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Fato em Foco

Não pagamento de resgate pode ser melhor arma contra sequestros

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Neste final de semana, mais um sequestro de franceses terminou em tragédia. Dois repórteres da Radio França Internacional foram levados e assassinados no Mali num intervalo de apenas três horas, sem qualquer negociação entre os governos e os responsáveis por este crime. Nesta última semana, o seqüestro de estrangeiros por terroristas já estava em destaque na França, depois de quatro franceses mantidos reféns havia três anos no Níger serem libertados.

François Hollande recepciona quatro reféns franceses libertados na semana passada.
François Hollande recepciona quatro reféns franceses libertados na semana passada. REUTERS/Jacky Naegelen
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Para soltá-los, os membros da organização terrorista Al Qaeda no Magreb Islâmico teriam recebido uma resgate milionário. A complexa decisão de dar dinheiro a terroristas em troca da liberdade de cidadãos é um dilema no qual alguns países, como os Estados Unidos, são intransigentes. Oficialmente, nenhum Estado, inclusive o Brasil e a França, admite pagar resgates. No caso recente dos quatro franceses libertados, diversos especialistas em negociações com extremistas contestaram a versão oficial dada pelo governo francês.

É o caso de Louis Caprioli, ex-diretor de luta contra o terrorismo na polícia francesa e consultor sobre redes islâmicas no norte da África e na Europa. “Os reféns tinham, para os terroristas, um valor considerável. Eles se preocupavam em mantê-los vivos porque está na cara que eles só foram liberados com o pagamento de resgate”, observa. “Apesar de todo o talento do presidente do Níger para negociar, eu não vejo por que razão os membros da Al Qaeda no Magreb Islâmico teriam liberado pessoas que eles mantinham havia três anos, simplesmente para agradar à França. E se a França pagou, é uma coisa boa porque os nossos compatriotas estão sãos e salvos.”

Há muito tempo, o sequestro de cidadãos de países encarados como inimigos pelos terroristas é uma moeda de troca fundamental para financiar as atividades extremistas. Com o dinheiro do resgate, os membros das redes melhoram a logística, as operações e a captação de novas adesões.

Por essa razão, a ONU condena o pagamento de resgates, mas na prática a maioria dos países acaba cedendo à pressão, embora não admitam. Isso porque além de trágica, a morte dos reféns também provoca prejuízos políticos aos governantes.

Alain Chouet, ex-diretor do serviço secreto francês e autor de vários livros sobre o terrorismo islâmico, explica que, para liberar reféns, só existem três formas. “Ou se deixa os reféns à própria sorte, esperando que os seqüestradores vão se cansar, ou se faz uma operação militar para tentar liberta-los, com os riscos que isso comporta, ou se dá compensações, quaisquer que sejam. Podem ser políticas, financeiras ou outras”, afirma.

Alguns países, entretanto, se negam de fato a pagar resgates ou a sequer negociar com terroristas. Este é o caso dos Estados Unidos, da Rússia e da Grã-Bretanha, que preferem ver os seus reféns mortos a dar dinheiro ao terrorismo, como relata o consultor internacional Jean-Charles Brisard, especialista em financiamento de redes extremistas. “Eles se recusam a qualquer negociação e, com bastante frequências, pagam o preço desta escolha. Diversos britânicos foram executados pelos seus seqüestradores, inclusive por homens da Al Qaeda no Magreb Islâmico”, recorda-se. “É muito difícil sob o ponto de vista humano, mas é verdade que, politicamente, é uma decisão que tem o mérito de ser clara em relação ao terrorismo.”

Segundo Brisard, o pagamento de resgates colocou mais de 50 milhões de euros, 150 milhões de reais, nas mãos dos terroristas do norte da África desde 2008. A prática resulta no fortalecimento e na expansão das redes, além de estimular novos seqüestros.

“Há alguns anos, desde 2009, constatamos que não há mais britânicos sequestrados na região do Sahel. Para os americanos é a mesma coisa. Por outro lado, tem cada vez mais franceses, primeiro porque a França é designada como inimiga pela Al Qaeda no Magreb Islâmico e os sequestros de franceses são muito simbólicos”, destaca. “Ou seja, embora seja uma decisão muito difícil de ser tomada, a política de não pagar resgate funciona a longo prazo. É uma política que, acho eu, compensa.”

A França privilegia a via da negociação com os terroristas, que pode levar anos. Nas últimas vezes em que o país tentou realizar uma operação militar para salvar reféns, ao longo do último ano, três cidadãos acabaram morrendo - além dos dois profissionais de imprensa, no último final de semana, que foram mortos antes de qualquer contato com as autoridades.
 

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