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Japão/terceira idade

Desaparecimento de velhinhos intriga Japão

Quando autoridades de Tóquio tentaram atualizar dados sobre os cidadãos mais velhos da cidade, como parte dos preparativos para o dia em homenagem aos idosos, se depararam com um mistério. Dezenas de moradores da capital japonesa com mais de cem anos não foram encontrados e ninguém tinha informação sobre seu paradeiro.  

Cerca de 25% dos idosos japoneses vivem sozinhos sem o apoio de amigos ou familiares.
Cerca de 25% dos idosos japoneses vivem sozinhos sem o apoio de amigos ou familiares. Mauricio Kanno/Flickr
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A situação ligou o sinal de alerta e prefeituras de outras cidades japonesas também começaram a procurar seus idosos. Resultado: quase 200 centenários estão desaparecidos no Japão e o número deve aumentar à medida que os levantamentos surgem vindos de todas as partes do país. Entre os desaparecidos, estão 18 “supercentenários” como uma mulher de 125 anos, cujo último endereço se transformou em um parque em 1981 e uma outra, moradora de Tóquio, que teria 113 anos e não é vista pela família há mais de 50 anos.

Uma descoberta da polícia pode ter começado a esclarecer o mistério. Ao procurar por Sogen Kato,  considerado o homem mais velho de Tóquio com 111 anos, os policiais encontraram seu corpo mumificado. Ele havia morrido há 32 anos, período no qual permaneceu intocado em seu leito de morte. Só na cidade de Osaka, 105 dos 857 centenários estão desaparecidos. Na quinta-feira, as autoridades da cidade informaram que um homem registrado com a idade de 127 anos está morto desde 1966.

A situação inusitada levantou suspeitas de que um esquema de fraude na previdência esteja disseminado no país. O Ministério da Saúde do Japão está investigando o paradeiro de 840 pessoas com mais de 85 anos em conexão com potenciais casos de concessões fraudulentas de benefícios. Familiares de Kato, inclusive, foram presos acusados de não terem comunicado a morte do idoso para embolsar milhões de ienes em benefícios sociais.

Essas ações fraudulentas, porém, não são a única explicação para o desaparecimento dos idosos. Também são citadas a estrutura antiquada do país para atualização dos dados sobre seus cidadãos e as duras leis de privacidade que proíbem servidores do governo de entrar nas casas caso os moradores não permitam. Outro fator seria o enfraquecimento das relações familiares e comunitárias.

Sem laços familiares

A falta de coesão familiar do Japão contemporâneo se revela na história dos filhos da idosa de Tóquio que não é vista há mais de 50 anos. Eles alegam que a mãe decidiu não ter contato com ninguém, inclusive com os familiares. Cerca de 25% dos idosos japoneses vivem sozinhos sem o apoio de amigos ou familiares.

O Japão é o país com mais centenários no mundo e eles vivem de benefícios oferecidos pelo governo. Essa é uma das maiores preocupações do país. Com a taxa de natalidade em níveis baixíssimos e com a expectativa de vida quebrando recordes, o Japão não sabe quem vai pagar a conta da aposentadoria de seus idosos.

Colaboração de Ricardo Souza, correspondente da RFI em Tóquio

 

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