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Linha Direta

Cessar-fogo na Ucrânia é assinatura em pedaço de papel

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O cessar-fogo na Ucrânia completa um mês no próximo domingo, mas parece que a trégua ficou somente no papel. Os separatistas pró-Rússia do leste assinaram um acordo de trégua com o governo central da Ucrânia e houve esperança de que os confrontos cessariam, mas não é isso que tem sido visto, principalmente na última semana.

Policial ucraniano postado em um checkpoint na cidade de Popasna no oeste da Ucrânia.
Policial ucraniano postado em um checkpoint na cidade de Popasna no oeste da Ucrânia. REUTERS/David Mdzinarishvili
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Sandro Fernandes, de Moscou

O presidente ucraniano, Petro Porochenko, disse no mês passado que foram acordados 12 pontos para levar a paz e a estabilidade às regiões do leste da Ucrânia. Entre esses pontos estão a descentralização do poder, a liberdade econômica, a anistia de presos políticos e a permissão de usar a língua de preferência. Lembrando que o idioma russo é amplamente majoritário no leste do país.

Vários desses pontos foram cumpridos. Dezenas de presos políticos foram libertados tanto pelo Exército ucraniano quanto pelos insurgentes do leste. Kiev prometeu mais autonomia para o leste e anunciou que as eleições na região seriam no dia 9 de dezembro, enquanto as eleições gerais ucranianas foram marcadas para o dia 26 de de outubro.

O autoproclamado estado Nova Rússia, que corresponde às regiões do leste ucraniano de Donetsk e Lugansk, não concordou com as datas, segundo eles, imposta por Kiev. E os líderes do novo Estado, como um sinal não só de autonomia mas de independência, decidiram marcar eleições na região para o dia 2 de novembro, exatamente uma semana depois das eleições gerais da Ucrânia.

Na verdade, este cessar-fogo, com muitas aspas, foi visto com cautela desde o princípio. No mesmo dia em que as partes envolvidas no conflito assinaram a trégua, os países da Otan, reunidos no País de Gales, exigiram que a Rússia retirasse as tropas da Ucrânia e anunciaram o envio de tropas para apoiar o governo de Kiev. Claro que isso não seria – e não foi – bem visto nem pelo Kremlin nem pelas forças separatistas.

Combates retomam no leste

Na última semana, a situação se degradou no leste da Ucrânia. Na segunda-feira, as autoridades ucranianas informaram que confrontos da última semana tinham deixado pelo menos 12 mortos e 32 feridos. No mesmo dia, as forças separatistas anunciaram a morte de nove soldados em um único dia. A Câmara Municipal de Donetsk disse, em um comunicado oficial, que três civis foram mortos em um ataque noturno a uma área residencial no norte da cidade, perto do aeroporto.

No domingo passado, nacionalistas ucranianos derrubaram uma estátua de Lenin na praça central da cidade, como uma demonstração simbólica do sentimento anti-Rússia. Kharkov fica a apenas 40 km da fronteira russa.

Na última quarta-feira, uma bomba explodiu em uma escola de Donetsk. Era o primeiro dia do ano letivo na Ucrânia e a explosão deixou pelo menos 10 mortos. Os professores tiveram que levar os alunos, entre oito e dez anos, a uma espécie de bunker para que se protegessem de outros possíveis ataques. O governo de Kiev acusa os separatistas pela explosão. Os separatistas acusam o governo de Kiev.

Funcionário da Cruz Vermelha é morto nos combates

Ontem, um funcionário suíço da Cruz Vermelha foi morto em um bombardeio em Donetsk. A bomba atingiu um centro comercial e foi o primeiro ataque ao centro da cidade desde a trégua do dia 5 de setembro. Também ontem, os separatistas pró-russos começaram uma ofensiva contra o aeroporto de Donetsk, que foi reconquistado pelo exército ucraniano.

Desde o início do conflito, que começou em abril e agora completa seis meses, pelo menos 3,5 mil pessoas foram mortas no leste da Ucrânia. Os números se referem aos civis mortos seja pelas forças de Kiev seja pelos insurgentes. Não há dados confiáveis que mostrem de quem é a responsabilidade por essas mortes. Para os mais pessimistas, o cessar-fogo na Ucrânia é apenas uma assinatura num pedaço de papel.

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