reviravolta das últimas horas: Cristina Kirchner impôs na chapa de Daniel Scioli como vice-presidente o seu braço direito e principal articulador político, Carlos Zannini.

Desconhecido do grande público, Zannini é simplesmente o autor material e intelectual das manobras do governo para perseguir juízes, jornalistas e empresários. É o verdadeiro chefe ideológico e político do governo, do serviço de inteligência e do caixa da política. Com Zannini, o candidato Scioli deixa de ser Scioli e passa a ser Cristina. É a continuidade absoluta do governo sem chance para uma mudança.

Scioli era o menos oficialista dos alinhados com o governo. Tinha um discurso equilibrado e moderado. Agora passa a ter um delegado de Cristina que o condiciona. Scioli pode ser eleito, mas o poder será exercido nas sombras por Cristina através de Zannini.

Cristina deputada?

Falta definir se Cristina Kirchner será ou não candidata a algum cargo. Se for, o mais provável é que seja candidata a deputada nacional. Pode parecer estranho que uma presidente recue a um cargo parlamentar, mas, do Congresso, Cristina Kirchner pode comandar a oposição ou condicionar ainda mais o governo.

Pode ainda ser candidata a legisladora pelo futuro Parlamento do Mercosul. Em ambos os casos, ela ganha com certeza e ainda consegue algo valiosíssimo: “impunidade” parlamentar.

Essa impunidade permitiria continuar ilesa diante de investigações judiciais que a complicam bastante. São investigações de lavagem de dinheiro que ainda envolvem o filho dela, Máximo Kirchner, que também deve ser candidato a legislador para conseguir imunidade e para se tornar num futuro herdeiro político.

Se resta alguma dúvida sobre essa tática, basta recordar o único discurso do filho dela em setembro passado. Ele disse: "Podemos entregar o governo, mas não o poder". Resta saber se a jogada de Cristina Kirchner garante mais votos ao seu candidato ou se, pelo contrário, diminui.

Embora política externa seja uma atribuição do presidente e seja muito o reflexo da personalidade de um líder que pode determinar mudanças muito rápidas, para o Brasil, a continuidade de Cristina Kirchner não é um bom sinal. Significa que pouco deve mudar num paralisado Mercosul e numa estagnada relação bilateral entre os dois principais sócios entre si.

 

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