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Novo projeto da Notre-Dame é acusado de transformar catedral de Paris em "Cristolândia" para turistas

A reforma da catedral Notre-Dame, em Paris, parcialmente incendiada em 2019, foi aprovada nesta quinta-feira (9) pela comissão de especialistas da área do patrimônio designados pelo Ministério da Cultura francês. A catedral, que recebia cerca de 12 milhões de turistas por ano antes do incidente, deve ser reaberta em 2024.

Uma vista mostra a Catedral de Notre-Dame de Paris com um guindaste gigante enquanto as obras continuam a reconstruir o telhado e a torre destruída pelo fogo, em Paris, França, 8 de dezembro de 2021.
Uma vista mostra a Catedral de Notre-Dame de Paris com um guindaste gigante enquanto as obras continuam a reconstruir o telhado e a torre destruída pelo fogo, em Paris, França, 8 de dezembro de 2021. REUTERS - SARAH MEYSSONNIER
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Segundo um comunicado duivulgado pelo Ministério, o projeto encomendado pela diocese de Paris deverá reavaliar, entretanto, o local onde serão posicionados os bancos e a as estátuas sagradas do monumento, nas 14 capelas, além de outros detalhes, como o acesso à cripta.

O novo design da Notre-Dame gera debate entre tradicionalistas e defensores da modernização do templo. Uma das polêmicas é a possibilidade de usar móveis contemporâneos na catedral histórica, que tem mais de 850 anos. A nave central, desde a entrada ao coro, também será reformada para dar mais espaço aos turistas e fiéis. A mudança também prevê que os turistas possam observar, ao visitarem o monumento, obras de arte recentes, que foram especialmente encomendadas para a reabertura da igreja.

Frases do Evangelho, traduzidas em inglês, chinês ou árabe também serão projetadas nas paredes do monumento.

"Todas essas transformações radicais são feitas em nome de uma liturgia "inventada", estima Didier Rykner, especialista em História da Arte e um dos signatários de um texto contrário ao projeto assinado por cem personalidades e publicado no jornal Le Figaro nesta quinta.

"A primeira missão da Notre-Dame é receber os cristãos. A Notre-Dame é uma igreja, antes de tudo. Viollet-le-Duc (arquiteto francês que restaurou o monumento no século 19) não teria aprovado essa visão da diocese, que parece se inspirar em uma 'Cristolândia' destinada aos  turistas", diz Pierre-André Hélène, também especialista em História da Arte.

O cônego Gilles Drouin, chefe do projeto de reforma, insiste que o objetivo é "receber o público melhor, sem esquecer "o respeito ao culto" religioso.

Interior da Notre Dame de Paris em 16 de junho de 2021
Interior da Notre Dame de Paris em 16 de junho de 2021 Thomas SAMSON POOL/AFP/Archivos

12 milhões de turistas por ano

A diocese quer aproveitar a restauração da catedral gótica, que teve seu telhado derrubado após o incêndio de 2019, para fazer uma renovação total, antes de sua reabertura, em 2024. A catedral é um dos monumentos mais visitados da França e recebe cerca de 12 milhões de turistas todos os anos.

Os responsáveis pela reforma contataram personalidades da arquitetura contemporânea, como Ernest Pignon-Ernest, conhecido por seu mobiliário urbano, ou artistas como Anselm Kiefer e Louise Bourgeois. Entre as propostas, estão bancos com rodas e um sistema de iluminação.

Plantas do projeto de reconstrução da Notre Dame instalados na abóbada do monumento
Plantas do projeto de reconstrução da Notre Dame instalados na abóbada do monumento Ian LANGSDON POOL/AFP/Archivos

 A Notre-Dame de Paris foi construída ao longo de dois séculos, e sofreu vários incêndios ao longo de sua história. Sua aparência atual se deve em grande parte a uma grande restauração realizada no século 19 por um arquiteto, Eugène Viollet-le-Duc, que também foi responsável por operações semelhantes em todo o país.

Todos os anos, Notre-Dame acolhe 2.400 serviços religiosos e cerca de 150 concertos. A limpeza das capelas permitirá redescobrir as enormes pinturas com motivos bíblicos que foram encomendadas a grandes artistas da época, entre 1630 e 1707, e que foram escurecidas pelo fogo.

Cabeças de estátuas de anjos que despencaram de 30 metros de altura chegaram intactas ao chão
Cabeças de estátuas de anjos que despencaram de 30 metros de altura chegaram intactas ao chão © Courtesy of Dorothée Chaoui-Derieux

(RFI e AFP)

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