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França

França busca soluções para evitar radicalização islâmica nas prisões

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A prisão do francês Mehdi Nemmouche, principal suspeito de ter atirado e matado quatro pessoas no Museu Judaico de Bruxelas na semana passada, trouxe à tona um sistema de "doutrinamento" de futuros jihadistas nas prisões francesas. Um assunto que preocupa as autoridades, mesmo que o fênomeno ainda seja considerado marginal.

Captura da imagem de Mehdi Nenmouche durante o ataque ao Museu de Bruxelas
Captura da imagem de Mehdi Nenmouche durante o ataque ao Museu de Bruxelas Police fédérale belge
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O suspeito número 1 do ataque ao Museu Judaico de Bruxelas frequentava um grupo de detentos extremistas radicais e incitava os outros presos, segundo o procurador de Paris, François Moulins. Condenado sete vezes e preso outras cinco, o radicalismo de Nemmouche, não passou despercebido das autoridades penintenciárias, que alertaram os serviços secretos franceses em 2009.

A legislação atual, entretanto, impede que as autoridades investiguem os indíviduos antes que eles partam a outros países praticar o jihadismo. Por isso os agentes acabaram perdendo a pista de Nemmouche, que em 2012 foi para a Síria combater ao lado de grupos extremistas contra o regime do presidente Bashar al Assad e depois voltou para a França.

Para o especialista em questões ligadas ao terrorismo, Jean-Charles Brisard, consultor do governo francês, a religião muçulmana é pouco representada nas prisões francesas. Por isso existem detentos que se auto-declaram líderes religiosos, atraindo os mais jovens, que se sentem "desorientados e perdidos em termos identitários". Esta é a razão, diz, que explica a proliferação do extremismo e do proselitismo na prisão.

RFI – O que a administração francesa tem feito para evitar o doutrinamento nas prisões?
J.C. Brisard – O ministro do Interior (Bernard Cazeneuve) já declarou que irá contratar novos imãs para as prisões, para regular a presença dessa religião nas penitenciárias. Mas na verdade, as coisas são bem mais complicadas. Mesmo com a presença dos imãs, a prática religiosa se faz de maneira individual ou em pequenos grupos, e o monitoramento é muito complexo. Ainda mais que os agentes do serviço secreto presentes na prisão têm suas limitações. O Plano Nacional prevê 12 pessoas no total, 2 para cada região francesa, responsáveis pela apuração das informações sobre a progressão do extremismo.

RFI – O governo deve reforçar o número de policiais nas prisões?
J.CBrisard – Sim, haverá um reforço principalmente na DGSI, o serviço secreto francês. Mas nas prisões propriamente ditas, algumas vagas serão criadas. Os sindicatos pedem um reforço considerável da presença de pessoas para ‘enquadrar’ a prática religiosa, e também um escritório ligado ao serviço secreto, dentro das penintenciárias. Ele será responsável pela coleta deste tipo de informação e da radicalização de alguns detentos.

RFI – Como explicar a emergência de extremistas "Made in France" nos últimos dez anos ?
J.C. Brisard – O terrorismo internacional evoluiu. Há 10 ou 15 anos, lidávamos com grupos estrangeiros e redes estruturadas, que agiam no exterior tentando cometer atentados no Ocidente. Hoje temos franceses com esse perfil, instalados no país, e assistimos com preocupação o desenvolvimento do jihadismo individual. Hoje também existe uma forte atração pelo conflito sírio, que faz com que os jovens partam para participar das operações. A Síria se transformou em um campo de treinamento mundial para os jihadistas e infelizmente é praticamente certo que nos próximos anos teremos outros casos como o ocorrido no Museu em Bruxelas.

RFI – Muitas pessoas estão comparando Nemmouche e Mohamed Merah, autor do atentado de Toulouse em 2012, quais são as semelhanças entre os dois ?
J.C. Brisard – A trajetória deles é similar. Eles têm ficha na polícia, são delinqüentes, passaram pela prisão, e há, também, essa transição para a Jihad, que podemos observar nos dois casos. Há também, claro, a execução do crime. Infelizmente, esse tipo de perfil é bem típico e clássico e veremos esse tipo de ‘esquema’ ser reproduzido várias vezes. São franceses de segunda ou terceira geração e por isso as pessoas se tornaram indetectáveis. É muito difícil detectá-los de maneira precoce para prevenir seus atos. Isso exige uma mobilização sem precedentes, que por enquanto não existe na França. Também é preciso uma maior cooperação internacional, não só em nível europeu, mas em nível internacional, com países como a Turquia, que é um ponto de passagem obrigatório para todos os jihadistas. É preciso reforçar as ligações com esses países.

RFI – Bruxelas preconiza a criação de um banco de dados de passageiros de companhias aéreas, isso poderia ser útil, na sua opinião ?
J.C. Brisard – Sim, isso pode ser útil. O que também pode ser muito útil e implantado rapidamente também, sem a intervenção da União Europeia, é a troca de informações entre países europeus. Sabemos que a Bélgica, por exemplo, não sabia que Nemmouche tinha um passado radical. Essa troca de informações deveria ser feita de maneira praticamente automática entre os países do bloco.
 

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