Dois milhões de eleitores terão dificuldades para votar no leste da Ucrânia
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A dois dias das primeiras eleições presidenciais na Ucrânia após a deposição de Viktor Yanukovich, a violência voltou ao leste do país. Em uma tentativa de impedir o pleito nas regiões de Donetsk e de Slaviansk, grupos separatistas vêm realizando ataques armados contra tropas do Exército. Cerca de dois milhões de pessoas terão grandes dificuldades de votar em regiões do leste do país.
Andrei Netto, enviado especial do jornal "O Estado de S. Paulo" a Donetsk
O governo interino de Kiev prometeu o reforço da segurança em todo o país no domingo, com a mobilização de mais de 55 mil policiais e 20 mil voluntários. Porém, a situação é tensa no leste do país. Cerca de 18 pessoas, a maioria militares, morreram desde a manhã desta quinta-feira. Os combates acontecem em Karlakova, a 30 km de Donetsk, em Volnovaha e nas imediações de Slaviansk.
Embora na cidade de Donetsk a vida siga seu curso, com muito movimento de pessoas e veículos nas ruas e com o comércio aberto, as liberdades estão restritas. É impossível, por exemplo, realizar manifestações pró-Ucrânia sem que milícias separatistas se mobilizem para agredir os participantes e dissolver o protesto. O mais grave é que os confrontos armados com o Exército voltaram, encerrando um período de relativa trégua iniciado após os choques ocorridos entre 13 de abril e 16 de maio, quando 127 pessoas morreram.
Rivalidade política
A rivalidade política na Ucrânia não permite a realização de eleições gerais livres. Talvez em cidades do oeste, como a capital, Kiev, e Lviv, o grau de liberdade dos eleitores seja maior, mas é preciso lembrar que o governo interino mobilizou 20 mil "voluntários" para exercerem a segurança. Na prática isso quer dizer que milicianos nacionalistas vão estar próximos às urnas, o que deve preocupar os observadores internacionais.
Já no leste a situação é ainda mais grave. Cerca de dois milhões de pessoas terão grandes dificuldades de votar, não só pela ação das milícias pró-Rússia, que estão empenhadas em impedir o pleito, mas também pela incapacidade do governo central de organizar eleições em Donetsk e Slaviansk. Muitos postos de votação simplesmente não serão abertos nessas cidades.
Sociedade dividida
Há uma verdadeira fissura na sociedade ucraniana, e não apenas entre o leste e o oeste do país, mas também entre jovens e idosos. Enquanto os mais velhos moradores de Donetsk em geral têm tendências pró-Rússia, os mais jovens frequentemente afirmam se sentir ucranianos e desejar a unidade do país. O movimento de apoio à anexação de Donetsk à Rússia não é unânime nem mesmo entre os insatisfeitos com o governo de Kiev.
Clique no arquivo de áudio para ouvir a participação completa de Andrei Netto, enviado especial do jornal "O Estado de S. Paulo" a Donetsk, na Ucrânia.
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