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Surto de fake news contra LGBTs provoca ataques homofóbicos e ameaça Paradas do Orgulho Gay na Europa

Quando as Paradas do Orgulho gay começaram na Europa, neste mês de junho de 2023, o discurso de ódio e a desinformação dirigida contra a comunidade LGBTQIA+ se espalharam nas redes sociais com discursos que incitam a violência homofóbica. O aumento da desinformação e do ódio online é preocupante, considerando a onda de violência durante as marchas do orgulho gay na Europa.

Dezenas de milhares de pessoas participaram da Marcha do Orgulho em Paris no sábado, 24 de junho.
Dezenas de milhares de pessoas participaram da Marcha do Orgulho em Paris no sábado, 24 de junho. REUTERS/Gonzalo Fuentes
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As bandeiras do arco-íris estiveram presentes, assim como a música e o brilho, mas a atmosfera nem sempre foi festiva na Parada Gay de Paris no sábado (24). "Há dez anos, casamento para todos. Já a violência, sempre foi para todos". A faixa que abriu a marcha, com o slogan escolhido pelo grupo inter-LGBT+ que organizou o evento, resume o clima. Dez anos após a adoção da lei do casamento para todos, apesar dos avanços nos direitos das pessoas LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) no campo da legislação, paradoxalmente a violência contra elas ainda está viva entre nós.

"A ideia", diz Élisa Koubi, copresidente da Inter-LGBT à reportagem da RFI, "é também apontar a contradição entre o pinkwashing [o fato de se outorgar um falso comprometimento com a causa gay apenas para fins publicitários] político e midiático organizado em torno do décimo aniversário do casamento para todos, como se não houvesse mais nada a ser feito pelas pessoas LGBTQIA+ e, por outro lado, a persistência da violência", complementou.

"Não estamos orgulhosos, estamos com raiva"

O último relatório da organização SOS Homophobie, publicado na França em maio, apontou um aumento geral nos atos de ódio contra pessoas LGBT+, com um ataque físico a cada dois dias em 2022, um aumento de 28% em comparação com 2021.

"Esta semana, cuspiram em mim de novo"

A associação alertou especialmente sobre a violência contra pessoas transgênero, citando uma "onda de transfobia" e relatos que dobraram em relação a 2021.

"Não estou feliz por estar aqui. Não estou orgulhosa, estou com raiva, estou furiosa", diz Iris, acenando com a mão para a multidão multicolorida. Ela e seus amigos, todos transgêneros, dizem que vivenciam esse aumento de atos transfóbicos diariamente. "Esta semana cuspiram em mim de novo", diz Doll. "Fui chutada", acrescenta Liloue, resignada, denunciando "um debate que agora se concentra na identidade trans".

Há dez anos, a França autorizou o casamento e a adoção para casais do mesmo sexo, e desde 2022 as terapias de "cura gay" foram proibidas; desde 2021, o acesso à PMA [procriação medicamente assistida, como é chamada na França] foi aberto a todas. 

Extrema direita e o discurso transfóbico

Mas a copresidente da inter-LGBT diz estar "muito preocupada" com o "aumento do discurso LGBTfóbico" vindo de grupos reacionários próximos à extrema direita. 

Élisa Koubi insiste na "responsabilidade" do governo francês que, segundo ela, ao não se opor, "está permitindo que a retórica se torne comum, o que pode legitimar atos de violência para algumas pessoas". A ativista também critica o fato de ativistas feministas radicais controversas, que desejam excluir as pessoas trans da luta pelos direitos das mulheres, terem sido recebidas por ministros do governo de Macron.

Victoire e Charlotte na Marcha do Orgulho em Paris, no sábado, 24 de junho de 2023.
Victoire e Charlotte na Marcha do Orgulho em Paris, no sábado, 24 de junho de 2023. © RFI/Aurore Lartigue

 

"Nada de radicais ["terfs", em francês] em nossas lutas!" É exatamente isso que está escrito no cartaz de Charlotte, 23 anos, em um relacionamento com Victoire, uma transgênero como ela. Ambas também descrevem atos "regulares" de transfobia, insultos e pessoas olhando para elas.

"Só nesta semana, fomos atacadas por alguém na rua apenas por estarmos de braços dados. Fomos empurradas, chamadas de 'bicha', disseram para irmos buscar tratamento...", descreve a jovem. Charlotte também está preocupada com a "reação adversa" que as pessoas transgêneras têm sofrido nos últimos meses em vários estados dos EUA, onde as leis antitrans estão aumentando.

Um clima de "retrocesso" também está sendo sentido na Europa. A ONG ILGA-Europe, que reúne mais de 600 organizações em 54 países da Europa e da Ásia Central, descreveu 2022 como "o ano mais violento para as pessoas LGBTQIA+ em toda a região em mais de uma década", apontando para "discursos de ódio cada vez mais difundidos".

Elogios a Hitler por perseguição aos gays

O aumento da desinformação e do ódio online é preocupante, considerando a onda de violência durante as marchas do orgulho gay na Europa.

Uma postagem em polonês compartilhada na Sérvia pelo Twitter, Telegram e Facebook afirmava falsamente que o Exército criaria "unidades LGBT". Isso levou alguns internautas a comentar que os novos soldados deveriam ser "queimados na fogueira", enquanto outros elogiaram Hitler por sua perseguição aos gays.

Em uma outra publicação viral em várias línguas europeias, uma fake news dizia que o Arco do Triunfo, em Paris, havia virado um arco-íris em uma obra de arte. Os usuários do Facebook responderam a notícia falsa com insultos. Nos comentários, uma pessoa pediu a queima e execução de pessoas LGBTQIA+.

Na Hungria, onde o governo e personalidades da mídia costumam usar retórica contra a comunidade LGBTQIA+, as Paradas de Orgulho gay foram citadas com uma linguagem ofensiva, incluindo calúnias homofóbicas.

A onda de fake news e discursos de ódio faz parte de um discurso público cada vez mais violento contra a população LGBTQIA+, segundo ativistas. Alguns países europeus, como Espanha, Eslovênia e Moldávia, adotaram leis que protegem os direitos dessa comunidade.

No entanto, um relatório da ILGA-Europa (Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo) constatou recentemente que "o discurso público está se tornando mais polarizado e violento, especialmente contra a população trans".

(Com RFI e AFP)

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