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Linha Direta

Caso de Ebola na Espanha aumenta temor até nos Estados Unidos

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Uma semana depois de Thomas Duncan, de 42 anos, ser o primeiro paciente diagnosticado com Ebola nos EUA, em Dallas, no Texas, os funcionários do serviço de emergência de Nova York, o famoso 911, incluíram uma nova pergunta no questionário obrigatório para os que ligam se queixando de dores no corpo, febre e vômito: “Você esteve no Oeste da África nas últimas três semanas? Se por lá esteve, entrou em contato com alguém comprovadamente contagiado pelo vírus Ebola?”.

Cinegrafista que foi contaminado pelo vírus Ebola foi internado em um Hospital do Nebraska.
Cinegrafista que foi contaminado pelo vírus Ebola foi internado em um Hospital do Nebraska. REUTERS/Sait Serkan Gurbuz
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Eduardo Graça, correspondente da RFI, em Nova York,

Pânico talvez seja, ainda, um exagero, mas a preocupação é inegavelmente crescente. Embora o vírus tenha matado centenas de profissionais da saúde na África Ocidental, as autoridades médicas dos EUA seguem assegurando à população que o país fez seu dever de casa e se preparou para o combate ao Ebola.

O governo garante que o Ebola será combatido sem perdas humanas. Mas o caso da enfermeira espanhola, confirmado na segunda-feira (6), deu fôlego às vozes que batem na mesma tecla: “estamos à espera do novo Thomas Duncan, que pode vir no próximo voo”.

A confirmação do primeiro caso na Espanha aumentou a insegurança dos americanos. O país europeu é considerado um exemplo de rigor no controle de doenças infecciosas. A enfermeira, cujo nome não foi revelado, havia cuidado do padre Manuel García Viejo, que morreu no último dia 25, depois de ser infectado em Serra Leoa.

O sacerdote só ficou internado por três dias e a administração do Hospital Carlos III, em Madri, garante que a enfermeira entrou no quarto do paciente apenas duas vezes, uma delas depois da morte de Viejo.

Como disse a porta-voz do Centro de Controle de Doenças Contagiosas dos EUA, o CDC, “qualquer lapso no controle rigoroso da infecção pode colocar as pessoas em risco”.

Texas não é África

A população americana ficou ainda mais preocupada ao saber os detalhes do caso do Thomas Duncan. Ele avisou que havia acabado de voltar de uma viagem à Libéria e, mesmo assim, foi liberado para voltar para a residência da namorada, cidadã americana.

O resultado foi o estabelecimento de uma quarentena com apoio militar no bairro em que ela vive e a disseminação do medo na cidade texana de 1 milhão de habitantes. Em coletiva de imprensa na segunda-feira, autoridades locais lembraram que não há o mesmo nível de pobreza no Texas que na África Ocidental e que os recursos médicos também não podem ser comparados.

Mas, enquanto Duncan luta pela vida em um hospital de Dallas, vozes na direita pedem a suspensão imediata de vôos oriundos da Libéria, Serra Leoa e Guiné e atacam o CDC, e, por tabela, a administração Obama, que, de acordo com a oposição, teria sido negligente com a população.

A repercussão deixa claro que o Ebola virou um tema político. Em novembro, os americanos vão às urnas para renovarem a Casa dos Representantes, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, e um terço do Senado. Este último tem grandes chances de passar para as mãos dos republicanos, que já controlam a Câmara Baixa do Poder Legislativo.

Se isso acontecer, os dois derradeiros anos do governo Obama serão muito mais complicados. O problema para os democratas é que as características desta deflagração do Ebola dão mesmo margem a mais preocupações. É que esta é a primeira deflagração do vírus que não se restringe a áreas rurais.

Isolamento é melhor prevenção

O Ebola tem um índice de mortalidade estimado em 90% e não existe vacina capaz de conter o vírus. Profissionais da saúde concordam que a única reação possível é o isolamento dos infectados e o monitoramento daqueles que tiveram algum contato com os enfermos.

Acredita-se que Duncan, por exemplo, tenha se infectado na Libéria depois de ajudar a vizinha a entrar em um táxi e acompanhá-la até um hospital. Ele entrou nos EUA por Washington, onde um outro cidadão, vindo da Nigéria, foi colocado em isolamento por suspeita de ter contraído o vírus.

O mesmo aconteceu com outro passageiro, vindo da Bélgica e que entrou nos EUA por Newark. É o que o “New York Times”, o diário mais influente dos EUA, classificou de “epidemia do medo”. Mais de 100 suspeitas foram anunciadas pelo CDC nos últimos dias e pelo menos 15 pessoas foram testadas, todas com resultados negativos.

O vírus já é responsável pela morte, de acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde, de mais de 3.400 pessoas, em sua quase totalidade em solo africano.
 

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