Brasileiros se surpreendem com "despreparo" de bombeiros no incêndio da Notre-Dame
A emoção é grande em frente à Notre-Dame de Paris nesta terça-feira (16), dia seguinte do incêndio que destruiu parcialmente a catedral. Um fluxo ininterrupto de moradores, turistas e jornalistas do mundo inteiro lotava os arredores do monumento danificado, mas em pé. Todos demostravam muita tristeza, mas também revolta e alívio. Pessoas rezando, rosas brancas e até um concerto de violoncelo homenagearam hoje o símbolo da capital francesa.
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Um cordão de isolamento ainda impede nesta terça-feira o acesso à ilha da Cité, onde está localizada a catedral Norte-Dame. Os curiosos têm que se concentrar na margem esquerda do rio Sena para constatar, ainda sem acreditar, os estragos provocados por mais de 14h de incêndio. A estrutura da catedral quase milenar (paredes, torres, rosáceas e estatuário) está salva, mas o telhado foi quase totalmente destruído. No alto do edifício resta apenas visível os andaimes, retorcidos pelo calor, da obra de restauração que estaria na origem do drama.
O sentimento de tristeza dominante foi interpretado pelo célebre violoncelista francês, Gautier Capuçon, que tocou ao lado da igreja a música “Après un rêve” (“Depois de um sonho”), de Gabriel Fauré. “Tive que vir até aqui ver com meus próprios olhos. Notre-Dame é muito mais do que um monumento religioso. Ver a catedral em chamas foi aterrorizante”, confidenciou o músico à imprensa.
A melancolia diante da cena de desolação pode ser resumida pela declaração do angolano Emanuel Cordeiro, de 77 anos, que mora em Paris há 40 anos, e visitava a catedral toda semana. “Notre-Dame é um símbolo de união do ser humano, independentemente da religião ou nacionalidade. Os € 20 que tinha economizado ontem, vou doar para a reconstrução. Eu tive que chorar e queria que minhas lágrimas pudessem ter apagado esse incêndio”, disse o parisiense de adoção.
Alívio
O jornalista e empresário brasileiro Luis Otávio Dias, radicado em Paris há mais de 2 anos, mora a 250 metros da Notre-Dame e ficou chocado com o incêndio. Ele presenciou ao vivo, e filmou (veja no vídeo abaixo) a queda da agulha da igreja na noite de segunda-feira (15) e nesta manhã voltou para conferir o estado do monumento histórico. “Parece que o parisiense amanheceu um pouco mais aliviado por ver que a igreja não foi totalmente destruída e que o patrimônio histórico foi preservado. Ontem à noite, com aquelas chamas altas e a fumaça, parecia que a catedral iria ser completamente destruída. Ainda que com certeza haverá um processo de restauração longo, ninguém vai poder visitar a catedral por dentro, por fora ela vai continuar sendo um ícone da cidade”, acredita Luis Otávio.
Parisienses, mas também turistas franceses e internacionais, foram até o local. A estudante francesa, Angélique, de Clermont Ferrand, que visitava a capital, acha que o fato do monumento ter resistido é um sinal de esperança, mas avalia que o incêndio é algo terrível: “enquanto católica e apreciadora do patrimônio é muito triste testemunhar isso”.
Críticas
O casal de turistas brasileiros Edson e Neusa veio a Paris participar da maratona do último domingo (14). O plano era visitar a capital em seguida e, claro, conhecer a Notre Dame. Na segunda-feira, eles estavam na Basílica Sacré-Coeur de Montmartre, quando viram a fumaça no céu da capital. “Infelizmente, chegamos tarde demais”, lamentou Edson. Ele sentiu que houve um certo despreparo para combater rápido o incêndio e evitar a tragédia: “ Não deveria deixar acontecer um negócio desses. Eu imaginava até que tivesse um sistema, como nos museus, anti-incêndio. Pelo jeito, não tinha. É uma perda para a humanidade.”
Neusa até chorou quando viu a notícia. Ela disse que mesmo se a Notre-Dame for reconstruída, nunca mais será igual. “Uma grande perda. Nunca mais”, sentencia a turista brasileira que também critica o despreparo do Corpo de Bombeiros em apagar o incêndio com mais rapidez e não ter assim, tanta destruição. “Ainda bem que a estrutura resistiu”, se consolam.
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