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França: auxílios públicos que beneficiam a caça disparam no governo Macron

Os números não deixam dúvidas e comprovam o que ambientalistas vêm alertando há anos: as subvenções concedidas pelo Estado francês ao setor da caça dispararam desde o início do governo do presidente francês, Emmanuel Macron, apreciado publicamente por lideranças dos caçadores. No total, disperso entre diferentes tipos de auxílios, o valor dos benefícios para a Federação Nacional da Caça passou de € 27 mil para € 6,3 milhões.

Caçador caminha com seus dois cachorros em zona de caça na França.
Caçador caminha com seus dois cachorros em zona de caça na França. GettyImages/MattStauss
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Na França, a caça é uma prática tradicional com séculos de história, valorizada pela elite e que se mistura com a política. Já em 2017, em meio a uma polêmica sobre a eventual proibição do costume da “caça presidencial”, Macron defendeu, em uma assembleia geral da federação do setor, que o país “não precisa ter vergonha” de promovê-la.

“Precisamos reconhecer [as caças presidenciais] como um elemento de atratividade. É algo que fascina mundo afora, que representa a cultura francesa”, disse, na época. Entre os conselheiros próximos de Macron, está um lobista profissional da caça.

Já no primeiro ano de mandato do presidente, em 2018, o presidente cortou pela metade o valor cobrado para uma licença para caçar, que passou de € 400 para € 200. O número de caçadores regularizados – ou seja, sócios do tradicional clube – disparou na sequência, elevando as receitas com anuidades a € 28 milhões. Antes, não passavam de € 11 milhões. Estima-se que a França tenha 4 milhões de caçadores, dos quais um quarto possui licença.

“Caçadores sentados em ouro”

Os dados detalhados constam no último balanço de contas da entidade, publicado no Diário Oficial em 8 de agosto, e foram esmiuçados pelo site lanceurdalerte.org. “Nós desconfiávamos há muito tempo que os caçadores estavam sentados em cima de ouro graças ao apoio do Estado. Agora, temos os números”, indignou-se o deputado ecologista Nicolas Thierry, em entrevista ao jornal Le Parisien.

Ele critica a criação de uma “ecocontribuição” de € 10, concedida diretamente pelo Estado à federação por cada nova licença, com o objetivo de financiar projetos de restauração de biodiversidade, e assim, pelo menos em teoria, compensar os efeitos negativos da caça. Essa ajuda levou a entidade a recolher € 10 milhões por ano.

Associações como a Liga de Proteção dos Pássaros denunciam que o dinheiro acaba sendo utilizado em projetos que beneficiam sobretudo a prática da caça, com impacto irrelevante para a recuperação de espécies. A federação rejeita as acusações.

“O governo deu muitos presentes para os caçadores. O novo governo precisa equilibrar melhor as coisas e parar de dizer ‘sim’ a todas as demandas dos caçadores, principalmente as relativas às caças tradicionais”, frisa o ex-deputado Matthieu Orphelin, também ao jornal francês.

Fontes no governo francês disseram ao Le Parisien que “os números podem surpreender, mas eles se explicam pelo fato de que somas elevadas de recursos, que antes eram destinadas às federações regionais de caçadores, agora o são à federação nacional, que passou a ter a "prerrogativa do uso” durante o primeiro mandato de Macron.

(Com informações da AFP)

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