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Reportagem

Eleitores gregos querem colocar uma nova geração de políticos no poder

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Neste domingo, os gregos vão definir seu futuro e de certa forma o rumo das relações com os outros países da União Europeia. A Grécia se prepara para dar uma guinada à esquerda nas eleições legislativas. Pesquisas prevêm a vitória do partido Syriza, de linha marxista. A metade dos gregos deseja colocar uma nova geração de políticos no poder. As medidas de austeridade impostas pelo FMI e a Comissão Europeia sufocaram a classe média sem apresentar perspectivas de um futuro melhor. Um dado traduz a tragédia econômica da Grécia: o país deve reembolsar suas dívidas até 2045. É uma geração perdida.

Líder da extrema-direita grega, Alexis Tsipras, é apontado como favorito nas eleições deste domingo (25).
Líder da extrema-direita grega, Alexis Tsipras, é apontado como favorito nas eleições deste domingo (25). REUTERS/Alkis Konstantinidis
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Adriana Moysés, enviada especial da RFI à Atenas

Mas como a Grécia foi parar nesse buraco? Nas ruas de Atenas, os gregos têm saudade dos anos dourados. Com a doação do euro, a partir de 2002, o crédito abundante alimentou a espiral da dívida.

A designer brasileira Thisbe Gonzalez tem lembranças dessa época. “Quando os bancos liberaram os créditos, as pessoas faziam empréstimos para tirar férias. O governo teve uma parcela de responsabilidade e as pessoas não mediram as conseqüências disso”, relembra.

O casal Jorge Bandounas e Ana Lúcia Elias esteve empregado até outubro de 2012. Em 48 horas os dois perderam o trabalho. Jorge e Ana contaram à reportagem da RFI a dor dessa experiência. “É claro que me surpreendeu. Depois de 23 anos trabalhando em uma oficina mecânica, queriam diminuir 50% do meu salário. Eu não aceitei, meu chefe me demitiu e me substituiu por uma pessoa com o salário menor do que o meu”, conta Jorge. “Fui demitida um dia antes que meu marido. Estava sendo pressionada para assinar um acordo que dizia que eu seria desempregada sem receber indenização e não aceitei essa condição”, relata Ana Lúcia.

A crise criou um elo de solidariedade entre os gregos. Centenas de médicos e dentistas voluntários atendem gratuitamente pessoas que perderam a cobertura médica do Estado por causa do desemprego. A RFI visitou a uma rede de ambulatório chamada Kifa, sigla para Clínica e Farmácia Social de Solidariedade de Atenas. No estado da Atica, onde fica a capital grega, existem 18 unidades da Kifa, 30 em toda a Grécia.

Muito doente, o grego Spiros Ioanos, de 64 anos, relatou sua situação. “Vim aqui porque não tenho dinheiro para comprar remédios. Tenho problemas cardíacos e pulmonares. Preciso tomar nove comprimidos diariamente e na Kifa recebo esses medicamentos de graça. Há cinco anos eu trabalhava e conseguia pagar meus remédios. Estou desesperado e muito decepcionado com meu país”, desabafa.

O cozinheiro Alexandre Niotis, de família greco-brasileira, nasceu no Brasil mas veio com os pais para a Grécia quando tinha quatro anos. Hoje, aos 33 anos, ele está com a passagem marcada para retornar a São Paulo: “Faz seis anos que a Grécia passa por essa crise. Há um ano venho pensando em alternativas melhores. Não tem nenhuma família onde não haja pelo menos uma pessoa desempregada. Está muito difícil”, diz.

Terceiro lugar nas eleições

A disputa pelo terceiro lugar nas eleições gregas neste domingo está em aberto. Alguns institutos apontam o novo partido de centro-esquerda To Potami (“O Rio”, em português), em terceiro; outros dão a terceira posição aos neonazistas do Aurora Dourada.

Há um ano toda a direção do Aurora Dourada está na prisão, incluindo o presidente da legenda. Sete deputados foram indiciados na Justiça por pertencer a uma “organização criminosa”, depois que um membro do partido assassinou, em setembro de 2013, o cantor de rap Pavlos Fyssas. O crime chocou a Grécia. Mesmo assim, o partido xenófobo, de discurso violento anti-imigração, ainda atrai de 6% a 8% dos eleitores.

O novo partido de centro-esquerda To Potami, criado pelo apresentador de TV Stavros Theodorakis, reúne 8% das intenções de voto. O vencedor desse duelo pelo terceiro lugar é uma das incógnitas na véspera da votação.

Pela legislação eleitoral grega, quando nenhum partido obtém a maioria absoluta das 300 cadeiras do Parlamento, os três primeiros colocados são chamados a formar um governo pela ordem de chegada. O principal temor é que os neonazistas se encontrem nessa posição de força.

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