Cessar-fogo entre Israel e Hamas vai depender de novas etapas do acordo
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O cessar-fogo entre Israel e o grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, continua valendo mais de 40 horas depois de entrar em vigor às 7h da noite de terça-feira, 1h da tarde no horário de Brasília. A calmaria leva à esperança de que esse conflito de 50 dias, que deixou 2.140 mortos palestinos e 70 israelenses, tenha realmente chegado ao fim.
Daniela Kresch, correspondente da RFI Brasil em Israel
Esse foi o maior dos conflitos entre Israel e o Hamas e o que fez mais vítimas dos dois lados. Em 50 dias, Israel atacou 5.200 alvos em Gaza, destruindo ou danificando, segundo a ONU, 17 mil casas e deixando mais de 100 mil pessoas sem moradia. Vão ser necessários US$350 milhões para começar a reconstrução, mas o prejuízo total é calculado em US$6 bilhões.
Já os grupos palestinos de Gaza lançaram 4.500 mísseis contra Israel, numa média de 100 por dia, que causaram danos e levaram 40 mil pessoas a abandonarem suas casas. Israel calcula em US$3,5 bilhões o prejuízo para o país.
Vencedores
Em termos políticos, cada lado garante que venceu a batalha.
Milhares de palestinos têm comemorado nas ruas de Gaza e os líderes do Hamas garantem que ganharam a guerra contra Israel. Já o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse ontem (27) que foi Israel que conseguiu uma grande vitória política e militar contra o Hamas. Mas ele não convenceu os israelenses: segundo pesquisa divulgada hoje, 54% disserem que ninguém venceu.
Acordo
Ninguém sabe se o cessar-fogo vai vingar.
O acordo não tem data para terminar, mas prevê duas fases. Na primeira, o bloqueio econômico à Gaza será aliviado com a abertura das passagens entre a Gaza e os países com os quais faz fronteira, Israel e o Egito, para a entrada de ajuda humanitária e material de construção. Além disso, Israel promete diminuir a zona tampão na fronteira, aumentando a área agrícola de Gaza, além de estender também a área de pesca.
O problema é a segunda fase do acordo, daqui a um mês, quando os dois lados se comprometeram a discutir outros pontos mais complicados.
O Hamas quer, por exemplo, a abertura de um porto, a construção de um aeroporto e a libertação de dezenas de presos. Já Israel quer que o Hamas entregue as armas e concorde em passar o controle de Gaza ao partido moderado Fatah, do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
No momento, as exigências dos dois lados nessa segunda fase parecem improváveis, o que leva a um temor do recomeço do conflito em um mês.
Articulação internacional
Nomes de peso da diplomacia internacional vieram para Israel para tentar desatar o nó que levou ao conflito. Entre eles, o secretário de Estado americano, John Kerry, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Os dois recrutaram ministros do Exterior da Europa, além de apelarem para a ajuda da Turquia e do Catar, que têm laços fortes com o Hamas. Mas a intervenção não foi bem sucedida. Só o Egito é que conseguiu, realmente, moderar as negociações.
A ONU também discutiu o conflito diversas vezes em Nova York e criou um comitê de inquérito para investigar suspeitas de crimes de guerra cometidos por Israel. Os israelenses ainda não decidiram se vão colaborar porque acreditam que ele deveria investigar também as ações do Hamas.
Netanyahou na berlinda
Antes do conflito, pesquisas de opinião apontavam para uma queda na popularidade de Netanyahu. Durante o confronto, no entanto, ele chegou a 90% de aprovação. Agora, as pesquisas apontam novamente para uma queda.
Muitos consideram que Netanyahu deveria ter continuado a ofensiva em Gaza para acabar com os arsenais do Hamas. Outros, que ele fortaleceu o Hamas ao aceitar negociar com o grupo islâmico.
Para aproveitar essa situação, a oposição já começou a criticar o governo, na esperança de ganhar votos no caso de serem convocadas novas eleições, em breve. Mas até membros da própria coalizão do governo estão se voltando contra Netanyahu que está, portanto, enfrentando fogo de casa de todos os lados.
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