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Linha Direta

Para argentinos, gol perdido da Suíça foi "milagre" do papa Francisco

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O gol de empate da Suíça só não aconteceu por intervenção divina, acreditam os argentinos. O jornal "Olé" batizou o lance de "trave de Deus." Vitória foi comemorada em bares e restaurantes.

Torcedores argentinos comemoram, em Buenos Aires, a vitória sobre a Suíça.
Torcedores argentinos comemoram, em Buenos Aires, a vitória sobre a Suíça. REUTERS/Enrique Marcarian
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Para comemorar a vitória, os argentinos se reuniram em cafés e restaurantes. Geralmente, depois de uma vitória, muitos torcedores vão ao tradicional ponto de encontro da cidade, o obelisco da Avenida 9 de Julho, no centro. Mas, desta vez, a maioria voltou ao trabalho. O frio em torno de 8 graus ajudou a manter as pessoas em ambientes fechados, mas a temperatura em Buenos Aires não teve nada a ver com o clima da torcida.

Foram 118 minutos de tensão. Antes do gol, a cidade era um cemitério, mas com o apito final logo depois do gol, a vida voltou ao normal: gritos, buzinas e muitas músicas que exaltavam a Argentina e citavam a rivalidade com o Brasil.

Com a definição do próximo adversário, a Bélgica, muitos se lembraram do bicampeonato de 86, quando a Argentina eliminou a equipe e foi rumo ao título. Uma das canções mais repetidas no país diz que a Argentina voltará a ser campeã como em 86 e que Messi é considerado o Messias.

Se o futebol também é fé, muitos viram um milagre contra a Suíça: foi na bola que no finalzinho do jogo bateu na trave argentina. Teria sido o gol de empate, quase impossível de perder. Muitos viram a mão do Papa Francisco, operando um milagre argentino. O jornal desportivo “Olé” chegou a definir o lance como "A trave de Deus".

Torcedores estão céticos

A Argentina venceu, mas não convenceu. As análises são bem objetivas: a Argentina não enfrentou ainda nenhuma seleção de peso, considerada candidata ao título. Os torcedores não desfrutam do jogo demonstrado até agora pela seleção. Desfrutam do resultado, mas sabem que equipes mais fracas como o Irã ou a Suíça foram capazes de complicar jogadores de primeira linha como Messi, Higuaín e Di Maria.

O jornal La Nación, o mais tradicional do país, definiu a classificação argentina como "emocionante e angustiante". Para o jornal, foram necessários 118 minutos de espera para um único instante de lucidez.

Já o Clarín, diz que a Argentina passou para as quartas-de-final com a alma e com muito sofrimento.

Argentinos sonham com final contra o Brasil

Os argentinos confiam numa final contra o Brasil no Maracanã e muitos sonham com um segundo Maracanaço em alusão à derrota do Brasil para o Uruguai em 50.

O gol de Di Maria que classificou a Argentina também desatou outro costume dos argentinos nesta Copa do Mundo: dedicar a vitória aos brasileiros. A canção que mais ecoou pelas ruas aqui é o "hit" argentino deste Mundial. "Brasil, diz-me o que se sente". A letra afirma que o Brasil vai ver o Messi trazer a Taça e provoca com a clássica comparação entre Maradona e Pelé.

Vitórias também têm efeito político

Provavelmente quem mais festeje as vitórias da seleção argentina seja a presidente Cristina Kirchner, já que o governo comprou os direitos de transmissão e de usar os jogos para incluir propaganda política. A presidente Kirchner tem vivido dias de muita tensão política. Primeiro, a Argentina luta para evitar uma segunda moratória depois de 12 anos, e na sexta-feira, o vice de Cristina Kirchner, Amado Boudou, foi indiciado pela Justiça por corrupção e atividades incompatíveis com a função pública.

A oposição quer abrir um processo de impeachment. Além disso, a inflação em torno de 40% ao ano não cede e a recessão ganha forma. Para Cristina Kirchner, a euforia popular com cada vitória serve para ganhar tempo e para uma distração popular dos reais problemas.
 

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