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França

França abre investigação sobre deputado acusado de assediar colegas

A Justiça francesa anunciou, na manhã desta terça-feira (10), que abriu uma investigação para apurar as acusações de agressão e assédio sexual contra o deputado ecologista Denis Baupin. Ele renunciou ao cargo de vice-presidente da Assembleia Nacional ontem, depois que a rádio France Inter e o site Mediapart divulgaram chocantes depoimentos de várias mulheres.

O deputado Denis Baupin e sua esposa, Emmanuelle Cosse, ministra francesa da Habitação, no Palácio do Eliseu em setembro de 2015.
O deputado Denis Baupin e sua esposa, Emmanuelle Cosse, ministra francesa da Habitação, no Palácio do Eliseu em setembro de 2015. REUTERS/Charles Platiau
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A Procuradoria de Paris indicou que irá recolher testemunhos das várias colegas de Denis Baupin que o acusam de agressão e assédio sexual. A Justiça informa não ter recebido nenhuma denúncia sobre o caso até o momento.

Revelados pela rádio France Inter e pelo site de informação Mediapart na segunda-feira (9), os depoimentos de quatro mulheres, todas elas colegas de Baupin, chocaram a opinião pública francesa. Pelo menos outras quatro francesas aceitaram testemunhar sob anonimato, com medo de sofrer represálias.

Antigo membro do partido ecologista Verdes (EELV), Denis Baupin, de 53 anos, classificou os depoimentos de "mentirosos". O deputado anunciou que vai entrar com uma ação na Justiça contra a France Inter e o Mediapart por "difamação".

Esposa de Baupin diz que acusações são "extremamente graves"

Na manhã desta terça-feira, a esposa de Baupin, a ministra francesa da Habitação, Emmanuelle Cosse, se expressou sobre o caso à rádio France Info. Dizendo confiar em seu marido, ela se surpreendeu com as acusações, que classificou como "extremamente graves". "Fiquei muito abalada, tanto como mulher, quanto como companheira, como mãe e também como ministra".

Segundo ela, os depoimentos precisam ser apurados pela Justiça. "Estamos falando de fatos de extrema gravidade. Se eles forem confirmados, precisam ser julgados, não há outra escolha", declarou Cosse, ressaltando que a violência contra mulheres sempre fizeram parte de seu combate político.

"Adoraria sodomizar você"

Quatro mulheres aceitaram tornar públicos os episódios de agressão e assédio sexual que atribuem ao deputado. Entre elas, está a porta-voz do EELV, Sandrine Rousseau. "Ele me empurrou contra uma parede, pressionando meus seios e tentou me beijar no corredor, durante a pausa de uma reunião que eu dirigia. Eu contei o episódio a dois membros da direção do partido. Um me disse: 'Ah, ele recomeçou'. E o outro: 'são coisas que acontecem muito frequentemente'", contou.

Outro depoimento é da vereadora da cidade do Mans, Elen Debost, que conta que recebeu, durante vários meses, cerca de 150 mensagens de texto do deputado com "conteúdo sexual". "Eu respondia, explicando que eu não estava interessada e que tinha outra pessoa em minha vida. Mas minha resposta educada não era compreendida", contou. Debost descreveu os textos que recebeu de Baupin: "Adoraria sodomizar você", "você deve ser uma dominatrix formidável", "gostaria de ver suas nádegas".

Outra vereadora da região de Paris, Annie Lahmer, também diz ter sido vítima de um comportamento "inadequado" por parte do deputado. Para a rádio France Inter, ela contou que chegou a ser perseguida por Baupin na sede do EELV, e que foi obrigada a fugir "correndo". No dia seguinte, Baupin se negou a cumprimentá-la, ao que Lahmer respondeu: "então você nega a fala a todas as colegas que se recusam a dormir com você?". O deputado teria respondido: "saiba que você não terá jamais nenhum cargo importante neste partido".

“Fama” do deputado já era conhecida

Segundo os relatos das colegas de Baupin, muitos episódios datam de vários anos. A "fama" do deputado já era conhecida dentro do próprio partido, mas, segundo os depoimentos, os casos de assédio não eram denunciados para preservar a esposa do ecologista.

No último dia 8 de março, Baupin participou de uma campanha contra a violência às mulheres. A iniciativa "Mettez du Rouge" tinha a proposta de postar fotos de homens usando batom vermelho para sinalizar engajamento. Em seu Twitter, Baupin divulgou uma imagem na qual aparece ao lado de vários outros políticos franceses, todos exibindo lábios escarlates. Junto à foto ele escreveu: "Coloquem batom vermelho para lutar contra a violência às mulheres. Os deputados estão na luta!".

O escândalo denigre ainda mais a imagem dos políticos franceses, frequentemente acusados de machismo e comportamentos inapropriados, em um país traumatizado com as revelações sobre Dominique Strauss-Kahn, acusado de estupro em maio de 2011.

Em um caso mais recente, o ministro francês das Finanças, Michel Sapin, foi acusado em um livro de ter agido de forma imprópria com uma jornalista. Ele descreveu estas afirmações como "imprecisas e caluniosas".

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