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Reportagem

Catar aplica lei rudimentar para trabalhadores estrangeiros

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Em outubro, o jornal britânico The Guardian denunciou as condições de trabalho de nepaleses no Catar, nas obras para a Copa de 2022. O governo nepalês denunciava a morte de 70 cidadãos desde o início das obras, em 2012. E nesta semana, o emirado volta a ser destaque em desrespeito ao direito humano, com o caso do jogador francês Zahir Belounis, que ficou 17 meses sem poder deixar o país. Ele finalmente voltou à França nesta semana e denunciou a situação que viveu no emirado.

O jogador Zahir Belounis concede entrevista ao canal France 24 após chegar em Paris.
O jogador Zahir Belounis concede entrevista ao canal France 24 após chegar em Paris. France 24
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Com a mulher e duas filhas, Belounis foi para o Catar em 2007, para atuar em um clube da segunda divisão. Em 2011, o clube o dispensa. Pelo sistema rudimentar chamado de kafala, o trabalhador estrangeiro é uma espécie de quase propriedade de um “patrocinador”. É essa pessoa que também detém o visto de saída do estrangeiro, muitas vezes vítima de chantagens para abrir mão de direitos adquiridos.

No caso de Belounis, ele reclamava uma parte de seus salários que não eram pagos, entre 120 mil e 150 mil euros. Belounis chegou a apelar para a justiça local, sem resultado. Ou ele esquecia esse dinheiro ou não recebia visto para ir embora. Belounis apelou para a Fifa, para Zidane e Pepe Guardiola. Em vão.

Em entrevista coletiva, Belounis falou sobre a humilhação e intimidação que sofreu durante 17 meses, até que, sob pressão, abriu mão de seus direitos. Ele conta que foi obrigado a vender os móveis da casa e apelou para a bebida.

Sindicato

O Fifpro (Sindicato Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol), com 60 mil afiliados, foi um dos organismos empenhados no caso de Belounis. Andrew Orsatti, diretor de comunicações do Fifpro, conta que o sindicato ficou sabendo a respeito de Belounis no começo do ano e que desde então trabalharam nos bastidores para pressionar lideranças políticas, seja em esferas governamentais ou nos círculos futebolísticos.

Orsatti acrescentou que um dos objetivos do Fifpro é evitar que casos assim continuem acontecendo. Por isso uma missão do Fifpro foi ao Catar para conversar com os principais dirigentes do futebol local. “Fizemos um apelo para que abolissem o sistema de kafala, que também atinge outras categorias de trabalhadores - somos solidários com as iniciativas de outros sindicatos”, declarou Orsatti.

Ele conta que há rumores de que a kafala seja aplicada na Arábia Saudita. Outros países, como Turquia e Chipre, já foram repreendidos por não respeitarem direitos de jogadores. “Nós colocamos a causa do futebol em destaque, pois entendemos que é o jogo do povo, o jogo do mundo, cuja popularidade faz a diferença; como representantes dos jogadores, sabemos que podemos pressionar até que haja mudanças”, explica Orsatti.
 

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