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Tradição francesa do beijo no rosto cai em desuso após relaxamento das medidas anticovid

O jornal Le Parisien desta quinta-feira (4) aborda uma tradição francesa que pode estar ameaçada pela pandemia de Covid-19: o beijo no rosto. "Será que podemos voltar a nos cumprimentar com beijinhos?", questiona o diário na manchete de capa.

O jornal Le Parisien desta quinta-feira (4) traz uma reportagem especial sobre a tradição francesa da saudação através de beijos no rosto, que pode acabar devido à pandemia de Covid-19.
O jornal Le Parisien desta quinta-feira (4) traz uma reportagem especial sobre a tradição francesa da saudação através de beijos no rosto, que pode acabar devido à pandemia de Covid-19. © Fotomontagem RFI/ Adriana de Freitas
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"La bise", como os franceses chamam o beijo no rosto para se cumprimentar, faz parte da cultura nacional. Na França, essa saudação não ocorre apenas durante o encontro entre membros da família ou amigos; mas também ao chegar ao trabalho ou às escolas e universidades, entre os colegas. A quantidade de beijos para cumprimentar alguém varia conforme a região do país: em Paris, são dois beijinhos. Em outros lugares, os franceses se cumprimentam com três, quatro ou até cinco beijos.

A epidemia, entretanto, provocou uma mudança de hábito entre os franceses, como lembra o jornal Le Parisien. O distanciamento físico recomendado pelas autoridades sanitárias fez com que o beijo no rosto caísse em desuso. Recentemente, com algumas das restrições flexibilizadas - como a reabertura de locais culturais, bares e restaurantes e a volta presencial ao trabalho e aos estudos - não é incomum ver amigos e colegas se perguntando ao encontrar alguém: "e então, vamos nos cumprimentar com beijos?".

O diário entrevistou o sociólogo Jean-Claude Kaufmann, especialista nesta tradição francesa. Ele acredita que o beijo no rosto não será mais automático como antes. Segundo ele, agora que as pessoas entenderam que a "bise" é sinônimo de transmissão de vírus e bactérias, os beijinhos de cumprimento podem ser reservados aos encontros entre pessoas da família e amigos íntimos, não mais entre colegas de trabalho, estudo ou desconhecidos.

Saudades de beijar

O assunto divide as pessoas entrevistadas pela reportagem do jornal. Helena, de 23 anos, diz que sente falta de cumprimentar os colegas com beijos todas as manhãs, ao chegar ao escritório onde trabalha. Já para Kenza, de 24 anos, a pausa nesta tradição francesa inspira alívio. Segundo ela, perdia-se muito tempo beijando todos os colegas, "além do constrangimento de ter que beijar pessoas com quem não se tem intimidade, como chefes", diz a jovem.

Le Parisien também perguntou ao infectologista Benjamin Davido se a tímida volta deste hábito, depois da flexibilização das restrições, pode ser responsável pelo aumento recente das contaminações de Covid-19 na França. O especialista explica que não há pesquisas ou dados específicos sobre a questão. No entanto, para ele, não há dúvidas que a tradição de se cumprimentar com beijos aumenta o risco de transmissão do vírus, já que os rostos se aproximam e pode haver a projeção de aerossóis de fluidos. 

O infectologista recomenda que, enquanto a crise sanitária durar, o mais prudente é se cumprimentar à distância, tocando os cotovelos ou fazendo uma saudação com a cabeça. Entre as pessoas mais íntimas, Davido sugere que um abraço, de máscara, é mais seguro do que o beijo. Mas, para o especialista, é o conjunto do desrespeito das regras básicas de proteção o responsável pelo aumento dos novos casos de Covid-19.

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