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Mortes na França aumentaram durante onda de calor, de acordo com instituto de estatísticas francês

Um relatório do Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee) da França constatou um claro aumento da mortalidade no país em julho de 2022. De acordo com o organismo, o fenômeno se explica “provavelmente pela onda de calor” vivida neste período.

Um painel em uma farmácia marca a temperatura de 39°C na quarta-feira, 13 de julho de 2022, em Paris.
Um painel em uma farmácia marca a temperatura de 39°C na quarta-feira, 13 de julho de 2022, em Paris. AP - Thomas Padilla
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O documento, publicado na sexta-feira (2), é apenas uma atualização mensal da mortalidade no país, mas reavivou na memória dos franceses lembranças dolorosas deixadas pelo verão de 2003, um dos mais quentes da história da França. Naquele ano, as altas temperaturas causaram a morte de mais de 14.000 pessoas, a grande maioria idosos.

De acordo com dados provisórios publicados pelo Insee, o número de óbitos por dia aumentou de maneira expressiva em julho deste ano. Em média diária, 1.750 pessoas perderam a vida neste mês, por causas variadas, contra 1.610 em junho. Em 19 de julho, o número de mortes atingiu um pico de 2.098, bem superior ao de julho de 2021, com 1.777 óbitos registrados no dia 23.

O ano de 2022 começou com um índice elevado de óbitos (2.150 em janeiro) devido, em grande parte, à quinta onda da Covid-19, mas foi caindo gradativamente até o verão no hemisfério norte, que começa em junho.

Para o relatório, o Insee comparou os dados de 2022 e 2021 aos de 2019, período anterior à pandemia de Covid-19.

Ondas de calor

Segundo informações do órgão responsável pela saúde pública na França, Santé Publique France, que acompanha a evolução das ondas de calor, o país atravessou três períodos extremos durante o verão de 2022.

O primeiro deles – considerado atípico, por ter começado muito mais cedo do que o normal e pela intensidade – de 15 a 22 de junho, o segundo de 12 a 25 de julho e o terceiro de 31 de julho até meados de agosto. Durante este período foram observados picos de entradas nas UTI.

Um primeiro pico de óbitos foi observado em 19 de junho, superando em 4% o número de mortes na mesma data de 2019. Em julho, os óbitos superam em 13% os do mesmo período de 2019.

Relação entre calor e mortalidade

A relação entre calor e mortalidade fica ainda mais forte se analisados os dados por regiões. As localidades que observaram o mais significativo aumento também são as que mais sofreram com as altas temperaturas, como o oeste, o sudoeste e o sudeste da França.

A Occitânia, onde fica a cidade de Toulouse, superou em 2022 em 19% a média observada de óbitos na região em 2019. Na Provence, o aumento foi de 18% e na Nova Aquitânia, 17%. Todas estas regiões bateram recordes de calor, com temperaturas acima dos 40°C durante vários dias seguidos. Em 19 de junho, por exemplo, a cidade litorânea de Biarritz, cuja temperatura média neste período é de 26°C, chegou a marcar 43°C.

Veranistas em Biarritz, no sudoeste da França, onde as temperaturas chegaram aos 40°C em 18 de junho de 2022.
Veranistas em Biarritz, no sudoeste da França, onde as temperaturas chegaram aos 40°C em 18 de junho de 2022. AP - Bob Edme

Perdas humanas

O relatório do Insee permite ter uma visão de conjunto do período e impacto humano das altas temperaturas. Durante o verão de 2022, 138.522 franceses morreram, o que representa um aumento de 5,7% com relação a 2021 e de 11,6% com relação a 2019.

Na França, o ponto de referência continua sendo o ano de 2003, gravado na memória dos franceses como o mais quente e com o pior impacto humano.

De acordo com os números do Insee, a onda de calor de 2022 parece ter sido mais forte que a de 2003. Mas, segundo o instituto de pesquisa, é necessário observar estes dados com prudência, já que além da onda de calor, em julho de 2022, a França também atravessava a sétima onda de Covid-19. A pandemia matou 704 pessoas na semana de 21 de julho, de acordo com informações de Santé Publique France.

No entanto, os dois fatores não se excluem e, combinados, podem causar mais mortes. As pessoas mais sensíveis ao calor são exatamente os idosos, principais vítimas da Covid-19.  

Adaptação

O Insee também insiste sobre a necessidade de adaptação da França ao aumento das temperaturas. Segundo outro estudo do mesmo órgão, associado ao instituto de meteorologia francês Météo France e publicado em 30 de agosto, o número de dias e noites anormalmente quentes aumentará nas próximas duas décadas, passando de 16 entre 1975 e 2005 para 20.

De acordo com Santé Publique France, um dia ou uma noite anormalmente quentes não constituem, isoladamente, um fenômeno a risco. Mas a multiplicação e a sucessão deles se traduzem em episódios chamados ondas de calor críticas. Neste caso, observar as temperaturas noturnas e diurnas é importante, já que quedas noturnas de temperatura permitem ao organismo melhor suportar o calor do dia, principalmente no caso de pessoas idosas e frágeis.  

“Esses picos de calor fragilizam a saúde das pessoas mais vulneráveis”, diz o relatório. “Principalmente os mais idosos”, aponta o documento. Segundo o estudo, atualmente 14% da população francesa vive em territórios mais predispostos a sofrer estes picos de temperatura.  

Atualmente, 880.000 pessoas de 75 anos ou mais – ou seja 16% dessa população na França – vivem em uma das regiões mais expostas ao calor. Os idosos são um pouco mais numerosos nas zonas de litoral na França que, em geral, são menos expostas a anomalias climáticas. O litoral mediterrâneo, no entanto, onde ficam cidades como Marselha e Nice, é o território metropolitano mais exposto às temperaturas elevadas.

Um funcionário da saúde refresca um residente de uma casa de repouso em Isturitz, sudoeste da França, quarta-feira, 15 de junho de 2022.
Um funcionário da saúde refresca um residente de uma casa de repouso em Isturitz, sudoeste da França, quarta-feira, 15 de junho de 2022. AP - Bob Edme

Precariedade e fragilidade

O documento também ressalta que os territórios franceses mais expostos abrigam quase 1,2 milhão de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Elas moram, muitas vezes, em casas isoladas e trabalham em empregos na construção civil ou na agricultura, particularmente difíceis em períodos de forte calor.

O Insee lembra que a adaptação às altas temperaturas é também um desafio para o setor do turismo. Em 2019, 56 milhões de diárias em hotéis foram registradas no litoral mediterrâneo. Isso representa 18% da frequentação no verão na França.

A população exposta aos dias anormalmente quentes neste período passa a ser mais numerosa. Além disso, de acordo com o Insee, os turistas podem ser mais vulneráveis e menos adaptados ao calor, por não serem da região.

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