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Para analistas, Macron mostra visão "errada" ao defender neutralidade de europeus sobre Taiwan

O presidente francês, Emmanuel Macron, enfrenta críticas depois de ter pedido à Europa que não siga os Estados Unidos ou a China sobre a questão de Taiwan para não enfraquecer a unidade europeia. Este posicionamento difere radicalmente das advertências enviadas a Pequim pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von Der Leyen. O jornalista Pierre-Antoine Donnet, do site Asialyst, disse à RFI que "Macron demonstra ter uma compreensão errada sobre a situação geopolítica atual".

O presidente Emmanuel Macron durante sua visita à China.
O presidente Emmanuel Macron durante sua visita à China. © REUTERS - GONZALO FUENTES
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Em entrevista publicada no domingo (9) em diversos veículos de comunicação, como o jornal francês Les Echos, após uma viagem de três dias à China, Macron declarou: "O pior seria pensar que nós, europeus, devemos seguir e nos adaptar ao ritmo americano e a uma reação exagerada chinesa", disse o centrista.

Macron também pediu à Europa que "acorde". "Por que devemos ir no ritmo escolhido pelos outros? Em algum momento devemos nos perguntar se isso nos convém", sabendo que "não queremos entrar em uma lógica de bloco contra bloco", acrescentou. 

Este posicionamento de Macron, considerado por muitos analistas e políticos como um distanciamento de Taiwan e da defesa da democracia, é alvo de críticas.

"A China tende para o lado da Rússia quando o assunto é democracia. Não faz sentido dizer que a democracia que se vê diariamente em Taiwan, ameaçada de invasão pela China, não diga respeito aos europeus", argumenta Pierre-Antoine Donnet, que foi correspondente da AFP em Pequim e Nova York e é coautor do livro "Le dossier chinois: portrait d'un pays au bord de l'abîme" – "O caso chinês: retrato de um país à beira do abismo", em tradução livre.  

Donnet assinala que "Macron não representa a União Europeia" e vários membros do bloco, particularmente os países bálticos, "foram vítimas da coerção chinesa". "Certamente não é o caso de enviar a Marinha francesa nem soldados de países da UE para defender Taiwan", disse o jornalista. "Mas Macron deveria evitar essas declarações arrogantes e, sinceramente, indecentes na minha opinião", afirmou.   

"De um lado temos uma China comunista, que endureceu sua ideologia ao ponto da tirania, desde a chegada de Xi Jinping ao poder, e do outro temos os Estados Unidos, que por mais que sejam uma democracia imperfeita, com muitos problemas internos, permanecem uma democracia", observa o ex-correspondente. "Eu acho que é preciso, sim, escolher o lado", completou Donnet.   

As declarações de Macron e a visita do francês à China, onde se reuniu com o presidente Xi Jinping na semana passada, foram criticadas pela imprensa nos Estados Unidos. Para o The New York Times, a viagem do líder francês "minou" os esforços de Washington para conter a influência chinesa.

Na segunda-feira, a Casa Branca respondeu à controvérsia. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, reiterou sua "confiança" em seu "excelente" relacionamento com a França e entre os presidentes Joe Biden e Emmanuel Macron.

"Potência de equilíbrio"

Nesta terça-feira, um amigo próximo do presidente francês, o eurodeputado Stéphane Séjourné, garantiu à rádio France Inter que Macron não se manteve "equidistante" entre Pequim e Washington e que o "aliado" da França é "obviamente" os Estados Unidos.

Mas este ex-assessor político alertou que "um conflito armado" entre a China e os Estados Unidos seria uma "Terceira Guerra Mundial" e que Macron reiterou que a Europa deve ser "uma potência de equilíbrio", que trabalha para uma "desescalada" de conflitos.

No entanto, na avaliação de vários analistas, essas declarações podem criar uma nova confusão entre os aliados ocidentais. "É uma inversão total da responsabilidade pelas tensões", disse à AFP Antoine Bondaz, da Fundação para a Pesquisa Estratégica.

A China considera Taiwan uma província rebelde e parte de seu território. Pequim pretende recuperar a ilha mesmo que seja pela força. No sábado, a China iniciou exercícios militares ao redor de Taiwan, cujo principal aliado é Washington.

A declaração de Macron propondo uma terceira via aos europeus provocou nesta terça-feira (11) reações em Bruxelas. "A União Europeia continua a se opor com firmeza a qualquer tentativa de alterar o status quo pela força no Estreito de Taiwan", disse Eric Mamer, porta-voz da Comissão Europeia. "Continuamos a apelar à paz e à estabilidade no Estreito de Taiwan", afirmou Eric Mamer.

A União Europeia já tinha manifestado a sua preocupação na segunda-feira sobre as manobras militares chinesas, recordando que qualquer tentativa de uso de força em Taiwan teria graves consequências globais.

Pequim anunciou os exercícios militares de três dias em represália ao encontro da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, com o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, o republicano Kevin McCarthy, durante uma viagem à Califórnia.

Embora os exercícios tenham terminado oficialmente na segunda-feira, os navios e aviões chineses ainda estavam nos arredores da ilha nesta terça-feira, disse o ministério da Defesa de Taiwan.

RFI e AFP

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