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Cantora brasileira Flavia Coelho participa de protesto de artistas contra Le Pen em Paris

“A Cultura contra a Frente Nacional” é o título do evento realizado na terça-feira (2) por 70 associações culturais francesas contra a eleição de Marine Le Pen, na sala de concertos da Cité de la Musique, em Paris.

A cantora Flavia Coelho dá depoimento em vídeo
A cantora Flavia Coelho dá depoimento em vídeo Reprodução
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Entre discursos de grandes nomes do teatro e do cinema e de apresentações musicais, do pop ao erudito, houve a projeção de um vídeo com um depoimento da cantora brasileira Flavia Coelho, realizado como parte do movimento “Aux Sons Citoyens” (aos sons, cidadãos), uma referência e contraponto ao verso bélico do Hino Nacional francês, “aux armes citoyens” (às armas, cidadãos).

Esse projeto promove a diversidade cultural e musical na França contra as propostas de Le Pen, que concorre com o centrista Emmanuel Macron à presidência no segundo turno neste domingo (7). “No momento em que os debates ligados à mobilidade internacional, à imigração e à identidade criam um fenômeno de isolamento em um número crescente de cidadãos, pedimos políticas e ações que apoiem o reconhecimento e a valorização de todas as expressões da diversidade cultural”, diz o manifesto.

No vídeo exibido, Flavia Coelho diz que “a diversidade leva a encontros incríveis, a uma bonita mistura, ao conhecimento e nos leva muito mais longe”. “Ela é a descoberta de si mesmo. Eu nasci 100% da diversidade, e a adoro. Espero que vamos cada vez mais nessa direção.”

A cantora acha que “que as pessoas crescem com medo do outro”. “É assim desde a época das colônias, quando países e continentes foram descobertos. No início era o medo. Depois, houve a vontade de ir em direção ao outro, nem sempre com boas intenções, mas já era a vontade de romper com esse medo”.

Ela afirma ainda que foi na Europa que descobriu a origem de instrumentos que achava que eram típicos do Brasil. “Foi chegando ao Velho Continente que eu entendi que o acordeão viajou muito antes de chegar ao Brasil, e o violão também”.

O vídeo foi muito aplaudido pelos presentes, em uma noite de discursos emocionantes contra o racismo, a xenofobia, o sexismo e a homofobia, preconceitos vinculados à Frente Nacional, e de gritos exaltados de algumas pessoas da plateia contra os artistas que defendiam os projetos de Macron. "Estamos aqui contra a Frente Nacional, não apoiando esse candidato", diziam. Chegou a haver bate-poca entre os presentes e a intervenção de um dos organizadores, que pediu que a plateia deixasse que os artistas se expressassem como quisesem - sem censura.

Diálogo constante com outras culturas

O evento, que começou às 19h30 e durou quatro horas, foi aberto pelo diretor da Philharmonie de Paris, Laurent Bayle.

“A situação é de uma gravidade extrema. Esta sala tem uma história. Ela acolhe numerosos artistas franceses e estrangeiros vindos de todos os cantos do planeta. Ela propõe um diálogo constante com outras culturas, seja do mundo árabe, da Índia ou do Japão, dos povos pigmeus, ameríndios ou aborígenes. Nosso projeto se situa no lado oposto das reivindicações de uma identidade cultural francesa, cara à madame Le Pen e à Frente Nacional. Convoco a todos a votar massivamente pelo único candidato republicano, Emmanuel Macron”, afirmou.

E continuou: “Devemos mostrar nosso senso de responsabilidade e nossa inteligência coletiva, nossa vontade de existir em um mundo aberto e nossa vontade de continuar com os debates depois das eleições”.

Seguiram-se intervenções - algumas engraçadas, outras contundentes - da diretora Pascale Ferran, da bailarina Marie Agnès-Gillot, do fotógrafo Félix Isselin, do humorista belga Alex Vizorek, do ator, diretor e autor (cinema e teatro) Jérome Deschamps, da atriz Éva Darlan, do humorista Christophe Alévêque e do ator e diretor de teatro Jean-Pierre Vincent, entre outros.

Canção de um resistente

A cantora Emily Loizeau, acompanhada de um violonista, interpretou “La Complainte du Partisan", escrita pelo resistente francês ao nazismo Emmanuel d'Astier de La Vigerie, em 1943, em Londres. A canção, que já foi gravada pelo saudoso cantor canadense Leonard Cohen (1934-2016), ganhou força nesse momento de crescimento da extrema-direita. “Os alemães vieram a minha casa/ Disseram ‘entregue-se'/Mas eu não pude fazê-lo/Eu peguei a minha arma”.

Antes da apresentação, Emily disse algumas palavras. “É muito importante poder estar aqui. Fiz recentemente a música para um documentário sobre os menores imigrantes da favela de Calais (norte da França). É neles que eu penso cada dia neste momento. Tento imaginar tudo que eles viveram no seu périplo nas nossas fronteiras, no nosso território, os mau-tratos, as fraturas profundas. Se Le Pen chegar ao poder no domingo, o que vai acontecer com eles? Serão as primeiras vítimas, entre tantas outras.”

A cantora disse que não tem vontade de “viver em uma país xenófobo e racista”. “Tenho vontade de estar em um país que estende a mão e que sabe que podemos ser os migrantes e os refugiados de amanhã. Quero falar aos que pensam que impomos o voto em Macron, que não se reconhecem no seu programa, que têm vontade de uma Europa social e ecológica, que também quero levar essa luta, mas em democracia.”

"Com a Frente Nacional no poder, eu provavelmente não existiria"

A atriz francesa Éva Darlan, conhecida por seu trabalho no teatro, no cinema e na TV, fez um dos discursos mais emocionantes e contundentes da noite. “Acho que todos vocês conhecem essa frase do filósofo Raymond Aron: ‘A escolha entre política não é entre o bem e o mal, mas entre o preferível e o detestável’. Como não se reconhecer nesse pensamento quando muitos de nós não se posicionaram de maneira explicita contra a Frente Nacional?”, disparou.

“No primeiro turno, votei segundo meu coração e minhas convicções. Eu votei por. Este segundo turno me obriga a me posicionar, quaisquer que sejam as minhas reticências e as minhas divergências ao que me propõem como alternativa. Que seja com convicção ou com o coração apertado, meu dever de cidadã, de artista, de feminista, de democrata, ou simplesmente de ser humano, me impõe a barrar a Frente Nacional.”

Ela começou a listar vários fatos da sua vida que não teria acontecido com o partido de extrema-direita no poder. “Provavelmente eu não estaria aqui, eu não existiria. Minha mãe era espanhola, imigrante, refugiada, republicana. Ele fugiu da guerra civil da Espanha e agradeceu toda a vida o acolhimento na França. Sou metade estrangeira.”

E prosseguiu: “Não poderia nunca ter abortado. Não teria casado com um judeu de origem marroquina com tanta simplicidade. Não teria podido adotar minha segunda filha, nascida no Vietnã. Não poderia viver meu ateísmo de maneira evidente”.

Eva também criticou Marine Le Pen por votar contra varias leis europeias pela igualdade de gênero. “Sou contra a pena de morte, pelo direito dos gays, pelo acolhimento dos refugiados, pelo jornalismo livre, pela igualdade entre homens e mulheres. A Frente Nacional não passará!”

 

Flávia Coelho dá depoimento sobre a riqueza da diversidade cultural (em francês)


#stopFN7mai - Message de Flavia Coelho pour le... par stopFN7mai

 

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