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Ameaçado pelo mar, prédio símbolo da construção predatória vai ser demolido na França

O departamento da Gironde, no oeste da França, começa nesta sexta-feira (3) a demolir um edifício que se tornou símbolo da construção predatória e do aumento do nível do mar. Segundo cientistas do Observatório da Costa da Nouvelle-Aquitaine, a costa arenosa do Golfo da Viscaya, onde está o prédio, poderá recuar 50 metros e as costas rochosas do País Basco, 27 ​​metros até 2050.

Início da demolição do edifício Signal, em Soulac-sur-Mer, sudoeste da França, em 3 de fevereiro de 2023. O edifício foi evacuado em 2014 pelas autoridades francesas para evitar um colapso devido à maré e desde então tornou-se um símbolo da erosão costeira.
Início da demolição do edifício Signal, em Soulac-sur-Mer, sudoeste da França, em 3 de fevereiro de 2023. O edifício foi evacuado em 2014 pelas autoridades francesas para evitar um colapso devido à maré e desde então tornou-se um símbolo da erosão costeira. AFP - PHILIPPE LOPEZ
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O prédio, que tem um nome premonitório, "Le Signal" (O Sinal), foi construído nas margens do oceano, em Soulac-sur-Mer, em 1967, e esvaziado em 2014 sob a ameaça do recuo do litoral.

“Através do que está acontecendo hoje”, vemos “o que a elevação das águas e a erosão do litoral vão projetar em muitos outros lugares da costa francesa”, declarou no local o ministro francês da Transição Ecológica, Christophe Béchu.

Até 2100, 20% da costa e "até 50.000 casas" estão “em perigo" com o fenômeno, acrescentou, enquanto uma pá hidráulica começava a derrubar o edifício construído a apenas 200 metros do oceano. Com o tempo, esta distância se reduziu para 20 metros.

Fenômeno natural que atua há 18.000 anos na costa atlântica da França, o recuo do litoral é caracterizado por um deslocamento maciço de sedimentos sob o efeito de ondas, ventos e marés.

A mudança climática, que deve provocar nos próximos 30 anos um aumento do nível das águas semelhante ao medido em todo o século passado, também ameaça acentuar o declínio em mais 20 metros em alguns lugares, indica Nicolas Bernon, engenheiro de riscos costeiros do Observatório.

"Memórias de quatro gerações"

Para Vincent Duprat, de 76 anos, um dos 75 coproprietários evacuados em 2014, após uma série de tempestades e marés altas, presente na sexta-feira em frente ao local, “são memórias de quatro gerações” que vão desaparecendo e o mar “retomou o que é seu de direito”.

O imóvel foi a única construção acabada do projeto “Grande Motte”, um imenso complexo de mais de mil apartamentos, com uma grande avenida junto à praia, em uma época “em que era necessário criar novas cidades”, conta Jean-José Guichet, ex-presidente do sindicato de condôminos.

Um “erro humano” que as autoridades “não assumem”, diz Danielle Duprat revoltada, apontando com as mãos a orla marítima e as suas moradias "inundadas na década de 1930", e a zona do Signal "onde construíram sem avisar os compradores do risco".

No final de 2020, após seis anos de saga judicial e administrativa, os condôminos conseguiram ser indenizados em até 70% do valor original de seus apartamentos.

Um "acordo único" votado no Parlamento, que "não abrirá precedente" para evitar a expansão de um fundo criado na França e dedicado exclusivamente a grandes riscos naturais, a milhares de proprietários ameaçados pela erosão das dunas, segundo especialistas do caso.

Porque na região da Nouvelle-Aquitaine, de acordo com o Littoral Public Interest Group (GIP), o principal ator local na gestão da erosão, se nada for feito, até 6.700 casas e empresas podem ser engolidas pelo oceano até a metade do século.

Para Nicolas Castay, diretor desta estrutura financiada pelo Estado, pela região e as comunidades costeiras, “o caso Signal foi uma revelação, um drama para seguir em frente. As comunidades se equiparam e se preparam com especialistas” para lutar contra a erosão.

Milhões de euros de financiamento 

Com ajudas de um fundo europeu de €38 milhões até 2027 ou apoios do Estado, proprietários e municípios da região têm implementado estratégias "mistas", que vão desde a proteção "material", com rochas e diques, até o futuro deslocamento dos prédios ameaçados.

Segundo o engenheiro Nicolas Bernon, “a longo prazo, será necessário realocar” porque as estruturas que “protegem a curto prazo” terão que ser renovadas regularmente.

Os prefeitos da região, reunidos na Associação Nacional dos Eleitos do Litoral, lançaram na sexta-feira “um alerta”, pedindo ao Estado “meios, um fundo dedicado para financiar os projetos e serem ouvidos”.

O governo, que estabeleceu, por meio de um “fundo verde”, cofinanciando caso a caso apenas para o ano de 2023, está atualmente realizando uma “consulta” com prefeitos e vereadores, lembrou Béchu.

“São necessárias centenas de milhões de euros para apoiar este tipo de coisas. Que demoremos alguns meses a questionar qual é o melhor mecanismo para arrecadar esta quantia, isso parece bastante racional”, disse o ministro.

Na região, a cidade balnearia de Lacanau, também na Gironde, pioneira na relocalização de mais de mil residências, adiou este projeto para depois de 2050, por falta de recursos jurídicos e financeiros e agora privilegia a construção de um dique que protege temporariamente a orla marítima.

(Com informações da AFP)

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