Acessar o conteúdo principal
O Mundo Agora

Grécia está chegando perigosamente perto do "ou vai ou racha"

Publicado em:

Se não houver um acordo entre o governo grego e o resto dos países da zona euro nos próximos dias, a Grécia irá à falência. Com todas as conseqüências para os próprios gregos e para o futuro da União Europeia.

Manifestação em frente ao Parlamento grego contra a proposta de novas medidas de austeridade para o país sair da crise.
Manifestação em frente ao Parlamento grego contra a proposta de novas medidas de austeridade para o país sair da crise. REUTERS/Alkis Konstantinidis
Publicidade

Daqui até o fim de junho, o governo grego vai ter que reembolsar uma dívida de €1,6 bilhão para o FMI. E até 20 de julho, outra de €3,5 bilhões para o Banco Central Europeu. O problema é que Atenas não tem mais dinheiro em caixa. Se não receber os fundos do velho programa de ajuda europeu, estabelecido antes da chegada ao poder do partido esquerdista Syriza, não vai ter outro remédio senão dar um calote na Europa.
Comparando as quantias devidas com os €15 trilhões do PIB da zona do euro, essa queda de braço parece completamente trivial. Mas, na verdade, o que está em jogo não é dinheiro. É simplesmente as regras de funcionamento da União Europeia e sua coesão interna. Há vários anos que a Grécia vem pisando feio na casca de banana da irresponsabilidade fiscal e econômica. E a casa desabou.

A famosa “troika” – a Comissão Européia, o Banco Central Europeu e o FMI – junto com as maiores economias do continente (e particularmente a Alemanha) responderam da maneira mais racional e tradicional possível. Se os gregos querem mais dinheiro para sair do buraco deverão também fazer o dever de casa: isto é, pesadas reformas estruturais. Só que o primeiro-ministro Alexis Tsipras foi eleito prometendo arrancar o tutu dos europeus sem ter que implementar reformas dolorosas. É querer a faca e o queijo.

A jogada de Tsipras é das mais arriscadas. Desde o início, o argumento é que se a Grécia ia à falência e tivesse que sair da zona do euro, a União Europeia inteira ia implodir. E que portanto era melhor soltar a grana contra algumas reforminhas inócuas, para impedir essa catástrofe. No começo da negociação, há cinco meses, até que essa ameaça tinha alguma credibilidade. Mas hoje, os europeus já se organizaram para aguentar o choque de um default grego. E uma saída da Grécia da União poderia até acelerar uma maior coordenação política e financeira entre os outros membros. Ainda por cima, Tsipras e seus negociadores acabaram irritando os interlocutores europeus, anunciando propostas novas que nunca vinham e dando shows de arrogância como se fosse o resto da Europa que estava precisando da Grécia e não o contrário.

Claro, ninguém deseja uma saída da Grécia, o que provocaria um verdadeiro tsunami no sistema financeiro grego e afundaria o país numa crise econômica sem fim, jogando boa parte da população num poço de pobreza sem saída. Nunca é bom ter um vizinho numa situação que a União Europeia – queira ou não – seria obrigada a administrar. Mas não a qualquer preço. Sobretudo que facilitar com Atenas poderia criar um precedente para outros países europeus mais frágeis que também teriam a tentação de desrespeitar as regras e os equilíbrios da União. O FMI já abandonou as negociações dizendo que o governo de Atenas recusava as reformas mínimas necessárias para receber um empréstimo. Tsipras argumenta que tem um mandato imperativo dos eleitores para recusar os ajustes. Mas os outros governos europeus também foram eleitos e seus eleitores não estão a fim de continuar subsidiando a irresponsabilidade dos gregos sem contrapartidas críveis.

Tsipras está imprensado entre os radicais do seu próprio partido e uma maioria do povo grego que não quer sair do euro e da Europa e morre de medo do consequente vendaval econômico. Resta a saber se o primeiro-ministro grego está só jogando pesado para obter um máximo de concessões antes de aceitar as exigências da “troika” no último minuto. Ou se ele acredita piamente que o resto da Europa vai acabar soltando o dinheiro quase de graça. Nos dois casos quem mais tem a perder, hoje, é o próprio Tsipras que pode ficar pendurado na brocha do caos político interno. E também a Grécia inteira que está ameaçada de virar um pequeno país falido, isolado e pobre dos Balcãs.

 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.