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Crise internacional é apenas uma das causas da recessão no Brasil, dizem analistas

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Pesquisadores franceses que estudam o desempenho do Brasil avaliam que a crise internacional explica apenas uma parte da recessão técnica que o país enfrenta, após dois trimestres consecutivos de redução do PIB (Produto Interno Bruto). Conforme os últimos números do IBGE, o PIB diminuiu 0,6% de abril a junho, em relação ao primeiro trimestre, quando a queda já tinha sido de 0,2%.

Trabalhador em linha de montagem de indústria automobilística.
Trabalhador em linha de montagem de indústria automobilística. brasil.gov.br
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Mais do que a crise, as escolhas macroeconômicas têm um peso maior na deterioração da situação econômica brasileira, que mantém uma forte dependência da China, registra o esgotamento do modelo de crescimento baseado no consumo e sofre com a queda nos investimentos em infraestrutura e em uma política industrial. Essa é a avaliação de Jean-Jacques Kourliandsky, pesquisador do Instituto Relações Internacionais e Estratégicas (Iris), de Paris.

“Não tem investimento industrial, o consumo caiu. Além disso, o principal parceiro do Brasil, a China, prefere vender produtos com alto valor agregado e comprar produtos brutos. Esse parceiro é uma faca de dois gumes, porque os produtos chineses que entram no mercado brasileiro fazem concorrência com a produção local”, explica. “Há uma deterioração das condições de concorrência e produtividade do Brasil em relação aos seus parceiros externos. E a economia brasileira é relativamente fechada, protegida, a não ser em relação aos parceiros do Mercosul.”

Desde que o crescimento do Brasil começou a cair, em 2011, o governo atribui a desaceleração à crise internacional – um contexto que prejudica o desempenho, mas não explica tudo, na opinião de Kourliandsky. Ele observa que outros países latinoamericanos, como a Colômbia e o Peru, têm mantido um nível elevado de crescimento, ao terem aberto a economia para o comércio com a Ásia.

Situação argentina

Outro pesquisador, Stéphane Straub, especialista em desenvolvimento da América Latina da Universidade de Toulouse 1, considera que o clima de pessimismo que ronda a vizinha Argentina tem impacto sobre o Brasil. Em meio à recessão, Buenos Aires decretou o segundo calote da dívida em apenas 13 anos.

“Eu acho que a situação atual da Argentina deve ter um impacto sobre o clima de confiança na América Latina. A Argentina é o terceiro parceiro de exportações do Brasil e o primeiro em termos de investimentos”, sublinha.

Straub refuta a ideia de que a queda da atividade econômica durante a Copa do Mundo, com o número elevado de feriados, tenha tido uma influência determinante nos números do PIB, ao contrário do que afirma o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O pesquisador francês destaca que, na realidade, “houve um problema de escolha das prioridades estratégicas” pelo governo, que concentrou os gastos nas obras para a Copa e não investiu em uma política industrial para o país. “Ao investir em estádios, não sobrou investimentos para sustentar o crescimento”, ressalta.

O professor lembra ainda que os anos de ouro do crescimento do Brasil foram embalados pela exportação de matérias-primas – mas a demanda internacional não apenas caiu, principalmente a chinesa, como os preços das commodities também diminuíram.

“Também não se pode dizer que toda a culpa é do governo. A crise atingiu realmente todas as grandes economias e prejudica o Brasil, na medida em que os mercados potenciais externos do Brasil não registram um crescimento muito alto”, observa.

Os dois estudiosos avaliam que, apesar do mau momento, o Brasil vai continuar sendo o motor da América Latina nos próximos anos.

 

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