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Moda/Fotografia

França homenageia Man Ray, o pioneiro discreto da fotografia de moda

O trabalho de Man Ray é homenageado neste momento na França. Duas exposições em cartaz no sul do país exploram um lado menos conhecido do artista americano: sua contribuição para a história da fotografia de moda.

Com fotomontagens, poses inovantes e situações oníricas Man Ray transformou a fotografia de moda
Com fotomontagens, poses inovantes e situações oníricas Man Ray transformou a fotografia de moda Fotomotagem / © Man Ray 2015 Trust / Adagp, Paris 2019
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Enviado especial a Marselha

Quem estuda os movimentos artísticos é familiar à obra de Man Ray. Personagem do dadaísmo e do surrealismo, esse amigo de Marcel Duchamp, Jean Cocteau e Francis Picabia tinha um ateliê no bairro parisiense de Montparnasse nos anos 1920, por onde passava a intelligentsia internacional da época, e contribuiu para a transformação da história da arte.

No entanto, ao contrário de seus contemporâneos, o pintor não conseguia viver de sua obra logo no início da carreira e encontrou na fotografia de moda uma fonte de renda. Longe de ser uma parte marginal de sua trajetória artística, a fotografia acabou, apesar de resistência inicial de Man Ray, se tornando sua principal atividade durante quase duas décadas. É esse aspecto menos conhecido de seu trabalho que expõem até 8 de março de 2020 em Marselha o museu Cantini e o Château Borély, o museu das artes decorativas da cidade.

Pedir esmola para revistas comerciais

“Man Ray passou sua vida escondendo essa atividade comercial. Ele sempre disse ser um pintor. E um artista não pede esmolas para revistas comerciais”, explica Alain Sayag, comissário científico da mostra. Para o especialista da obra do americano, essa é principal razão da falta de conhecimento sobre a produção fotográfica de Man Ray.

Prova disso, uma das fotos mais emblemáticas de Gabrielle Chanel, feita em 1935, quando Coco aparece fumando, envolta com seus colares de pérolas, é obra de Man Ray. No entanto, pouca gente, inclusive no mundo da moda, conhece a autoria da imagem, que faz parte da mostra de Marselha.

Mas, além dos retratos de celebridades do mundo das passarelas e das artes, o artista se destacou principalmente por sua colaboração na evolução estética na fotografia de moda. Autodidata, ele se inspirou no surrealismo para propor enquadramentos surpreendentes e aplicar técnicas até então inusitadas.

“Man Ray é um dos que inventaram a fotografia de moda”, afirma Catherine Örmen, historiadora da moda e comissária de uma das duas exposições apresentadas em Marselha. “Antes dele, tudo era como reportagens, nas quais as modelos eram colocadas em um contexto e fotografadas. Mas ele inventou algo diferente, criando situações. Ele contou em suas imagens histórias oníricas, acrescentando um verniz de sonho até então inexistente”, relata a historiadora. O resultado é uma mistura de poses dramáticas e diálogos improváveis entre modelos e objetos de cenografia, que são vistos até hoje nas páginas das publicações de moda.

Transformação das revistas de moda

Catherine Örmen e Alain Sayag lembram que o americano também se beneficiou de um contexto histórico de transformação das próprias revistas, como Vogue e Harper’s Bazaar, com as quais ele colaborou durante anos. “Essas publicações, que até então eram repletas de ilustrações, começaram a publicar fotografias, vistas como o suporte da modernidade”, conta o comissário. “Man Ray foi solicitado por sua inventividade, pois ele propunha algo que não era banal”, continua. “E as revistas adoravam isso”, completa a historiadora.

Sayag frisa que o americano não era o único artista a atuar em publicações de moda, e lembra o trabalho de nomes como Horst P. Horst, seu compatriota, que também conquistou as páginas das revistas. “Porém, ele conhecia a parte técnica como ninguém e dominava perfeitamente o suporte”, explica, lembrando que Man Ray era o mestre das fotomontagens, algo raro nessa época. “Vários fotógrafos de moda podem ser vistos como seus herdeiros, como o alemão Erwin Blumenfeld, que se inspirou de todos os truques do americano e os aplicava, em imagens coloridas, nas revistas dos anos 1950”, avalia.

O museu Cantini expõe cerca de 200 fotografias e mais de 60 revistas com obras de Man Ray. Já o Château Borely mistura imagens do mestre com silhuetas de moda, que contextualizam o trabalho do fotógrafo nos anos 1920 e 1930. Depois de Marselha, a exposição Man Ray e a moda segue para o Museu do Luxemburgo, em Paris, onde fica em cartaz entre 9 de abril e 16 de julho de 2020.

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