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Linha Direta

Atentados na França podem acelerar migração de judeus franceses para Israel

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O ataque terrorista ao supermercado de produtos judaicos em Paris, que deixou quatro reféns mortos, chocou a comunidade de cerca de 500 mil judeus da França e pode levar a uma migração em massa para Israel. As autoridades americanas e lideranças judaicas dos Estados Unidos estão alarmadas com o aumento do antissemitismo na Europa e na França, mas não pretendem se envolver na polêmica desencadeada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que convidou os judeus franceses a emigrarem para Israel. A declaração irritou as autoridades francesas, mas deve repercutir no movimento já existente de trocar o país por Israel.

Funeral em Israel das vítimas do atentado contra uma mercearia judaica de Paris.
Funeral em Israel das vítimas do atentado contra uma mercearia judaica de Paris. Reuters
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Daniela Kresch, correspondente da RFI em Israel

A expectativa é de um aumento na imigração francesa em Israel, seguindo uma tendência que começou em 2012, depois do atentado a uma escola judaica em Toulouse, no sul da França, que também deixou quatro mortos, entre eles três crianças. O aumento no número de ataques antissemitas na França também influencia esse movimento migratório.

No ano passado, por exemplo, mais de sete mil judeus franceses imigraram para Israel, superando o número de americanos, russos e de outros países e dobrando a cifra de 2013. Nos últimos 40 anos, a média anual de imigrantes judeus franceses não passava dos 2 mil.

A Agência Judaica, o órgão do governo de Israel responsável pela imigração, estimava, antes dos ataques da semana passada, que cerca de 10 mil judeus franceses se mudariam para o país em 2015. Depois dos atentados, a expectativa é de um número ainda maior.

A procura por informações sobre a “aliá”, ou subida, como a imigração para Israel é apelidada, triplicou na última semana. Lembrando que a comunidade judaica da França conta com pouco mais de meio milhão de pessoas, a maior da Europa e a terceira maior do mundo, ficando atrás apenas de Israel e dos Estados Unidos.

Outros países europeus

Essa tendência de aumento do movimento migratório para Israel é registrada em toda a Europa. Segundo dados da Agência Judaica, houve um aumento de 88% na imigração de judeus da Europa Ocidental em 2014 em comparação com 2013.

Além de franceses, por exemplo, se mudaram para Israel 620 britânicos e 340 italianos. Mas a imigração mais forte é, sem dúvida, a francesa. O começo desse fluxo foi sentido há cerca de sete anos e agora se igualou ao auge anterior, de 5,200 imigrantes franceses em 1967, depois da Guerra dos Seis Dias.

Na época, a vitória israelense contra quatro exércitos árabes incentivou judeus a optarem por morar em Israel, ao mesmo que tempo em que levou a retaliações contra comunidades judaicas em colônias francesas como Tunísia e Marrocos.

Reações às declarações de Netanyahu

As declarações de Netanyahu, que os judeus da Europa seriam recebidos com alegria pelo Estado Judeu, causaram um mal-estar diplomático entre israelenses e franceses. No domingo (11), Netanyahu postou em sua conta do Twitter um recado para “todos os judeus da França” e “da Europa”.

Ele afirmou que Israel não é apenas o lugar na direção em que eles rezam, numa referência ao fato de que os judeus costumam orar na direção de Jerusalém. Segundo Netanyahu, o Estado de Israel é o “lar” dos judeus.
No discurso que fez na terça-feira (13) em Jerusalém, durante o funeral dos quatro judeus mortos no supermercado de produtos judaicos, o premiê passou mais um recado nesse sentido.

Ele disse que os judeus têm o direito de viver em segurança em outras nações, mas que “no fundo de seus corações eles sabem que só têm um país, o Estado de Israel”.O diretor da Associação Europeia Judaica, rabino Menachen Margolin, rejeitou essa noção afirmando que imigrar para Israel não deve ser uma “reação pavloviana toda vez que judeus na Europa são atacados”.

A verdade é que a discussão interna entre os judeus de Israel e da Diáspora quanto à ideia de que todos deveriam se mudar para Israel não é de hoje e divide os cerca de 18 milhões de israelitas espalhados hoje pelo mundo.

Manifestação em Paris

Netanyahu também foi criticado por participar da Marcha da União em Paris, no domingo (11). A imprensa israelense criticou o premiê por decidir finalmente presenciar a manifestação, depois de ter avisado que não o faria.

Alguns jornalistas e analistas afirmam que foi uma viagem cara e desnecessária e que o objetivo principal dela teria sido angariar votos a dois meses das eleições legislativas de 17 de março.Netanyahu insistiu em ir depois de saber que o ministro do Exterior, Avigdor Lieberman, e o ministro da Economia, Naftali Bennet, já estavam com as passagens nas mãos. Tanto Lieberman quanto Bennet lideram partidos de direita que competem com o Likud, o partido conservador do primeiro-ministro.

Além isso, segundo informações da mídia israelense, o presidente francês François Hollande teria pedido a Netanyahu para que não comparecesse à marcha para que o evento não tivesse o foco desviado para o conflito entre israelenses e palestinos no Oriente Médio. Como o líder de Israel decidir viajar assim mesmo, Hollande se esforçou para que o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, também estivesse presente.

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