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O Mundo Agora

Revolução islâmica iraniana entra na fase adulta

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Aos 35 anos, uma revolução entra na idade adulta. Não é mais uma onda explosiva de rumo incerto. O Irã está celebrando, sem grandes alardes, essas três décadas e meia da vitória da revolução islâmica e da chegada ao poder do aiatolá Khomeini. Apesar dos problemas econômicos internos cada vez mais graves e da rebeldia de uma juventude cansada de rigorismo social e moral, o regime continua firme. Tão firme que pode se dar o luxo de pretender abertamente à liderança da região e de desafiar o mundo inteiro com o seu programa nuclear. Clique acima para ouvir a crônica de política internacional de Alfredo Valladão, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris

O Irã comemora nesta terça-feira(11), o 35.º aniversário da Revolução Islâmica
O Irã comemora nesta terça-feira(11), o 35.º aniversário da Revolução Islâmica D.R
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Na verdade, a revolução iraniana é a única que conseguiu se estabilizar no poder em todo o mundo muçulmano. Logo depois da queda do “Rei dos Reis”, o Xá do Irã, os iranianos e o resto do mundo achavam que a revolução ia se transformar num tsunami que levaria de roldão o Oriente Médio e todo o mundo árabe. Só que o Irã – a velha Pérsia – não tem nada de árabe e, até pelo contrário, sempre foi considerado o inimigo hereditário e figadal dos povos vizinhos.

Não só por motivos geopolíticos que vêm da Antiguidade e da força do império persa, mas também pelo fato de que o islã iraniano é xiita, uma variante considerada herética pelos árabes sunitas.

Portanto desde o início, a revolução islâmica no Irã teve que enfrentar a hostilidade aberta da vizinhança. E no começo de maneira dramática, com a terrível guerra contra o Iraque, entre 1980 e 1988, quando o ditador iraquiano Saddam Hussein tentou conquistar os campos de petróleo iraniano.

Um conflito que fez centenas de milhares de mortos, onde o Iraque usou até armas químicas, mas que acabou sem vencedores. Apesar de Bagdá ter contado com a ajuda aberta ou secreta de várias potências ocidentais e regimes árabes sunitas. Mas para Teerã, tratou-se de uma vitória extraordinária. O regime resistiu com os poucos meios militares que tinha à disposição graças a abnegação e sacrifício de milhões de jovens iranianos fanatizados pela revolução.

Desde o fim da guerra Irã-Iraque, e apesar de ter conseguido sobreviver, o regime dos aiatolás se sentiu isolado numa região onde ele era – e continua sendo – odiado. Considerando-se ameaçado permanentemente, o Irã descambou pouco a pouco para uma mistura de poder religioso e militar. A Guarda Revolucionária, que havia praticamente substituído as Forças Armadas tradicionais na linha de frente das batalhas contra o Iraque, tornou-se o centro do poder iraniano, aliada com o pequeno núcleo de dirigentes religiosos e civis conservadores que controlam a máquina estatal.

Não só poder militar, mas também econômico, controlando a maioria dos setores chaves da economia nacional. Um poder que também foi utilizado sistematicamente para transformar o Irã na maior potencia militar da região. Frente aos inimigos sunitas, Teerã aproveitou a sua única riqueza, o petróleo, para criar uma força militar relativamente moderna e poderosa e para lançar um programa nuclear militar clandestino. Além de tentar desestabilizar os vizinhos sunitas apoiando as minorias xiitas em vários estados árabes.

O problema é que esta ambição de virar uma potência dominante para enfrentar a hostilidade dos vizinhos e dos Ocidentais, criou ainda mais ódio e angústia por parte dos adversários da revolução iraniana. Um embargo que praticamente afundou toda a economia iraniana e um enfrentamento aberto com os movimentos sunitas depois da “primavera árabe” é o preço que a política de força iraniana não tem mais condições de continuar pagando.

Hoje, o governo de Teerã está tentando utilizar os seus trunfos político-militares acumulados – o programa nuclear e os aliados xiitas nos países vizinhos – para negociar com o Ocidente o fim do embargo e um relacionamento mais pacificado.

Sobretudo num momento em que uma nova geração de iranianos conectados ao resto do mundo pelas redes sociais e fartos da austeridade dos religiosos, mostra sinais evidentes de rebeldia. Uma geração que não conheceu os horrores da guerra nem os sacrifícios que foram necessários para manter o regime.

Hoje o Irã é um paradoxo. Poder maduro, sem mais aquele ardor revolucionário do início, o regime dos aiatolás precisa construir boas relações com o resto do mundo se quiser continuar. Mas para isto, ele terá de abandonar as suas ambições militares hegemônicas que ele considera como a única verdadeira garantia de sua sobrevivência. Não vai ser fácil resolver a quadratura deste círculo vicioso.
 

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